quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CEIJ realiza estudo sobre obra “Avancemos sob a Bandeira do Marxismo-Leninismo e da Ideia Juche”

Kim Jong Il dirige o VI Congresso do Partido do Trabalho da Coreia,
em outubro de 1980 

Foi realizada, na última quarta-feira (27/11/2013), uma reunião do Centro de Estudos da Ideia Juche em que foi lida a obra Avancemos sob a Bandeira do Marxismo-Leninismo e da Ideia Juche. Após a leitura, foram feitas anotações e discussões entre os membros sobre a obra em questão.

O artigo Avancemos sob a Bandeira do Marxismo-Leninismo e da Ideia Juche foi escrito em 5 de maio de 1983 pelo dirigente Kim Jong Il, por ocasião do centenário do falecimento e do aniversário de 165 anos de Karl Marx, fundador do comunismo e primeiro grande líder da classe operária internacional.

O dirigente Kim Jong Il trata do Marxismo, primeiramente, a partir de suas três fontes constitutivas da economia política, da filosofia e do socialismo. Desenvolvendo o artigo, Kim Jong Il demonstra que Marx e Engels foram os primeiros líderes a elaborar as diretrizes teóricas para dar um correto caminho para a luta da classe operária em emergência a nível internacional. Graças ao desenvolvimento do Marxismo, a classe operária foi capaz de conhecer de maneira científica os fins gerais de sua luta, a necessidade de sua organização num partido revolucionário para lutar contra a burguesia e derrubar o capitalismo, estabelecer a ditadura do proletariado, destruir pela base toda a exploração e opressão, e completar a missão histórica de conquistar a sociedade sem classes, a sociedade comunista. Lenin, continuando a causa revolucionária do proletariado iniciada por Marx e Engels, desenvolveu o Marxismo em ressonância com as novas condições da época do imperialismo e das Revoluções proletárias, dirigindo na Rússia a Revolução Socialista de Outubro e fundando, em 1917, o primeiro Estado de ditadura do proletariado no mundo.

A Revolução Socialista de Outubro exerceu enorme influência no movimento revolucionário de libertação nacional nos países coloniais e semicoloniais. E, como não poderia deixar de ser, também na Coreia, então oprimida pelo imperialismo japonês.

Kim Jong Il ensina que o camarada Kim Il Sung, liderando a Revolução Coreana sob a bandeira do Marxismo-Leninismo, concebeu a Ideia Juche de maneira intrínseca à luta por aplicar o Marxismo-Leninismo às condições concretas de seu país. À medida que o movimento comunista se desenvolvia a nível mundial, era necessário que cada povo de seu próprio país levasse à cabo sua luta de maneira independente, sem copiar realidades alheias, e contribuindo com a Revolução Mundial avançando com a luta revolucionária em seu próprio país. Partindo de tal entendimento, Kim Il Sung concebe a Ideia Juche como um princípio que, em síntese, significa que as massas populares são donas da Revolução, e a força motriz da Revolução e do processo construtivo. Sendo as massas populares as donas da Revolução e da construção, a Revolução avança à medida que se eleve o papel das mesmas como forças motrizes da Revolução.

Durante todo o curso do processo revolucionário e construtivo, os comunistas coreanos utilizaram a Ideia Juche para resolver problemas concretos que apareciam no decorrer da prática, sempre se atendo ao princípio de se apoiar nas massas e resolver os problemas partindo tão somente de suas demandas. Também na época do estabelecimento do poder democrático popular no norte da Coreia e da edificação socialista, por meio dos princípios da Ideia Juche, foi-se possível construir um Estado socialista autossuficiente na economia, independente na política e autossustentado em matéria de defesa nacional.

O dirigente Kim Jong Il, em tal artigo, estabelece também alguns componentes da linha geral do Partido do Trabalho da Coreia para a construção do socialismo: 1) Continuar a Revolução socialista sob a ditadura do proletariado na forma das Três Revoluções, técnica, ideológica e cultural, priorizando a Revolução ideológica que consiste em transformar todos os membros da sociedade segundo a ideologia da classe operária; 2) Com base no avanço das Três Revoluções, destruir as sobrevivências da velha sociedade que se manifestam nas velhas ideologias, culturas e costumes burgueses e feudais, sobrevivências as quais se entrelaçam com as diferenças entre operários e camponeses (portanto, entre cidade e campo, entre trabalho industrial e trabalho agrícola), entre o trabalho manual e trabalho intelectual, e entre as duas formas de propriedade socialista (de todo o povo e cooperativa, as quais se diferenciam pelo maior grau de socialização da primeira forma); 3) O papel do Partido da classe operária como Estado Maior da Revolução Socialista na época da ditadura do proletariado, onde este deve estar à frente de todo o processo construtivo na economia, na política e na cultura, ampliando cada vez mais seus vínculos com as massas e mobilizando-as para cumprir as tarefas da Revolução, utilizando-se dos corretos métodos de trabalho, avessos a todo tipo de autoritarismo e burocratismo, de ir às massas e compreender suas demandas concretas para resolvê-las.

Ao tratar da questão internacional, Kim Jong Il fala sobre a grande batalha travada pelo Partido do Trabalho da Coreia pela reunificação do país de maneira pacífica e sem intervenção estrangeira, pela força e vontade dos próprios compatriotas, em que pesem as dificuldades impostas pelo imperialismo norte-americano e camarilha reacionária sul-coreana. Evidencia a necessidade da unidade entre os partidos comunistas e operários do mundo com base na independência, não interferência em assuntos internos, e no anti-imperialismo.

Após a reunião, formou-se um consenso entre os membros do Centro de Estudos da Ideia Juche de se continuar a estudar obras dos líderes da República Popular Democrática da Coreia, Kim Il Sung e Kim Jong Il, e contribuir para a divulgação dos mesmos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Títeres sul-coreanos não devem esquecer da derrota em Yonphyong, declara comando da Frente Sudoeste do Exército Popular da Coreia

Pyongyang, 22 de noviembre (ACNC) -- El portavoz de la Comandancia del Frente Sudoeste del Ejército Popular de Corea hizo pública hoy la siguiente declaración:

El 23 de noviembre de hace 3 años, estremeció la zona candente del frente sudoeste el fuego artillero de justicia contra los provocadores que abrieron primero el fuego.
    
El contragolpe inmediato de los oficiales y soldados del frente sudoeste del EPC, que envolvió en llamas la isla Yonphyong, fue un suceso bravo que demostró a todo el mundo que la RPDC no perdona a los que la atacan y cuán caro les cuesta la provocación.
    
El temerario acto provocador de los títeres surcoreanos fue detonante del incidente de fuego artillero en la isla Yonphyong.
    
En pleno ejercicio militar anti-RPDC "Hoguk", ellos anunciaron oficialmente que librarían el 23 de noviembre un aventurero entrenamiento de artillería en la isla Yonphyong que significaba una amenaza a las aguas jurisdiccionales de la RPDC.
    
El EPC envió de inmediato un aviso que les exigió actuar con prudencia condenando su siniestra intención de mantener la gangsteril "línea de límite al Norte".
    
Pero, los títeres surcoreanos, enloquecidos por provocar, desoyeron el reiterado aviso previo de la RPDC y se atrevieron a disparar hacia el mar jurisdiccional de ésta.
    
Nuestra paciencia también tiene su límite.
    
Comenzó a la vez el fuerte contraataque de nuestros valientes oficiales y soldados del frente sudoeste.
    
Los proyectiles cayeron como lluvias en la isla Yonphyong, antro de los provocadores.
    
En un abrir y cerrar de ojos, la isla se convirtió en un mar de fuego.
    
Se produjeron bajas y lesionados entre los efectivos del ejército títere surcoreano y los sobrevivientes huyeron en busca de refugios.
   
Los cuarteles y puestos de mando del ejército títere, la estación policíaca y los demás establecimientos militares y policiales se redujeron a cenizas mientras diversos medios de artillería, inclusive los cañones de tiro parabólico K-9 y los radares, se hacían chatarras.
    
Espantado por el golpe de represalia, el círculo militar surcoreano remitió al EPC un aviso suplicando el paro de fuego.
    
Esto significó el acta de capitulación sin precedente en la historia de relaciones íntercoreanas.
    
Se conoció después que tan pronto como recibiera el informe del incidente, el traidor Lee Myung Bak se refugió apresuradamente en el sótano de Chongwadae (Casa Azul) instruyendo frenar la "ampliación de batalla".
    
En tanto, Kim Kwan Jin, ministro títere de Defensa Nacional, reconoció en un lugar público que el incidente fue una "herida muy dolorosa que no se puede olvidar" y "antecedente que dio una decepción demasiado grande".
    
En esa batalla de justicia, el ejército y el pueblo de la RPDC demostraron que no perdonan ni un ápice a los que se atreven a atentar contra nuestra soberanía y dignidad.
    
Fue justo que los oficiales y soldados del frente sudoeste hayan asestado un golpe demoledor a los provocadores que lanzaron primero los proyectiles hacia las aguas jurisdiccionales de la RPDC.
    
El incidente fue una batalla de venganza de los defensores de la soberanía que enseñaron claramente a los belicistas de la capa militar títere cuán les cuesta la absurda provocación.
    
Devino también la explosión de ira acumulada del ejército y pueblo coreanos por la imprudente provocación de los maníacos de confrontación fratricida.
    
En aquel entonces, tal furia se reflejó en las ráfagas de venganza que redujeron a cenizas la isla Yonphyong.
    
Para la RPDC, el intercambio de fuego artillero en la isla Yonphyong fue un triunfo orgulloso que hizo alarde a todo el mundo del poderío del ejército heroico y revolucionario del monte Paektu que no sufrió entonces ni una sola baja ni la pérdida de ninguna arma.
    
Durante la batalla, los oficiales y soldados del frente sudoeste combatieron junto con los habitantes locales y después del paro de fuego, compartieron la victoria aplastante coreando vivas en las cimas de montes y hasta sobre los tejados del poblado.
    
En contraste, se ha dado una escena de ruina en la isla Yonphyong.
    
Los isleños y hasta los oficiales y soldados del ejército títere surcoreano intentaban la fuga para liberarse del pánico y pesadilla, de tal modo que fuera bloqueada hasta la ancha ruta marítima hacia Inchon.
    
En vez de aprender la lección, desde el año pasado, los títeres engañan la opinión pública como si el incidente fuera estallado por el "acto provocador" de la RPDC y realizan hasta el "acto conmemorativo" anti-RPDC describiendo su derrota como "victoria".
    
Todos los países y naciones de este mundo celebran y festejan las victorias, pero, los títeres surcoreanos son los únicos que "conmemoran" su derrota pintándola como "triunfo".
    
¡Qué miserables son ellos!
    
Park Geun-hye y sus compinches son idénticos al traidor Lee Myung Bak con un índice de intelectualidad de 2MB.
    
Park y su horda deben aprender la lección de su derrota vergonzosa sufrida en la isla Yonphyong.
    
El ejército y pueblo coreanos, en particular los oficiales y soldados del frente suroeste mantienen la invariable voluntad y determinación de no perder nunca la oportunidad si los títeres vuelven a cometer tal provocación.
    
Hace 3 años, el fuego de venganza se limitó a la isla Yonphyong, pero esta vez sus blancos serán todos los bastiones de los títeres surcoreanos, inclusive Chongwadae.
    
Para tomar desquite de su derrota, ellos anuncian ahora que reforzaron los medios de ataque de la isla Yonphyong con el despliegue adicional de los lanzacohetes reactivos, el radar sofisticado anti-artillería, el helicóptero de ataque Cobra y los misiles Spike. Además, para dar la impresión de que se puede protegerse del ataque de la RPDC, dicen que fue concluida la obra de "fortificación" de primera etapa en las 5 islas del Mar Oeste de Corea.
    
Pero, este anuncio es una tontería de quien trata de defenderse de la avalancha de obuses con un simple paraguas.
    
Ellos deben darse clara cuenta de que todos esos medios serán liquidados en un instante ante el ataque militar sin precedente del EPC.
    
No deben olvidar ni un momento que si se repite la provocación imprudente, el conflicto armado de la isla Yonphyong se extenderá a la batalla para arruinar Chongwadae y a la guerra de reunificación.
    
Si los títeres se abalanzan imprudentemente contra la RPDC olvidando la lección amarga de la isla Yonphyong, no evitarán un fin trágico.
    
La victoria será siempre del potente ejército revolucionario del monte Paektu, defensor de la justicia. 

sábado, 23 de novembro de 2013

Entender e Defender a Revolução Coreana

Publicamos a seguir uma excelente entrevista à Yongho Thae, Embaixador da República Popular Democrática da Coreia na Inglaterra, publicada no blog Invent the Future e traduzida pelos camaradas do Centro do Socialismo.

Nota dos Editores (Centro do Socialismo): Yongho Thae é o embaixador norte-coreano na Inglaterra. Abaixo, traduzimos uma entrevista cedida por ele em Outubro a Carlos Martinez. Nela, o entrevistado trata de diversos temas que ainda causam polêmica em todos os lugares do mundo, como o programa nuclear da Coréia Popular, sua estrutura de Estado e sociedade, a Guerra Contra a Síria, a atual conjuntura latino-americana, etc.

Julgamos importante a tradução e publicação desse texto no Brasil e demais países de língua portuguesa por conta de uma experiência que vivemos recentemente.

É fato que, em totalidade, o público de nossa página e nosso blog declara-se anti-imperialista. No entanto, em Abril desse ano, quando ocorreu a tensão militar entre a Coréia do Norte e o imperialismo estadunidense, ao defendermos intransigivelmente a Coréia Popular, fomos repudiados por parte de nossos seguidores. 

Stalinismo ou não, o fato é que o regime imperialista mundial quer se apoderar da Coréia do Norte para calar qualquer voz de oposição ao capitalismo e à escravidão assalariada, ou até mesmo à dominação imperialista mundial. Defender a Coréia Popular é uma questão de princípios, não de adesão total e acrítica às posições do governo coreano. Afinal, foi o próprio Trotsky quem disse: "Stálin derrubado pelo imperialismo, é a contrarrevolução que triunfa".

Esperamos que o presente texto reacenda o debate acerca da ingerência imperialista contra a Coréia Popular, e, principalmente, esperamos que ele possa servir para auxiliar nossos seguidores no objetivo auto-declarado do mesmo: entender e defender a Coréia do Norte. 

ENTENDER E DEFENDER A CORÉIA DO NORTE

CM: A narrativa da mídia ocidental afirma que o programa nuclear da RDPC [República Popular Democrática da Coréia, Coréia do Norte - N. do Editor] é uma grande ameaça à paz mundial. Por que a RDPC possui armas nucleares?

YT: Quando a imprensa ocidental comenta o programa nuclear da RDPC, ela nunca fala sobre as principais razões por trás de tal programa. A mídia só está interessada em justificar as agressões dos EUA. Ela quer que as pessoas permaneçam cegas à lógica básica de nossa posição. Nossa política é simples e fácil de ser compreendida: nós precisamos de uma dissuasão nuclear.

Antes que eu entre nesta questão, eu gostaria de esclarecer que a desnuclearização da península coreana ainda faz parte das políticas da RDPC. Nossa política sempre foi a de salvaguardar nosso país da ameaça de uma guerra nuclear. Mas para alcançar esse objetivo não tivemos escolha senão a de desenvolver nossas próprias armas nucleares.

Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA eram o único país do mundo que possuía armas nucleares. Com o objetivo de avançar com sua estratégia de dominação global, o governo americano decidiu utilizar bombas atômicas no Japão. Os fatos demonstram que não havia razão alguma para usar tais armas naquela situação. Na Europa, em maio de 1945, Hitler foi derrotado e a guerra chegou ao seu fim. No Pacífico, a maré já havia virado completamente contra o Imperialismo japonês. Era óbvio que o exército soviético entraria na guerra contra o Japão [Nota do tradutor: o Exército Vermelho entrou na guerra contra o Japão. A Operação “Tempestade de Agosto” destruiu todas as posições japonesas na Ásia continental em questão de duas semanas mais ou menos. Ajudando a libertar a Coréia, inclusive.], e o Japão já estava perdendo a guerra contra os EUA. Era apenas uma questão de tempo até que o esforço de guerra japonês entrasse em colapso. O Japão não iria conseguir vencer as forças combinadas da União Soviética, Europa, China e EUA, e por isso estavam buscando uma maneira de sair do conflito. Não havia absolutamente motivo algum para os EUA utilizarem suas armas nucleares. Dentro do establishment [Nota do tradutor: não há tradução correlata em português. A palavra refere-se às instituições mais poderosas de um país, tanto privadas quanto públicas. Seria uma organização que abrange as mais importantes figuras das classes dominantes] americano houve discussões encarniçadas sobre o uso ou não das bombas atômicas. A população do mundo não compreendia o verdadeiro poder destrutivo destas armas – apenas os líderes americanos sabiam. Eles queriam que o mundo visse o quão poderosas as bombas eram, para que então todas as nações fossem obrigadas a seguir os ditames da política dos EUA. Com esta meta em mente, as autoridades norte-americanas não levaram em conta a quantidade de vidas que seriam ceifadas. Para eles, as vidas de cidadãos comuns do Japão eram como as vidas de animais, de cachorros. Eles matariam o tanto que pudessem para favorecer seus interesses geopolíticos.

Então os EUA lançaram as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Mais tarde, a URSS também desenvolveu suas armas nucleares. Com o passar do tempo o arsenal nuclear soviético passou a contrabalancear a possibilidade do uso de armas nucleares por parte dos Estados Unidos. Esta é a principal razão a qual os EUA não puderam usar tais armas na segunda metade do século XX. Mais tarde o clube nuclear foi expandido, passando a incluir China, Inglaterra e França. Em termos de paz mundial como um todo, o aumento do clube nuclear pode ser visto intuitivamente como uma coisa ruim, mas a verdade é que a China e a União Soviética, por possuírem também armas nucleares, foram capazes de restringir o uso destas pelas outras nações. Eu acho que este é um fato que deveríamos admitir.

Em relação à Coréia, você sabe que a Coréia é logo ao lado do Japão. Muitos japoneses viveram na Coréia, pois a Coréia era colônia do Japão. Nosso aparelho midiático era comandado pelos japoneses. Então quando Hiroshima e Nagasaki foram bombardeadas, nós ouvimos sobre e entendemos muito bem a escala do desastre. O povo coreano entendeu muito bem o tanto de pessoas que foram mortas em um espaço de tempo de apenas um minuto. Então o povo coreano teve uma experiência bem direta de guerra nuclear.

A Guerra da Coréia começou em 1950. Os americanos pensaram que poderiam vencer facilmente a guerra, porque eles possuíam as armas convencionais mais avançadas e haviam mobilizado 16 países satélites para o esforço. Nessa época a China havia acabado de ser libertada – a República Popular da China tinha apenas um ano. Enquanto isso, a URSS ainda estava se recuperando da vasta destruição causada pela Segunda Guerra Mundial. Portanto, os EUA pensaram que venceriam facilmente a Guerra da Coréia. Entretanto, eles acabaram descobrindo que tal arrogância fora um equívoco. De fato, a Guerra da Coréia foi a primeira guerra a por em cheque as ambições dos Estados Unidos.

O Exército Popular da Coréia e os voluntários chineses lutaram com incrível força contra os EUA. Do ponto de vista dos americanos, esta guerra era uma guerra contra o comunismo. Porém os comunistas detinham total apoio das populações da Coréia e da China. Ambas nações eram basicamente rurais e as pessoas eram motivadas pela ideia de conseguir suas próprias terras. Foi o Partido Comunista – O Partido do Trabalho da Coréia – que distribuiu as terras igualmente a todos os fazendeiros. Então o PTC tinha o apoio incondicional das massas que participaram da Guerra da Coréia. Eles sabiam da situação de de seus irmãos e irmãs na Coréia do Sul – dominados pelos latifundiários e pelos interesses dos EUA – e entendiam que se a RDPC perdesse a guerra, o poder dos grandes proprietários de terra seria restaurado e a reforma agrária seria revertida. Esta é a razão pela qual o povo comum da Coréia se envolveu no conflito. Todos se envolveram e ninguém hesitou em fazer os mais árduos sacrifícios.

Quando Einsenhower percebeu que a guerra não estava seguindo de acordo com os planos, perguntou aos seus assessores: como podemos vencer a guerra? Os generais americanos sugeriram o uso de uma ameaça nuclear. Eles imaginaram que se avisassem à população que eles iriam lançar uma bomba atômica no país, as pessoas fugiriam do front. Por terem testemunhado os efeitos da guerra nuclear há apenas cinco anos, milhões de pessoas fugiram da Coréia do Norte e foram para o sul. O resultado desta ação foi que até hoje ainda há 10 milhões de famílias separadas na Coréia.

Então você pode ver que o povo coreano é vítima direta de agressões nucleares – muito mais que qualquer outro povo do mundo. A questão nuclear não é uma questão abstrata para nós, é algo que temos de encarar com muita seriedade.

Depois da Guerra da Coréia os EUA nunca pararam com sua política hostil contra a Coréia. Atualmente eles dizem que não podem normalizar as relações com a RDPC porque nós possuímos armas nucleares. Porém nas décadas de 60, 70 e 80 nós não possuíamos armas nucleares – e eles normalizaram as relações? Não. Em vez disso eles continuaram a tentar dominar a península coreana com suas forças militares. Foram os EUA que introduziram armas nucleares na península coreana. Nos anos 70 eles posicionaram armas nucleares na Europa e também na Coréia do Sul com o objetivo de restringir a influência da União Soviética. Os Estados Unidos nunca pararam de ameaçar a RDPC com essas armas que estavam bem no nosso quintal, apenas do outro lado da zona desmilitarizada. A Coréia é um país bem pequeno com uma grande densidade populacional. O quadro então é bem claro: se os EUA utilizassem suas armas nucleares a escala da catástrofe humanitária seria inimaginável.

O governo da RDPC teve então que desenvolver uma estratégia que fosse capaz de prevenir os EUA de usarem suas armas nucleares contra nós. Na década de 70 houve discussões entre as grandes potências sobre como se poderia prevenir uma guera nuclear. As cinco grande potências então decidiram pela  não-proliferação de armas nucleares. Apenas estes cinco países teriam permissão para possuir armamentos nucleares, os outros ficariam sem.  O Tratado de Não-Proliferação (TNP) foi realizado na década de 70. Ele afirma claramente que potências nucleares não podem utilizar suas armas nucleares com o objetivo de ameaçar nações não-nucleares. Então a RDPC pensou que ao assinar o TNP as amaças nucleares por parte dos EUA cessariam. Portanto assinamos o tratado. No entanto, os Estados Unidos nunca abandonaram seu direito de lançar um ataque nuclear preventivo. Os EUA sempre afirmaram que se seus interesses fossem ameaçados eles teriam sempre o direito de lançar ataques nucleares preventivos para salvaguarda-los. Logo é bem óbvio o fato de que o TNP não pode assegurar a nossa segurança. Com base nesta situação, nós decidimos nos retirar do TNP e formular uma estratégia diferente para nos proteger.

A conjuntura mundial mudou após o 11 de Setembro de 2001. O Presidente Bush afirmou que, caso os Estados Unidos quisessem se manter seguros, deveriam remover os países do ‘Eixo do Mal’ da face da terra. Os três países listados como ‘Eixo do Mal’ foram Irã, Iraque e Coréia do Norte. Bush disse que os EUA não hesitariam em usar armas nucleares para eliminar este mal. Acontecimentos desde então provaram que esta não era apenas uma ameaça retórica – eles realmente realizaram tais ameaças contra o Afeganistão e o Iraque [Nota do tradutor: ele se refere ao uso de projéteis e munições de Urânio Empobrecido por parte das forças armadas dos EUA].

Voltando à Coréia do Norte, houve um acordo bilateral entre a administração de Clinton e a RDPC em 1994, mas a administração de Bush cancelou o acordo, argumentando que a América não deveria negociar com o mal. Os neoconservadores disseram que ‘estados malignos’ deveriam ser destruídos pela força. Tendo testemunhado o que ocorreu com o Afeganistão e o Iraque, percebemos que não poderíamos por um fim às ameaças americanas com base em armas convencionais apenas. Então nós percebemos que precisávamos de nossas próprias armas nucleares para proteger nosso povo.

Somada a questão da ameaça nuclear direta, devo apontar que também há a questão do ‘guarda-chuva’ nuclear. Os EUA estendem seu guarda-chuva nuclear sobre seus aliados como, por exemplo, a Coréia do Sul, o Japão e os países membros da OTAN. Mas a Rússia e a China não estão dispostos a abrir um guarda-chuva nuclear a outras nações, principalmente porque têm medo da reação dos Estados Unidos. Nós percebemos que nenhum país nos defenderia das armas nucleares americanas, portanto chegamos à conclusão de que deveríamos desenvolver as nossas próprias armas nucleares.

Nós podemos dizer que a escolha pelo desenvolvimento de nossa própria força de dissuasão nuclear foi uma decisão correta. O que aconteceu com a Líbia? Quando Kadafi quis melhorar as relações da Líbia com os EUA e o Reino Unido, os imperialistas disseram que ele deveria desistir de seus programas militares para atrair investimentos internacionais. Kadafi até afirmou que iria visitar a RDPC para nos convencer a desistir de nosso programa nuclear. Porém quando a Líbia desmontou todos os seus programa nucleares e isto foi confirmado pela inteligência ocidental, o ocidente mudou seu tom. Isto levou a uma situação na qual Kadafi não podia proteger a soberania da Líbia, ele não podia proteger nem mesmo sua própria vida. Esta foi uma importante lição histórica.

A RDPC quer se manter segura. Nós pedimos para os EUA abandonarem sua política hostil, suas ameaças militares, pedimos para normalizar as relações com a RDPC, para substituir o armistício por um tratado de paz. Apenas quando a ameaça militar americana à RDPC for removida, quando mecanismos de garantia da paz forem estabelecidos na península coreana, é que poderemos conversar sobre desistir de nosso arsenal nuclear. Em outras palavras, os EUA deveriam levar esta questão a sério, os americanos deveriam ter uma abordagem positiva para resolvê-la.

Nós temos orgulho pelo fato de conseguirmos ter evitado outra guerra, mesmo com toda a enorme presença militar americana no nordeste asiático e na península coreana. A máquina de guerra dos EUA nunca pára. Vietnã, Afeganistão, Iraque, Líbia e a agora a Síria... Todos os dias centenas de pessoas inocentes morrem devido à política imperialista implantada pelos EUA. Mas depois do fim da Guerra da Coréia em 1953, a RDPC foi capaz de manter a paz na península coreana e consideramos isto uma grande conquista.

CM: Vocês estavam esperançosos que, com a eleição de Barack Obama, a posição dos EUA em relação à Coréia Popular melhoraria?

YT: Bem, a política de Obama é diferente da de Bush e dos conservadores. Em vez de resolver estes problemas diretamente, ele os está movendo para uma posição de ‘abandono estratégico’. Obama quer deixar a questão do jeito que está em vez de dar passos concretos para melhorar a situação. A administração atual afirma que há muitas questões pendentes para os Estados Unidos resolverem.

CM: Ultimamente ocorreram algumas visitas interessantes à RDPC como, por exemplo, a de Eric Schmidt, CEO do Google, e também a de Dennis Rodman, o astro do basquete. Será que estas visitas indicam – mesmo que de forma bastante frágil – que há algumas pessoas dentro dos círculos dominantes dos EUA que estão interessadas em melhorar as relações com a RDPC?

YT: É muito difícil dizer se tais visitas terão um efeito positivo. O que a RDPC quer é transmitir ao povo americano que a RDPC está sempre disposta a discutir e resolver os problemas, que a RDPC quer melhorar as relações com os EUA, que a RDPC não considera os EUA como seu inimigo permanente. Nós esperamos que estas visitas de cidadãos americanos proeminentes ajudem a transmitir estas mensagens.

CM: E quanto às outras potências imperialistas (por exemplo, Inglaterra, França, Austrália ), elas apresentam posições mais construtivas em relação à RDPC ou elas seguem a liderança dos EUA?

YT: Há algumas diferenças de posição. Por exemplo, o governo dos EUA nunca reconheceu diplomaticamente a RDPC como um país soberano, enquanto alguns dos aliados dos americanos como a Inglaterra e a Austrália reconhecem, sim, nossa existência. Estes países apoiam uma política de conversação com a RDPC.

CM: E os EUA ainda mantém armas nucleares na Coréia do Sul?

YT: É muito difícil de se dizer com certeza, porque as armas nucleares dos EUA são muito mais sofisticadas e modernizadas se comparadas com as das década de 70 e de 80. Eles possuem mais submarinos nucleares. Eles possuem armas que são menores e mais difíceis de detectar. Então é difícil dizer se há armas nucleares permanentemente estacionadas na Coréia do Sul. Porém é bastante óbvio que armas nucleares americanas visitam a Coréia do Sul com certa regularidade. Recentemente, os EUA fizeram exercícios militares conjuntos com o Japão e a Coréia do Sul. Com o intuito de participar de tais exercícios, o porta-aviões americano George Washington permaneceu no porto sul-coreano de Busan por três dias. Que tipo de aviões são carregados pelo George Washington? Caças e bombardeiros que podem lançar facilmente bombas nucleares na península coreana.

Em março deste ano (2013), os EUA introduziram bombardeiros B-52 na península coreana para exercícios militares, simulando bombardeios nucleares sobre a Coréia do Norte.

A política dos EUA é de nem confirmar ou negar se eles tem ou não tem armas nucleares na Coréia do Sul. Mas o fato é que eles podem introduzir estas armas e lançar um ataque a qualquer momento, logo não importa muito se há ou não armas nucleares estacionadas na península.

CM: Você vive em Londres já há um bom tempo e provavelmente tem alguma ideia de como o povo inglês pensa a respeito da Coréia do Norte. O esteriótipo é de que é um país ‘não-democrático’ onde as pessoas não possuem o direito de votar; onde as pessoas não têm nenhuma liberdade de expressão; elas não têm o direito de criticar o governo;  elas não têm o direito de participar da administração do país. Está é uma caracterização justa?

YT: Penso que a impressão geral que o povo inglês tem foi formada pela imprensa burguesa. O que eu posso dizer é que aquelas pessoas que fizeram investigações mais sérias, especialmente as que visitaram a RDPC e viram nossas conquistas com seus próprios olhos, possuem uma visão completamente diferente acerca de meu país.

O número de turistas ingleses têm aumentado nos últimos anos – apenas neste ano serão mais de 500. Existem nove agências de turismo inglesas que organizam visitas à RDPC. Vistos nunca são negados a turistas. Eu já me encontrei com alguns turistas ingleses que haviam acabado de retornar da RDPC e eles estavam tão surpresos em ver o quanto o país era diferente de suas primeiras impressões formadas pela mídia. Eles não sabiam que a RDPC é um país socialista onde existe educação gratuita, onde há um sistema de saúde gratuito, onde há moradia também gratuita. Eles não conheciam todos estes aspectos positivos da Coréia do Norte. A maioria deles imaginava, antes de visitar o meu país, que nossas ruas eram lotadas de pessoas desnutridas e que não havia transportes decentes, que todo mundo parecia triste, que não havia vida cultural de verdade, etc. Porém quando eles chegam na Coréia percebem que as coisas são completamente diferentes. Por exemplo, o transporte público é quase gratuito – você paga um pouco de dinheiro, mas comparado com o que você paga na Inglaterra e nos EUA é basicamente gratuito. Eles não conseguiam acreditar que Pyongyang é cheia de grandes apartamentos e casas construídos e concedidos aos cidadãos de forma gratuita. Eles também ficavam surpresos com o fato de haver tantas escolas muito melhor equipadas dos que as escolas públicas inglesas. Eles descobriram que as crianças norte-coreanas em geral possuem um nível educacional muito maior que as inglesas; que a vasta maioria das crianças norte-coreanas desfrutam de atividades extra-escolares de graça como, por exemplo, aulas de piano, de violino, entre outras coisas. Eles descobriram que não há pedintes nas ruas, nem problemas com drogas. Eles descobriram que podiam sair de seus hotéis a qualquer hora da noite e caminhar pelas ruas sem temer por sua segurança, já que não há problemas de assaltos ou de gangues.

Então eles estavam chocados e me perguntaram porque a mídia inglesa é sempre tão negativa em relação à RDPC e nunca menciona seus aspectos positivos. Minha resposta é que a mídia quer apresentar a RDPC como um mal, um tipo de inferno, porque eles querem dizer ao público inglês que não há alternativas ao capitalismo, ao imperialismo. Eles querem que as pessoas acreditem que há apenas um sistema econômico e político, portanto é contra seus interesses dizer qualquer coisa positiva sobre o sistema socialista.

CM: Então se pessoas da Inglaterra quiserem visitar a Coréia do Norte é fácil de conseguir?

YT: Sim. Há várias companhias bem conhecidas como a Regent Hollydays, Voyagers, Koryo Tours e outras que organizam visitas em grupo. Porque a mídia descreve a RDPC tão mal, o número de pessoas interessadas em visitar está, na verdade, se tornando cada vez maior.

CM: Se alguém for em uma visita, visitará apenas Pyongyang?

YT: Não, você pode visitar o lugar que quiser. Há mais e mais opções surgindo a todo momento. Por exemplo, muitos turistas querem visitar apenas por um dia, então eles podem fazer uma visita de um dia através da fronteira com a China. Outra viagem que nós iniciamos é uma viagem de trem, com trens indo da China para a Coréia. Agora há também uma viagem aérea com aviões antigos (feitos na URSS nas décadas de 50 e 60) que é bastante apreciada por muitos turistas. Agora uma companhia da Nova Zelândia está organizando um tour de motocicleta por toda a península coreana. É possível encontrar tais tours na internet.

Estas viagens têm aumentado bastante nos últimos 3-4 anos, já que agora possuímos uma infraestrutura de apoio muito melhor e assim a indústria de turismo se tornou mais aberta e diversificada. Nós sentimos que isto nos ajuda em estabelecer fortes relações culturais com outros países.

CM: Cada país socialista teve sua própria maneira de organizar a democracia popular e a participação, por exemplo, os Sovietes na URSS e os Comitês para a Defesa da Revolução em Cuba – estruturas que permitiram que as pessoas cuidassem de seus negócios nos locais de trabalho e nos bairros, resolvendo seus problemas básicos e elegendo representantes para assembleias nas esferas regionais e nacionais. Existe algo semelhante na Coréia do Norte?

YT: Claro que sim. A democracia é praticada em todos os níveis do partido e do governo. Como você sabe, o partido mais importante do governo é o Partido do Trabalho da Coréia. Este partido é um partido de massas, com milhões de membros, e ele é organizado de acordo com o centralismo democrático. Se alguém em uma estrutura do partido (uma célula) não está trabalhando de acordo com a linha do partido que foi discutida e aprovada, então haveria críticas por parte de outros membros do partido e a oportunidade de tal membro corrigir seu comportamento lhe seria dada. Em cada nível do partido utilizamos este sistema de crítica, auto-crítica e responsabilidade com o objetivo de manter o trabalho eficiente e correto.

Nós temos a Assembléia Popular Suprema a qual poderia ser considerada um equivalente do parlamento inglês. Sob essa Assembléia Popular Suprema existem assembleias de província, cidade e distrito. Os membros são todos eleitos e eles se reúnem com frequência. Eles são responsáveis por tomarem decisões importantes de uma maneira democrática normal. Por exemplo, dado um orçamento limitado, eles poderão ter que votar onde investirão o dinheiro: na construção de uma pré-escola, na melhoria de um hospital e por aí vai. Desta maneira, amplas massas de pessoas são envolvidas no processo de administração da sociedade. Se as assembleias não funcionarem corretamente, existem mecanismos para os cidadãos criticarem-nas e para apelarem contra decisões errôneas e trabalho mal feito. Por exemplo, se o saneamento da água de uma vila em particular apresenta problemas e precisa ser melhorado, então o povo local pode ir à assembléia local para protestar. Se seus protestos são levados em conta e a situação é melhorada, tudo bem. Caso contrário, as pessoas podem apelar para esferas mais altas – como a da cidade ou da província –  para certificar-se que a assembléia está representando-os apropriadamente.

CM: O PTC é o único partido político na Coréia do Norte?

YT: Existem vários partidos e organizações de massas além do PTC, como o Partido Católico e o Partido Social-Democrata. Nós não consideramos que existam partidos de ‘governo’ e de ‘oposição’ – todos os partidos são amigáveis entre si e cooperam em conjunto para o desenvolvimento de nossa sociedade. Todos os partidos participam das assembleias populares – desde que possuam votos suficientes. Inclusive eles são representados na Assembléia Popular Suprema.

As pessoas têm preconceito em relação ao nosso país, pois pensam que as decisões são tomadas apenas por uma pessoa, mas como isso seria possível? Administrar um país é um processo bem complicado e que necessita da energia e da criatividade de muitas pessoas.

CM: Estou interessado em compreender como a RDPC foi capaz de sobreviver nas últimas duas décadas, em um contexto político global tão complicado. A URSS – a maior nação socialista – entrou em colapso e as democracias populares na Europa Oriental deixaram de existir. Como que, em um ambiente internacional tão hostil, a RDPC conseguiu se manter em pé?

YT: As últimas duas décadas foram o período mais difícil para nós. De uma hora para outra perdemos nossos principais parceiros comerciais, sem nenhum aviso sequer. Isto teve um impacto severo em nossa economia. E com o desaparecimento da URSS, os Estados Unidos passaram a adotar uma política mais agressiva, acreditando que nossos dias estavam contados. Os EUA intensificaram o bloqueio econômico e a ameaça militar. Eles bloquearam todas as transações financeiras entre a RDPC e o resto do mundo. Os EUA controlam o fluxo de moeda internacional: se eles dizem que qualquer banco será alvo de sanções caso faça negócios com a RDPC, então é óbvio que os bancos terão que seguir o que eles dizem. Os EUA lançaram um ultimato a todas as empresas: se fizerem negócios com a RDPC, estarão sujeitas a sanções. Esta ameaça ainda está de pé. O governo dos Estados Unidos pensou que se eles cortassem todas as relações econômicas da RDPC com o resto do mundo, nós teríamos que nos submeter à vontade deles. A única razão que nos manteve em pé foi a unidade sincera de nosso povo. O povo se uniu firmemente à liderança. E nós trabalhamos duro para resolver nossos problemas sozinhos.

Se um dia o Reino Unido perdesse de repente todos os seus mercados nos EUA e na Europa, seria capaz de sobreviver? Se todas as transações financeiras são interrompidas como um país pode sobreviver? E, no entanto, nós sobrevivemos.

CM: A conjuntura global atualmente é mais favorável para a Coréia do Norte e para outros países que buscam um caminho independente?

YT: Sim. As últimas duas décadas foram bastante difíceis: não só tivemos que tentar sobreviver economicamente como também tivemos que frustrar o militarismo agressivo dos EUA, portanto, tivemos que colocar muito investimento e foco no fortalecimento de nosso exército, na construção de armamentos e no desenvolvimento de nossa capacidade nuclear. Agora que possuímos armas nucleares podemos reduzir o investimento militar, porque mesmo uma pequena arma nuclear pode servir como dissuasão. Nós estamos em uma posição em que podemos fazer os EUA hesitarem em nos atacar. Logo, podemos nos focar mais no bem-estar do povo agora.

CM: Você acredita que o declínio econômico relativo dos EUA e da Europa Ocidental ajudará a Coréia?

YT: Nós temos que esperar para ver. É verdade que o poder econômico dos EUA está em declínio, mas precisamente por causa disso eles estão tentando consolidar suas posições políticas e militares. Neste momento, isto é refletido no ‘pivô para a Ásia’ [Nota do Tradutor:  política da administração de Obama em considerar a região da Ásia e do Pacífico como fundamental para seus interesses devido ao desafio que o crescimento do poderio chinês têm trazido para a hegemonia dos EUA], que é uma política focada na China. Portanto, a importância da península coreana está aumentando devido à sua proximidade com a China e com a Rússia. A península coreana é uma espécie de ponto estratégico pelo qual os EUA pensam poder exercer controle sobre as grandes potências da Ásia.

CM: A guerra na Síria tem sido uma questão fundamental da política mundial nestes últimos 2-3 anos. A RDPC continua a apoiar e continua a ser amiga da Síria. Qual é a base de tal relação?

YT: No passado, nosso falecido presidente Kim Il-Sung teve relações bastante amigáveis com o presidente Hafez al-Assad. Ambos os líderes compartilhavam a opinião de que se devia lutar contra as políticas imperialistas. A Síria sempre foi uma grande adepta da auto-determinação palestina e era também um pilar importante contra a política dos EUA e de Israel em relação ao Oriente Médio. Enquanto isso, a RDPC era um importante pilar contra a política dos EUA na península coreana. Então ambos os países compartilhavam da mesma política de luta contra o imperialismo global. Esta é a base da solidariedade entre as duas nações.

Historicamente a Síria não foi nosso único aliado no Oriente Médio: nós éramos muito próximos ao Egito de Nasser e à OLP de Yasser Arafat – estes líderes e estas nações compartilhavam a mesma filosofia de independência e desenvolvimento. Tal filosofia ainda existe entre a Síria e a Coréia do Norte.

Sob o pretexto de introduzir direitos humanos e democracia no Oriente Médio, os EUA e os seus aliados estão semeando o caos. A chamada ‘Primavera Árabe’ deles criou uma situação em que centenas de inocentes são mortos todos os dias. As pessoas estão lutando entre si no Egito, Síria, Iraque, Líbano, etc. Isto é um reflexo da política de dividir e conquistar dos EUA. Israel – o mais importante aliado regional dos EUA – é um país pequeno, enquanto que o mundo árabe é bem grande; logo, os EUA e Israel temem a unidade do povo árabe. Como eles podem quebrar essa unidade? Ele tentam semear o ódio entre as diferentes organizações políticas, entre os diferentes grupos religiosos, entre os diferentes países. Quando o ódio é efetivamente criado, eles encorajam as pessoas a lutarem entre si. Esta é a ‘liberdade’ que eles levaram: a liberdade das pessoas matarem umas as outras. Esta é a estratégia para garantir a segurança de Israel.

É essencial para o povo árabe a compreensão desta política de dividir e conquistar. Esta política foi utilizada por centenas de anos pelo Império Britânico, pelos americanos e por outras potências imperialistas. As pessoas devem se unir para que possam proteger suas crianças.

CM: Nos últimos 10 ou 15 anos surgiram algumas mudanças importantes na América do Sul e Central, a região historicamente considerada como ‘quintal’ dos EUA. Existem agora governos progressivos não só em Cuba, como também na Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Equador, Brasil, Argentina e Uruguai. Você acredita que este é um desenvolvimento promissor?

YT: Penso que sim. O povo da América do Sul está mais consciente do que nunca. Antigamente, a América do Sul era dominada pelo imperialismo americano, com a maior parte dos governos – boa parte deles eram ditaduras militares brutais – apoiados diretamente pelos EUA. Mas estes governos não melhoraram a vida de seus cidadãos. Então agora as pessoas perceberam que elas devem quebrar a relação de dependência em relação aos EUA. Elas decidiram tomar conta de seus próprios destinos. Apenas dê uma olhada na Venezuela: a Venezuela sempre foi um país rico em petróleo, mas apenas quando Chávez chegou ao poder que a riqueza do petróleo foi distribuída também para as pessoas comuns.

A RDPC tem relações bem positivas com países latino-americanos. Nós abrimos uma embaixada no Brasil. Nós temos ótimas relações com a Nicarágua, Bolívia, Venezuela e Cuba, claro. Chávez queria visitar a Coréia do Norte, mas no fim sua saúde acabou não permitindo. Porém ele sempre promoveu boas relações entre a Venezuela e a Coréia do Norte. Ele certamente deixou muitas saudades.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Kim Jong Un e as crianças



Kim Jong Un y niños

Kim Jong Un, Mandatario de la República Popular Democrática de Corea, ama vehemente a los niños.

He aquí unas anécdotas de ello.

Cartas de los niños y las respuestas con autógrafa de Kim Jong Un
Kim Jong Un, aunque está muy atareado, lee todas las cartas que muchos niños de varios lugares del país le elevan y les contesta con autógrafo.

La párvula Hong Ri Hyang del Jardín de la Infancia de Taedongmun de Pyongyang le elevó a Kim Jong Un una carta en la que escribió que en la solemne función de una célebre banda orquestal efectuada por el 80 aniversario de la fundación del Ejército Popular de Corea y el 66 de la de la Organización de Niños de Corea interpretó una canción y él aplaudió antes que nadie, y juró aprender mejor cantar y bailar y ser talento.

La otra Ri Hyang del mismo jardín dijo en su carta a él que ganó el titular en el Concurso Nacional de los Párvulos del Jardín de la Infancia con don excepcional y con el deseo de avisárselo cuanto antes, escribía con su puño y letra por primera vez y continuó:

“Estimado Mariscal, tenga la bondad de ver esta foto en la que se ve este botón de flor Ri Hyang con el premio especial y reírse aunque sea un momentito. Viendo a usted con radiante sonrisa me siento más alegre.”

Kim Jong Un les escribió:

“Mi graciosa Ri Hyang, crezca más sana y bonita y sea excelente hija del país. Kim Jong Un, 27 de junio de 2012”

“He recibido con grato tu carta y foto. Hazte más talentosa y se orgullosa hija de Corea de Songun. Kim Jong Un. 13 de septiembre de 2012”

Junto con los niños de una familia obrera

Uno de los primeros días de septiembre de 2012, Kim Jong Un llegó de visita a una familia obrera que había acabado de mudarse a la casa nueva en la remozada área residencial de Changjon de la ciudad de Pyongyang.

Vio atento el interior y el exterior de la casa —era muy cómoda para la vida—, se sentó en un mismo lugar junto con los dueños de la casa, sentó sobre sus rodillas al segundo hijo Pak Hun, alumno del segundo grado de la primaria, y preguntó si tenían solo un hijo. Se mostró muy generoso y sencillo. Uno de los cónyuges de la casa le dijo que su hijo primogénito, alumno del tercer grado de la secundaria, no regresó todavía de la escuela.

Kim Jong Un, lastimado, vio la pintura de Pak Hun “Niño haciendo trabajo útil”, enseñándole concretamente cómo perfeccionar la obra.

Pasó veloz el tiempo. El hijo primogénito, Pak Won vino y le saludó a Kim Jong Un, quien muy gozoso, le preguntó con ternura dónde estaba. Y al escucharle contestar con animación que estaba en el círculo de fútbol y quería ser futbolista, le bendijo su porvenir.

Regaló a los niños la “Colección de los famosos cuentos infantiles del mundo” y Pak Hun leyó en voz alta “Abeja Maya” de la colección.

Kim Jong Un, mirándolo, dibujó una sonrisa infinitamente generosa en el rostro.

“Estimado Mariscal, nos fotografiemos juntos”

Uno de los primeros días de noviembre de 2012, Kim Jong Un llegó de visita de trabajo al magnífico Centro de Patinaje al Aire Libre del Pueblo construido en la ribera del Taedong, en la parte central de la ciudad de Pyongyang.

Entró en la espaciosa pista donde los jóvenes y niños escolares se deslizaban. Con una amplia sonrisa, llamó de entre ellos a los párvulos de 3 a 6 años de edad y preguntó la edad de cada cual, si les gustaba el patinaje y entre otras cosas. Al oír una contesta de que llevaba solo un mes de aprendizaje, dijo que el lugar y los instrumentos de ejercicios apropiados hacen posible a cualquiera patinar bien como ellos y les acarició con cariño a los niños las mejillas.
Se despidió de los niños para salir afuera cuando sucedió una improvisación. Un párvulo de 4 años de edad corrió a donde él, se lo abrazó y suplicó: “Estimado Mariscal, juntos tomemos foto.”
Kim Jong Un, rebosando sonrisa, le tomó la mano y entró en la pista. En el acto todos los que estaban aquí lo rodearon y se quedaron embargados del exceso de felicidad de fotografiarse junto con él.

Aguardar a los niños

El 19 de mayo de este año 2013 Kim Jong Un realizó una visita al Campamento de Niños de Pyongyang para el Alpinismo en el monte Myohyang.

Cuando llegó al destino, los campistas estaban en alpinismo. Al conocerlo    Kim Jong Un dijo: Aguardemos que los niños lleguen. ¡Qué se desilusionarán ellos si sepan que regresamos sin vernos con ellos!

Luego recorriendo el comedor, el dormitorio y varios otros lugares, dijo: Tenemos un sinnúmero de tareas que cumplir para construir un Estado poderoso y próspero, pero no debemos escatimar la inversión en remozar el campamento. Reconstruyamos magníficamente no solo este sino también otros campamentos similares, y los palacios y las casas de los niños de todo el país.

Por fin, los niños se bajaron del monte, lanzando aclamaciones.

Kim Jong Un se reunió con ellos para fotografiarse.

No lloréis para salir bien en la foto. Dejad de llorar y tomemos la foto, dijo. También sus ojos se humedecieron.

Fonte: Embaixada da República Popular Democrática da Coreia no Brasil

domingo, 10 de novembro de 2013

Mensagem do Partido do Trabalho da Coreia ao XV Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários



O Comitê Central do Partido do Trabalho da Coreia enviou uma mensagem de saudações ao XV Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários na última sexta-feira.

O Comitê Central do PTC disse, na mensagem, que o atual encontro internacional é de grande importância para a abertura de um novo período histórico em que é ainda mais urgente a necessidade de se fortalecer a unidade e a coesão de todas as forças antiimperialistas, para rechaçar e enfrentar os atos agressivos e arbitrários dos imperialistas e se livrar das pioras das contradições estruturais do sistema capitalista e sua crise.

O Partido do Trabalho da Coreia desejou os maiores sucessos no trabalho do encontro, convencido de que o mesmo seria uma importante ocasião para encorajar e promover a causa da justiça dos povos revolucionários e progressistas dos diferentes países do mundo que aspiração a independência e o socialismo contra o imperialismo, e fortalecer a unidade, cooperação e solidariedade entre eles.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Realismo socialista na Coreia do Norte


Estúdio de Arte Mansudae, em Pyongyang, tem mil artistas e é provavelmente um dos estúdios com maior produção no mundo. Sua arte, de um realismo socialista contemporâneo, tem entre os clientes Alemanha e países africanos

Por Nadja Sayej, na Vice

A arte da República Democrática Popular da Coreia é a marca registrada do realismo socialista contemporâneo. Na verdade, é possível comprar a arte da Coreia do Norte pela internet — desde cartazes de propaganda, paisagens e buquês de flores até retratos de família. Claro, os cartazes de propaganda são os mais vendidos (também são os mais baratos), mas as pinturas com joias são outra coisa completamente diferente (obras raras e chamativas, totalmente confeccionadas com pedrarias).

Algumas semanas atrás, numa feira de arte em Dandong, China, a atração mais popular foi uma exposição de belas artes da RDPC, aberta na Galeria Dandong no dia 10 de outubro. A CCTV (um dos principais canais de TV chineses) anunciou que a exposição se tornou o destaque da feira, vendendo 30 obras nos primeiros três dias. Não havia arte de propaganda na exposição. A seleção era mais expressiva, arte estilo cartão-postal. Parece que enquanto muitas barreiras norte-coreanas ainda estão de pé, a arte é uma maneira de ultrapassá-las.



Tudo isso foi criado por um estúdio em particular. Fundado em 1959, o Estúdio de Arte Mansudae é um estúdio de Pyongyang que emprega quatro mil funcionários, mil deles artistas. Provavelmente um dos estúdios de maior produção no mundo, a instituição costumava funcionar sob a coordenação de King Jong Il, o que fazia dele o mais proeminente estúdio de arte da Coreia do Norte. Contando com departamentos de produção em pintura a óleo, cerâmica, xilografia e escultura — o Mansudae criou o Monumento à Fundação do Partido Coreano dos Trabalhadores, onde três mãos empunham uma foice, um martelo e um pincel de caligrafia. Os caras levam a sério sua arte.

A produção de obras com clientes internacionais é a receita perfeita para o sucesso de vendas. Desde os anos 1970, o Mansudae tem uma seção internacional, oferecendo mão de obra barata para grandes monumentos, como o Monumento da Renascença Africana no Senegal e o monumento de guerra Acre dos Heróis na Namíbia. Os monumentos do Mansudae são criticados por serem muito “coreanescos”; aparentemente a Alemanha é o único cliente ocidental do estúdio, que os contratou para recriar a Fonte do Conto de Fadas em Frankfurt. Na última década, estima-se que o Mansudae tenha feito US$160 milhões. Ainda assim, os artistas não veem esse retorno — todo lucro das vendas vai direto para o estado.

Numa rara entrevista, o gerente do site ocidental do Mansudae, Pier Luigi Cecioni, falou com a VICE, direto da Itália, sobre o site do Estúdio de Arte Mansudae, a arte do realismo socialista, e como é ser um dos cinco estrangeiros numa festa em Pyongyang.

VICE: Como você acabou se envolvendo com a arte norte-coreana? Você parece ser um especialista.
Pier Luigi Cecioni: Em 2005, eu era presidente de uma orquestra de música clássica em Florença, Itália. Por coincidência, uma delegação da minha orquestra era convidada para participar do Festival da Amizade de Primavera em Pyongyang todo ano (agora menos frequentemente). O Festival acontece por volta do dia 15 de abril, que é o aniversário do pai da pátria, Kim Il Sung, e é o feriado mais importante da Coreia do Norte. Cerca de 700 pessoas participam do festival e somente 20 são estrangeiros (nosso grupo era formado por cinco pessoas). Em Pyongyang, perguntei se eles tinham algum centro de belas-artes ou galeria que eu pudesse visitar.

Acontece que o Estúdio de Arte Mansudae fica em Pyongyang, e esse é provavelmente o maior centro de produção de arte do mundo. E eu nunca tinha ouvido falar nisso (ninguém tinha, provavelmente). É possível encontrar algumas informações sobre o Mansudae em nosso site. Quando perguntei se eles estariam interessados em fazer algo no Ocidente, eles responderam: “É claro”. Em janeiro de 2006, depois de meses de correspondência, retornei a uma Pyongyang extremamente gelada com meu irmão Eugenio, um artista, professor da Academia de Belas Artes de Florença e, na época, diretor de um centro de exposições próximo de Florença. Escolhemos vários trabalhos para trazer para a Europa e assinamos um acordo, tornando-nos representantes do Estúdio de Arte Mansudae no Ocidente. Uma das cláusulas do acordo era organizar exposições das obras do Mansudae no Ocidente. Retornei a Pyongyang algumas vezes desde então e artistas coreanos já vieram visitar a Itália.

Até que ponto a construção do site do Estúdio de Arte Mansudae evoluiu?
Começamos a construir o site em 2007, na época de nossa primeira exposição. O site tem como público-alvo os ocidentais e é gerenciado por mim.

O Estúdio de Arte Mansudae representa a elite dos artistas da Coreia do Norte. Quão difícil é se juntar ao estúdio e qual é o processo de entrada para os artistas?
A maioria dos melhores artistas do país está no Mansudae. Praticamente todos eles têm um curso universitário ou formação em belas-artes. Quando um estudante se destaca na universidade, ele ou ela é convidado a se juntar ao Mansudae. E se um artista se destaca em outro centro, ele ou ela pode ser convidado a entrar para o estúdio. É uma grande honra fazer parte do Mansudae.

Você sabe quantos artistas entram no estúdio por ano?
Desde que comecei meu contato com o Mansudae, pelo que sei, o número de artistas se manteve mais ou menos constante, então, não acho que haja um número fixo de artistas entrando todos os anos.

O treinamento é muito exigente, começando aos nove anos de idade, certo?
Pelo que eu sei, não há um treinamento que comece tão cedo. Do ensino elementar até o colegial, até onde eu sei, as crianças frequentam a escola somente no período da manhã e estudam várias matérias. Do final da escola elementar até o colegial, durante a tarde, os estudantes podem participar voluntariamente de programas e instituições nos quais podem praticar música, arte, esporte, teatro, etc. Minha impressão é que o treinamento começa a ser muito exigente na universidade: os norte-coreanos são estudantes universitários muito aplicados e sérios. No entanto, não tenho um conhecimento aprofundado sobre o sistema escolar da Coreia do Norte.

É verdade que mesmo quando a arte dos artistas vende, o lucro vai direto para o estado?
O Mansudae tem uma, talvez inesperada, autonomia econômica. O dinheiro das vendas vai para o Estúdio de Arte Mansudae. Isso deve ser diferente no caso de grandes projetos no exterior, com os quais não estou envolvido. Esses provavelmente são gerenciados num nível governamental.

Vocês têm muitos clientes no exterior? O que vende mais e aonde? São as pinturas com joias ou, digamos, os cartazes de propaganda?
Sim, temos muitos colecionadores por aí. Como estamos na Itália, muitos dos nossos colecionadores são italianos. Os cartazes de propaganda, por serem os menos caros, e também muito incríveis, são as vendas mais fáceis. No entanto, vendemos bem todos os tipos de obra. As pinturas com joias são relativamente mais raras.

Recentemente, vi a pintura Festa Dançante a Céu Aberto, de Han Guang Hun. As pinturas são baseadas em eventos reais? Pela pintura parece ser uma festa muito divertida. Eu não sabia que os norte-coreanos faziam festas assim.
Engraçado você escolher essa pintura. Eu lhe enviei uma foto não muito boa que fiz em 15 de abril de 2005, na dança na Praça Pyongyang em celebração ao aniversário de Kim Il Sung. Eu também participei da dança. Quando fiz essa foto, eu ainda não tinha visto a pintura [Festa Dançante a Céu Aberto]. Fora essas grandes festividades, os coreanos gostam muito de cantar. Acho que deve ser algo genético, porque quase todos cantam muito bem. Em julho passado, quando estive lá, eu sempre via grupos de pessoas cantando ao entardecer e, aos domingos, muitas pessoas fazem piqueniques familiares nos parques, cantando e dançando. O karaokê, como em muitos países asiáticos, é algo muito popular.

Você disse que conheceu esses artistas quando eles vieram para a Itália e que eles não gostaram da arte contemporânea. Do que eles gostaram? As personalidades deles estão mais para egocêntricas, como o Damien Hirst, ou eles são mais como artesões humildes? Eles são engraçados? Sérios? Dramáticos? Teatrais? Eles são seus amigos?
Os artistas definitivamente não têm grandes egos, nem são humildes. De certa maneira, dentre as pessoas que frequento, eles se consideram todos iguais, mesmo tendo consciência que, na arte, alguns são melhores do que outros e que todos têm posições de trabalho diferentes. A arte contemporânea ocidental não interessou a eles. Na verdade, eles a acharam literalmente engraçada; eles riram vendo alguns dos trabalhos, não com desdém, mas com uma surpresa verdadeira. Eles ficaram muito mais interessados em arte clássica. Cerca de um ano atrás, acompanhei alguns deles a Galeria Uffizi e aos museus do Vaticano, e eles gostaram muito. Eles conheciam os principais artistas pelo que estudaram na universidade. Eles são absolutamente figurativos e nunca viram experimentos com arte abstrata, conceitual ou similares.

O artista Lee Cheol, da Mansudae, participou recentemente de uma exposição e foi entrevistado pela CCTV na China. Os artistas falam publicamente com frequência? Eles gostam de ser o centro das atenções?

Não posso oferecer uma resposta geral. Quando fizemos nossa primeira exposição, convidamos dois artistas da Mansudae e eles falaram com a mídia sem problemas. Não sei se eles falam frequentemente em público na Coreia do Norte. Uma vez, assisti a um vídeo longo de um programa de TV (sem entender nada, claro) com entrevistas dos dois artistas que tinham vindo para a Itália. A verdade é que eles são muito formais para os nossos padrões. Mas eles raramente vão ao exterior e quase ninguém fala alguma língua europeia.

Eles falam inglês? Sei que alguns deles ficam anos fora, criando murais em lugares como a Namíbia.
Praticamente ninguém fala inglês. Há alguns interpretes. O Mansudae tem realizado projetos realmente grandes no exterior, principalmente trabalhos arquitetônicos e esculturais. O mais recente é um museu em Angkor Vat, Camboja, que foi inaugurado há pouco. Para esses trabalhos eles ficam anos fora, mais ou menos como diplomatas. Conheci muitos artistas que passaram alguns anos em vários países, principalmente na África.

E como é visitar o estúdio Mansudae? Eles estão abertos a visitas do público? Você tem fotos? Isso é como uma escola de arte orientada para a comunidade?
Para mim, o Mansudae é um lugar familiar. Quando estou lá, passo muitas horas conversando sobre vários assuntos com diferentes pessoas. Tenho várias fotos, mas não sou um fotógrafo muito bom. Nunca encontrei nenhuma restrição para fotografar lá. No Mansudae, que tem cerca de 12 hectares, há uma galeria comercial, que pode ser visitada por alguns poucos turistas. As outras partes em geral não são abertas ao público, são espaços de trabalho. O lugar é mais ou menos similar a um campus universitário norte-americano (eles têm até um campo de futebol), mas definitivamente não é uma escola. São cerca de quatro mil funcionários, mil deles são artistas, e, como eu disse antes, praticamente todos já formados, então são mais velhos do que estudantes. Há todo tipo de estúdio lá, inclusive os dos escultores de estátuas monumentais. Há laboratórios, lojas, departamento de suprimentos, etc. Há uma grande galeria, um jardim de infância, uma espécie de cafeteria e muitos outros prédios. Eu não conheço tudo. As pessoas não moram no Mansudae: elas trabalham lá e moram em Pyongyang.

O propósito da arte na Coreia do Norte é a mensagem política. O que mais o realismo socialista incorpora? Que símbolos eles são ensinados a pintar, tanto nas pinturas do Kim Jong-un como nas outras?
Eu não diria que o propósito de toda a arte norte-coreana seja a mensagem política. O realismo socialista representa a Coreia do Norte sob uma luz positiva e, num sentido mais amplo, quer inspirar os espectadores a ter sentimentos positivos, patrióticos e a celebrar; especialmente as grandes esculturas e pinturas exibidas em espaços públicos: os líderes. Os temas estão frequentemente relacionados ao trabalho, um assunto que não é comum no ocidente. Uma forma particular do realismo socialista são os cartazes. Eles são pintados à mão, não impressos, e têm mensagens políticas e sociais. Muitos têm como alvo os Estados Unidos, visto como um agressor do passado e um agressor em potencial. Além do realismo socialista, pinturas de paisagens são muito populares. Assim como pinturas de flores e da natureza em geral. Há também muitos retratos, principalmente de trabalhadores. Mas há tantos tipos de arte – escultura, cerâmica, bordado, vários tipos de pintura, xilografia, caligrafia e algumas outras — que não é possível generalizar.