sábado, 18 de setembro de 2010

Cerimônia na embaixada da RDP da Coréia: Desfrutando da amizade socialista (Parte I)

Era segunda-feira, dia 6 de setembro de 2010. Como sempre costumo fazer nos fins de semana ou nos feriados, acordei cedo, comi alguma coisa e me dirigi à minha mesa de estudos, onde sempre estudava com freqüência os velhos – porém, atuais – clássicos do socialismo científico: Marx, Engels, Lênin, Stálin e Mao. Naquele dia, resolvi fugir um pouco da rotina e peguei para ler um grande clássico do Juche, o “Sobre a Idéia Juche”, escrito pelo Dirigente Kim Jong Il no ano de 1982, por ocasião do Seminário Nacional da Idéia Juche que se organizara no país naquele ano.


Bom, há tempos já queríamos adquirir mais livros e compreender mais à fundo a Idéia Juche e o desenvolvimento da luta do povo coreano. Se é verdade que só podemos conhecer a essência de um fenômeno se entendermos profundamente suas características, só conseguiremos fortalecer corretamente o movimento de solidariedade à RDP da Coréia se entendermos profundamente a história desse país.


É verdade que nosso grande contato com a embaixada da RDPC já trouxe muitas conquistas para nossa iniciativa. Os camaradas Ri Hwa Gun, Ri Jong Ho e Ma Kyong Ho mandam-nos constantemente bons materiais sobre o país, que temos inclusive a grande honra de ler, traduzir e publicar no site. Nossa iniciativa, graças a nossa amizade e mútua relação com esses companheiros, fez inclusive com que os próprios coreanos, lá mesmo no próprio país, tomassem conhecimento dessa mesma iniciativa que está se desenvolvendo no Brasil. Da nossa parte, nada mais honroso do que exercer solidariedade internacionalista a um povo que tanto estimamos e admiramos. Procedi, pois, em ligar para a embaixada para saber como poderia adquirir mais livros.


Atendeu ao telefone meu grande amigo, o camarada Ri Jong Ho, com quem na época mantive contato, infelizmente, apenas por e-mail e pelo telefone. Perguntei a ele sobre como poderia adquirir os livros: Ele me falou que tentaria falar com uma delegação coreana para ver se a mesma conseguiria disponibilizar mais livros sobre o país aqui para os brasileiros.


O camarada, também, teve a boa vontade de me convidar para uma cerimônia que seria feita na própria embaixada, em Brasília, no dia 8 de setembro, por ocasião dos 62 anos da fundação da Coréia Socialista. Mesmo que eu tivesse sido avisado um pouco em cima da hora e com todas as adversidades que certas circunstâncias me impunham, providenciei nesse mesmo dia tudo o que era necessário para viajar: Terno, passagem, etc. Esperei ansiosamente até o dia da minha viagem. Afinal, tinha muita vontade (e curiosidade) de conhecer a embaixada de um país socialista que tanto admirava.


Às 10h20 da manhã, peguei o vôo e fui para Brasília. Como nunca tinha estado na cidade antes por um motivo tão importante quanto esse, dei uma volta em Brasília enquanto a cerimônia não começava lá na embaixada (na verdade, só começaria às 19h30). Pude conhecer a Praça dos Três Poderes, o Palácio do Planalto e vários outras grandes obras da arquitetura de Brasília. Engraçado é que logo quanto voltei para o hotel, abri para ler um jornal que dizia que no dia anterior, justo na hora dos desfiles de 7 de setembro, houve uma briga entre petistas e um outro grupo político local. Para quem achava que em Brasília nada disso existia, ao menos tive a superficial impressão de que lá a luta de classes se desenvolve tão bem quanto em estados como São Paulo, Rio de Janeiro etc.


Uma ótima recepção


Fui dormir um pouco e por volta das 18h acordei e botei o terno que tinha comprado no dia anterior. Botei próximo à gravata aquele velho, clássico botton do PCdoB. Isso poderia muito bem indicar o orgulho que tinha de pertencer a uma organização como o Partido Comunista do Brasil: Um partido revolucionário, de firmes princípios marxistas-leninistas, com mais de oitenta e oito anos de experiência na luta pelo socialismo, profundamente engajado nos movimentos sociais e na política nacional. Um partido respeitado pelo conjunto dos trabalhadores brasileiros, um partido que representa o Farol na luta pela conquista do poder político pelo proletariado e seus aliados. Um partido que representa a continuação da ampla trajetória de lutas do povo brasileiro, um partido digno dos heróis que sustenta em sua história: O Generalíssimo Stálin, Enver Hoxha, João Amazonas, Maurício Grabóis, Pedro Pomar, Diógenes Arruda, Aurélio Peres, Rogério Lustosa, etc.


Bom, enfim... Mesmo estando meio ‘liso’ na hora, consegui pegar um taxi e me dirigir para a embaixada da RDP da Coréia. Conversando com o taxista no caminho para o meu destino, ele me falou sobre a inflação à qual o povo estava submetido nos anos anteriores ao Governo Lula, que o impedia inclusive de construir uma casa própria. Nos dias de hoje, ele não só pôde construir uma casa própria como também ganha muito mais como taxista. De fato, um verdadeiro ‘tapa na cara’ dos trotskistas do PSTU, PSOL etc.


Chegando à rua da casa onde a embaixada estava localizada, avistei uma viatura policial em frente à mesma casa. Perguntei aos policiais, empolgado: “Onde é o evento sobre a fundação da Coréia Socialista?”, e eles replicaram, num tom de ‘dúvida’, digamos: “Quê? Coréia do Norte? É aí na frente mesmo”.


Na réplica, dei o dinheiro ao taxista pela corrida e saí do carro. Vi a casa onde era localizada a embaixada, toda escura ainda. No 2º andar, em frente a uma janela enorme, avistei o camarada Ma Kyong Ho, ainda falando no telefone. Mesmo com o receio de ‘encher o saco’, saudei-o e ele me falou para esperar um pouco. Já havia notado a casa ainda toda escura, e pensei: “Cacete... Será que não cheguei cedo demais? Bom, esperemos aqui fora e vamos ver no que dá”. Mesmo com a rua naquela escuridão, havia fora mesmo da embaixada uma exposição de fotos das atividades do Dirigente Kim Jong Il e outras fotos sobre o país. Pensei de novo: “É preciso tirar da mente das pessoas essa idéia de que a Coréia é um país ‘miserável’, que vive sob uma ‘ditadura totalitária’” e entre outras mentiras. Tomara que ao menos uma entre as grandes reformas democráticas defendidas pelo PCdoB – a de democratizar os meios de comunicação – seja devidamente concretizada para que possamos mostrar às pessoas a lavagem cerebral à qual elas estão submetidas sob a leitura da Veja, Época, FSP (Folheto Serra Presidente) e entre outros panfletos da mídia marrom.


A Embaixada da RDP da Coréia é uma casa linda, relativamente parecida com aquelas construções da época da Grécia Antiga. Pela primeira vez na vida, pude ver de perto uma gigante bandeira da tão famosa ‘Coréia do Norte’, erguida mesmo quando nada podia ser visto. Logo em cima da porta principal, estava encravado o Brasão da República Popular. Para os que já conhecem, o Brasão mostra o Monte Paektu, e logo embaixo uma hidrelétrica construída pelo povo coreano. Provavelmente, o mesmo deve representar a máxima da Idéia Juche segundo a qual a revolução socialista deve ser levada a cabo de maneira independente e criadora.


Esperei por cerca de longos vinte minutos. E, logo após esse dado tempo, notei que as luzes da sala principal começavam a serem acesas. Animei-me e esperei por mais uns três minutos, quando camarada Ma finalmente abre a porta e vem me cumprimentar. Ele me elogiou, falando que “você é pontual”. Na verdade, não costumo ser dos mais pontuais. Porém, numa ocasião como esta, nada mais natural do que respeitar a pontualidade.


Entrei naquele casarão e logo em seguida vejo o Ri Jong Ho descendo as escadas. Felizmente, a ocasião me possibilitou que eu conhecesse pessoalmente este grande camarada. Conheci-o há alguns meses, mas cumprimentei-o como se já o conhecesse há anos, como se fosse um amigo de infância.


Sentamo-nos nas cadeiras e começamos a conversar. À medida que conversávamos, o camarada me convidou para ir para a Coréia Socialista no dia 15 de abril do ano que vem. No caso, esta data coincide com o aniversário do bravo revolucionário marxista-leninista Kim Il Sung, libertador do povo coreano, fundador da Coréia Socialista e exemplo de revolucionário para os comunistas do mundo inteiro. Tomara que a grana e a faculdade me possibilitem que eu compareça ao país em 2011... Na conversa, também, ele me falou que compareceu ao último congresso (no caso, o XIV Congresso) do PCB (Partido Comunista Brasileiro) como representante do Partido do Trabalho da Coréia. Apesar de ter dialogado com um partido com o qual possuo divergências entre o céu e a terra, elogiei o papel que havia cumprido como grande internacionalista. Logo quando estávamos conversando, o camarada Ma aparece e me cumprimenta novamente, falando para que eu ficasse a vontade e dizendo que a embaixada era “sua casa”. Logo quando camarada Ma Kyong Ho disse isso, veio à mente um documentário que tinha visto há uns três ou quatro anos atrás, com o nome (salvo engano) de “Coréia do Norte: O inferno na Terra”. Neste documentário, um trio de jornalistas norte-americanos vai ao país para fazer uma ‘reportagem’ sobre a ‘Coréia do Norte’. Lembro-me que, a cada minuto, os jornalistas fazem insultos indiretos ao país socialista, chamando-o indiretamente de “terra sem liberdade” e dizendo que Kim Jong Il, um dos maiores heróis que o país já teve, era um “ditador totalitário”. Os jornalistas resolvem tirar uma foto da estátua de Kim Il Sung em Pyongyang e, provavelmente neste momento, o guia se enfurece e diz que eles deveriam sair do país no dia seguinte. Os jornalistas insistem em distorcer o motivo pelo qual eles foram mandados para fora do país, insinuando que os coreanos seriam “stalinistas fanáticos” ou “submetidos a uma lavagem cerebral”. Porém, não conseguem esconder que o verdadeiro motivo pelo qual eles foram expulsos é porque eles não estavam na Coréia para “fazerem reportagens” ou para conhecerem-na. Estavam lá para insultar a luta do povo coreano. Com efeito, foram mandados para fora. Há alguns meses atrás, Sylvester Stalone esteve aqui no Brasil e disse “eu posso quebrar tudo aqui nessa merda e ninguém faz nada”. Se fossemos devidos patriotas, um canalha como esse seria chutado do país sem mais nem menos. Dane-se o que a mídia iria falar. Somos patriotas e amamos nosso país, portanto não admitimos um insulto dessa gravidade.


No mais, para a infelicidade dos nossos reacionários, pró-imperialistas, trotskistas e afins, a forma como os camaradas Ma Kyong Ho e Ri Jong Ho me trataram diferiu totalmente da forma como os coreanos são apresentados na “Veja” ou no “Estadão”. Isso é uma prova cabal de que os meios de comunicação burgueses mentem e não possuem qualquer compromisso com a verdade. Nosso Blog de Solidariedade à Coréia Popular serve como força contra-hegemônica, ainda que insignificante perto do poderio de potências como Globo ou Veja.


Enquanto estamos lá conversando, aparece o camarada Ri Hwa Gun para me cumprimentar. Haja hospitalidade! Ao contrário dos norte-americanos, que ao visitarem o Brasil são um poço de arrogância e se acham “superiores” em comparação com os “ratos latino-americanos do terceiro mundo”, os camaradas coreanos pareciam felizes em receber visitas. Trataram-me como um irmão e não simplesmente como um “companheiro de trabalho” que edita um blog de solidariedade ao país. Nesta ocasião, tive a oportunidade de conhecer a camarada Kim Song Il, esposa do meu amigo Ri Hwa Gun. Ela falava bem pouco o inglês, mas era o suficiente para que pudéssemos nos comunicar relativamente bem.


À medida que o tempo passava, o camarada Ri Hwa Gun e a camarada Kim Song Il botou-se em frente à porta para receberem os convidados. O primeiro a aparecer, salvo engano, foi o embaixador da Tailândia no Brasil. Isso, sem sombra de dúvidas, me deixou muito feliz. Isso significa que a Coréia não está sozinha e isolada? Isso significa que existem companheiros do mundo todo que se solidarizam com o país e opõem-se às manobras do imperialismo norte-americano? Que boa notícia! O embaixador tailandês comentou, inclusive, que ele era encarregado no país de promover relações entre a Coréia e a Tailândia e deu-me a boa notícia de que a Tailândia e a Coréia mantinham ótimas relações diplomáticas e inclusive econômicas. Pelo jeito, essa saída do ‘isolamento’ explica o fato de a Coréia Socialista ter elevado tanto seu padrão de vida nos últimos anos. Quem viu as fotos do “Conjunto Mansudae” construído recentemente ou quem leu as declarações da presidente da OMS Margharet Chan acerca do sistema de saúde na Coréia [http://tinyurl.com/2fggl7h], certamente saberá do que estou falando.


Logo em seguida, aparece a embaixadora chinesa para o evento. Cumprimentei-a dizendo ‘nihâo-má’ (“como vai?” em mandarim). A China é, também, um país socialista que admiro bastante. E, há alguns dias, peguei um livro que continha algumas palavras sobre como se comunicar em chinês. Respeitando minhas devidas limitações e levando em conta que não se aprende um idioma inteiro (ainda mais o mandarim) em questão de horas, arrisquei o ‘nihâo-ma’. A camarada questionou estupefata se eu tinha alguma relação com a China ou se já estive lá. Disse em tom de bom humor que não, que era um brasileiro nato e só sabia algumas palavras que havia aprendido há alguns dias antes.


Logo, aos poucos, fui compreendendo aos poucos que o ambiente no qual eu estava inserido não era um como qualquer outro. Ao contrário, tratava-se de um ambiente bastante formal em relação aos que eu já estivera antes. Porém, não havia motivo para ficar nervoso ou começar a agir com formalidades ou falsidades, só para parecer ‘culto’ ou ‘fino’. Afinal, estava entre grandes camaradas e não havia por que ficar nervoso de uma hora para outra.


Enquanto eu estava olhando a exposição de fotos do país, comparece o camarada José Reinaldo Carvalho, outro grande camarada meu que ocupa devidamente o cargo de secretário de comunicações do Partido Comunista do Brasil e que prestou a nós o grande serviço de hospedar nosso blog no Portal Vermelho... Enfim, aparece o primeiro compatriota, depois de mim, para que eu não sobrasse como o único brasileiro na cerimônia. Sentamo-nos nas mesas que estavam disponíveis para o jantar e começamos a conversar sobre diversas questões. O camarada esclareceu-me diversas dúvidas que eu tinha sobre a Albânia Socialista, sobre aquele suposto “agente triplo” Mehmet Shehu (na época, chegou a ser o “segundo homem” do governo albanês), que, segundo a versão oficial no país, havia cometido suicídio. Surgiram na Iugoslávia, na época, rumores de que sua morte na verdade teria sido produto de um tiroteio entre ele e o Secretário-Geral do Partido do Trabalho da Albânia, Enver Hoxha. Os albaneses, ao ficarem sabendo desse rumor, em geral costumavam tratá-lo com pouca seriedade. Bom, como já surgiram diversas vezes boatos de que guaraná dava câncer, creio que rumores como esses do suposto “tiroteio” entre Hoxha e Shehu devem ser tratados tão “seriamente” quanto esses do tal câncer causado por guaraná.


Conversando e conversando, aparece também como convidado o embaixador da Guiana, Harry Narine. Ele cumprimenta simultaneamente eu e o Zé Reinaldo, e se junta conosco à mesa para conversarmos. Conversamos um pouco sobre a questão do partido comunista da Guiana (que, no caso da Guiana, chamava-se Partido Popular Progressista), sobre sua fundação no início dos anos 1950... Esclareci a ele o fato de o PCdoB ter se botado ao lado dos países que resolveram manter os princípios marxistas-leninistas e a construção socialista mesmo após o medonho XX Congresso do PCUS e da divulgação do “relatório secreto” do porco anticomunista que atende pelo nome Nikita Khrushchov. Pois bem, mesmo nós, que nos mantemos fiéis ao marxismo-leninismo, erramos em várias de nossas posições e excluímos de nossas visões, também, vários países além da China e da Albânia que também construíam o socialismo: Cuba, Coréia, Vietnã, etc. O camarada Harry Narine, ao contrário, falou-me que o Partido Popular Progressista seguiu, na época, a linha pró-soviética. Segundo ele, vários militantes do partido foram estudar em países socialistas do tal “bloco soviético”, como Hungria, Polônia, URSS... Mesmo que esta não fosse a opinião que mais me agradecesse, não fiquei chateado ou abatido por isso. Se, por um lado, os que se mantiveram ao lado dos revisionistas soviéticos estavam do lado anticomunista, nós também devemos fazer nossa autocrítica por posições erradas defendidas no passado. Questão de política...


Nossa, quanta gente havia na cerimônia! Logo depois que o camarada Harry Narine se retirou da mesa, o Zé Reinaldo comentou comigo sobre a presença do representante do Papa lá na cerimônia. Olhei para trás e o vi com um crucifixo no pescoço. Nesse mesmo momento, retruquei ao camarada: “Cacete... Que p* esses caras ‘tão fazendo aqui, justo numa cerimônia em homenagem a um país socialista como a Coréia?”. Bom, questão de diplomacia... Morro e não vejo todos os absurdos que se passam nesse planeta.


Começamos então a conversar sobre o artigo que o camarada Zé Reinaldo havia publicado no Vermelho no final do mês passado [http://tinyurl.com/2cpqt3t], que até então eu ainda não havia lido. De fato, como marxistas-leninistas de princípios, repudiamos as tentativas do jornal Estadão de tentar rotular o PCdoB de “neocomunista”, um partido no qual, segundo o artigo, “são as celebridades que mandam”. Como o Zé Reinaldo já havia dito no artigo, o PCdoB é um partido que possui líderes, não donos ou caciques. Quem “manda” no partido é a ampla camada do proletariado urbano e rural, e não esta ou aquela celebridade. Serviu muito bem para calar a boca de certos membros da “esquerda pura”.


Início da cerimônia


E então, depois de algum tempo, o camarada Ma Kyong Ho, no microfone, convida os presentes que a cerimônia fosse realizada. Com todos os presentes, o camarada Ri Hwa Gun lê seu discurso em inglês, que por sua vez foi traduzido para o português pelo camarada Ma. A camarada Kim Song Il também os acompanha ao lado. Foi um discurso muito convidativo, que mostrava com clareza o quão combativo é o povo coreano. No início, fez uma saudação inicial ao nosso grande presidente Luís Inácio Lula da Silva e então começou. Falou que na ocasião era muito honroso para os coreanos a presença de estrangeiros na comemoração do 62º aniversário da fundação da República Democrática da Coréia, pelo Presidente Kim Il Sung. “Pôs um acento”, também, nas dificuldades sobre as quais o país passou no início da década de 1990. Porém, apesar de terem sido tempos difíceis, ressaltou que os coreanos passavam por um dilema: Ou passar por essa dura época, porém manter a soberania, a dignidade e a construção socialista no devido patamar, ou capitular de uma vez por todas e voltar a tornar-se uma colônia. Só que desta vez, não uma colônia japonesa mais sim uma colônia dos Estados Unidos. Como um grande povo, os coreanos optaram pela primeira opção e, por um período um pouco superior a dez anos, conseguiram sair das grandes dificuldades pelas quais passaram nessa época (que incluiu, também, a escassez alimentar) e, nos dias de hoje, obtêm sucesso em elevar constantemente o padrão de vida da população.


O camarada Ri Hwa Gun ressaltou, também, o sucesso que foi a Política Songun (que consiste em priorizar os assuntos militares). Esta, por sua vez, pôde fazer com que um país pequeno e cercado, porém grandioso e socialista, frustrasse todas as tentativas do imperialismo em tentar destruir de uma vez por todas as conquistas da Revolução Coreana. Essas derrotas que o imperialismo vem sofrendo têm conseqüências diretas nos meios de comunicação: Cada vez mais, a Coréia é mostrada como um “país que desafia o mundo”, como um “país que apóia o terrorismo”, como um “integrante do eixo do mal” e entre outras acusações falsificadoras. Porém, como já diria o Presidente Kim Il Sung, essas acusações “não passam de uma atitude desesperada de quem está prestes a morrer”. Nada mais justo. Afinal, o que se vê nos dias de hoje é uma total ascensão da China Socialista e um grande declínio dos Estados Unidos.


Ao fim do discurso, tocou o Hino Nacional da Coréia Socialista, “Aegukka”. Assim como o hino da maioria dos países socialistas, exalta as massas populares e os palcos nos quais tomaram lugar a Revolução. ”Um país estabelecido pela vontade do povo / Exaltemos para sempre esta Coréia / Ilimitadamente forte e rica”. Pelo jeito, o sentimento nacional dos coreanos pela reunificação da Península ainda é gigantesco, por mais que o senso comum, imposto pelos meios de comunicação do imperialismo, digam o contrário. Em momento algum, no hino, fala-se em “Coréia do Norte”. Lembremos, também, o quanto este hino patriótico é capaz de mexer com o emocional do povo coreano: Recentemente, em julho deste ano, o jogador da seleção coreana Jong Tae Se, japonês naturalizado coreano, chorou ao ouvi-lo alguns momentos antes do jogo contra o Brasil.


Logo depois, tocou nosso hino nacional brasileiro. Infelizmente, como boa parte dos que estavam presentes na ocasião não era brasileira, não pudemos tocá-lo em voz alta, ainda que, junto comigo, alguns que eu pude ver cantavam-no no “cochicho”. No mais, em minha opinião, o nosso Hino da Independência ainda é bem melhor do que o hino oficial da Pátria brasileira. Quando as forças políticas democráticas, populares e patrióticas já tiverem acumulado forças suficientes para realizar a transição do Estado democrático-burguês para o Estado democrático-popular, certamente seria ótimo se cantássemos em coro: “Houve mão mais poderosa / Zombou deles o Brasil / Brava gente brasileira / Longe vá, temor servil / Ou ficar a Pátria Livre / Ou morrer pelo Brasil / Ou ficar a Pátria Livre ou morrer pelo Brasil!”.


Esta cerimônia tirou-me quaisquer possíveis dúvidas quanto à grandeza do povo coreano. De fato, é algo para se ficar na memória para sempre.


Assinado: Alexandre Rosendo