terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Comentário sobre a matéria do "Jornal Hoje" a respeito da morte de Kim Jong Il


A morte de Kim Jong Il fez com que analistas bem pagos pela burguesia manifestassem as mais rasteiras e primárias opiniões sobre a Coréia Socialista.


Mais uma matéria que não se recusa a atacar a racionalidade, cultuar a ignorância, apelar para o preconceito e ao "senso comum". A matéria parece dizer que não pretende estimular o senso crítico e sim somente difundir uma determinada posição ideológica, não se esforçando para parecer imparcial. "Ditador" é usado a vontade e sem explicação, todo tipo de epiteto é conferido a Kim Jong-il, o esforço é realmente grande já que estão tratanto de desmoralizar um homem já falecido."

O anuncio na TV norte-coreana foi feito de forma emocionada. A apresentadora chorou. Em um país onde toda a informação é controlada pelo governo, fica difícil saber o que aconteceu exatamente. Segundo a imprensa oficial, Kim Jong-il morreu no sábado de um ataque cardíaco, enquanto fazia uma viagem de inspeção no interior do país."

O que aconteceu exatamente? Se ele morreu por inteiro ou só pela metade? A oração é formulada de forma que contenha a ideia de que o "governo controla tudo", mesmo que isso seja vago e quase metafisico, quer maniipular, logo no primeiro paragrafo, a sua posição acerca do regime. Uma frase mais adequada e racional, seria, por exemplo, "num país onde a grande imprensa é controlada pela oligarquia", para se referir ao Brasil. De qualquer forma provavelmente a questão da informação numa República em Montesquieu e Rousseau é ignorada pelo autor que já começa dizendo o que você tem que pensar: "o governo controla tudo, isso é mau!"

O ditador estava em seu luxuoso trem, já que tem medo de viajar de avião. A TV estatal chinesa, uma das poucas que têm acesso ao país, mostrou norte-coreanos aos prantos depois do anúncio da morte. Eles são levados a crer que Kim Jong-il é quase um ser sagrado. Segundo a versão oficial, no dia em que ele nasceu surgiram dois arco-íris e uma nova estrela no céu.”

Notem nos factoides irrelevantes que tentam moldar seu cérebro, "luxuoso trem", "medo de avião".... eis aqui o suprassumo da Lógica aristotélica expressa neste silogismo: ele tem medo de aviao, logo estava em seu luxuoso trem. Não ocorre ao autor que Kim Jong-il podia estar percorrendo uma distância curtíssima(ou mesmo em escala nacional) ou que nenhum líder mundial anda de carroça(nem Dalai Lama), e claro, se Kim Jong-il andasse certamente Roberto Kovalick não chamaria isso de virtude e sim de "atraso da ditadura comunista".  "Eles são levados a crer", sim, no "totalitarismo maligno" as pessoas são levadas a crer, nisso e naquilo, como somos sortudos, "podemos escolher"! Livres somos nós, no inferno moram os outros. Até B. R. Myers, que é antes de tudo especialista em literatura norte-coreana, deixa bem claro em seu estudo pouco amigável a Coreia do Norte que os líderes não são apresentados como seres divinos e que conceber isso inclusive VAI CONTRA OS FUNDAMENTOS IDEOLÓGICOS DO CULTO À PERSONALIDADE que consistem em apontar o "bom coreano". O que o sr. Roberto Kovalick chama de "versão oficial" foi uma alegoria folclórica publicada num jornal coreano de 1996 que dizia que qunado Kim Jong-il nasceu arco-íris pairaram sob o Paektu.

"Herdeiro de uma das mais brutais ditaduras do mundo, Kim Jong-il comandou a Coreia do Norte por 17 anos, período em que milhões de pessoas morreram de fome e oposicionistas foram mandados para campos de trabalho forçado. Tornou-se temido na Ásia por ter mandado fazer testes atômicos e de foguetes."

Roberto Kovalick tem que se decidir: totalitarismo de proporções religiosas ou ditadura brutal? Bom, só sei que nem por um lado nem por outro ele fornece explicações, ele simplesmente mastiga tudo para você e te fornece "grandes verdades", a você cabe somente aceitar. "período em que milhões de pessoas morreram de fome e oposicionistas foram mandados para campos de trabalho forçado.” Apesar da ausência de fontes, realmente, nesse período milhões de pessoas morreram de fome em todo o mundo, especialmente na África.... também a RPDC sofreu com tal problema devido ao duro cerco inimigo somada a queda da divisão internacional do trabalho socialista e desastre naturais no período de 1996-97, felizmente o "querido dirigente camarada Kim Jong-il" ao invés de submeter o alimento às flutuações da especulação fez um duro racionamento que permitiu que todos comessem, fora o fato de que sua política de inserir os militares em funções produtivas foi útil para recuperar o país e até mesmo desenvolve-lo(nota: o racionamento já acabou).

"O ditador tinha 69 anos e também era motivo de piada por causa da aparência: cabelo sempre espetado, óculos grandes demais, roupas esquisitas e sapatos plataforma para ficar menos baixinho.”

Motivo de piada para quem? Para os gurus da Globo que querem decidir o que eu acho engraçado ou não? Bom, vou me contentar em só contemplar essa frase de teor altamente informativo, apesar de que a "roupa esquisita" de Kim Jong-il é extremamente comum na Coreia do Norte à base de Vinalon e dos norte-coreanos estarem numa média de altura similar a de Kim Jong-il. Provavelmente esse é um artigo sobre moda...

"Apesar do país ser uma ditadura comunista, Kim Jong-il gostava mesmo é do que o capitalismo tem a oferecer. O ditador adorava comida refinada e tinha uma adega com 10 mil garrafas de vinho francês. Uma cinemateca com 20 mil filmes ocidentais. Era fã da série Rambo e Sexta-Feira 13 e 007. Neste último caso, segundo a imprensa sul-coreana, ele perdeu o interesse depois que a Coreia do Norte foi retratada como vilã no filme Um Novo Dia Para Morrer. Os nossos jornalistas são interessantes, vivem falando de como é difícil saber qualquer coisa sobre a sociedade norte-coreana e, segundo Roberto Kovalick, até a noticia da morte de Kim Jong-il é nebulosa. Não obstante eles sabem todos os "hobbys capitalistas" (sic), estoque de vinhos, gostos e filmes favoritos do "ditador do país mais fechado do mundo"(sic). Antes de usar o termo capitalismo(que é uma categoria marxista) Roberto Kovalick deveria compreender que este se trata de um conjunto de relações de produção, que, "comida refinada" é produto do trabalho do homem, trabalho que pode se inserir em diversos tipos de relação capitalistas ou não - comunismo seria um movimento pela extinção dessas relações e o estabelecimento de outras("elações de produção socialistas)."Foi por causa dessas excentricidades da família que o poder agora vai parar nas mãos do filho mais novo, Kim Jong Un. O mais velho, herdeiro natural, perdeu o direito depois de ser preso no Japão por tentar entrar no país com passaporte falso. Ele queria visitar a Disneylândia de Tóquio sem ser identificado. Mais uma pérola aristotélica do sr. Kovalick, deixe-me ver se entendi: Kim Jong-il é um baixinho feio que gosta de 007 e vinhos francês("excêntrico"), LOGO o poder agora vai parar nas mãos de Kim Jong-un. Como o sr. Kovalick se limita a nos presentear com sua sabedoria acabada, permitam-me explicar melhor que não se trata de uma "sucessão monárquica" e sim de um conjunto de manobras políticas e adminisitrativas que colocaram Kim Jong-un no poder - movimentações do mesmo tipo podem tira-lo - , isso para não falar das próximas eleições.

Kim Jong Un tem 27 ou 28 anos e é considerado jovem demais. A Ásia teme que o herdeiro do ditador tente dar uma demonstração de força para unir o país em torno dele, ameaçando ou atacando um país vizinho.

Para finalizar a personificação metafisica de "a Ásia que teme" (o maior país da Ásia é aliado da Coreia do Norte).O texto só reforça o que sempre podemos ver: a Globo não quer que você pense, não quer que você aprenda, não quer que você critique; ela faz tudo isso por você.

André Ortega - Editor do Blog de Solidariedade a Coréia Popular