quinta-feira, 10 de maio de 2012

Comitê Petrópolis em Luta entrevista comitê editorial do Solidariedade à Coreia Popular


O Comitê Petrópolis em Luta, organização ligada ao Movimento Nacional de Lutas contra o Neoliberalismo (MNLCN) e que luta pelos direitos do povo através de diversas formas, por meio de debates, atividades culturais etc. realizou uma entrevista com a equipe do blog Solidariedade à Coreia Popular por motivo da última viagem feita pelo comitê editorial do sítio à RPD da Coreia, em abril de 2012. Disponibilizamo-la aos leitores da página.



Comitê Petrópolis em Luta: Quantas viagens vocês já fizeram até a Coréia Socialista?

- Solidariedade à Coreia Popular: Estivemos na República Popular Democrática da Coreia duas vezes, em abril de 2011 e abril de 2012. No ano de 2011, viajamos para a RPDC para conhecer a situação do país, das empresas, escolas, fazendas cooperativas ou estatais e locais de interesse histórico ou político, para participar do Seminário da Ideia Juche e para conhecer o antigo Palácio Memorial Kumsusan (atual Palácio do Sol Kumsusan), mausoléu de Kim Il Sung. Nossa visita à Coreia no ano de 2012 teve um caráter diferente, pois apesar de também termos visitado empresas, participamos de muitas comemorações por ocasião do aniversário do centenário do Presidente Kim Il Sung, assistimos a desfiles militares, encontramo-nos com políticos e participamos do Congresso Mundial da Ideia Juche, que contou com a participação de adeptos do Juche de quase todos os países.

C.P.L.: Como se iniciou a relação de vocês com esse país e a própria ideia de ir até lá?

- S.C.P.: Há um bom tempo possuíamos enorme interesse em conhecer a RPD da Coreia pela sua história de mais de 60 anos de resistência contra o imperialismo, pela democracia e pela construção do socialismo. Nossa vontade se esbarrava com o fato de os materiais sobre a Coreia do norte aqui no Brasil serem escassos e por conta de o papel da imprensa, obviamente, apontar sempre para deixar o estudo de lado e adotar o senso comum burguês contra o país, que tenta dar um caráter universal a valores particulares (“democracia”, “liberdade” etc.) e acatar inclusive as mentiras mais absurdas contra a Coreia. Entretanto, mantivemos como máxima a análise marxista-leninista segundo a qual a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante e seguimos no estudo da experiência socialista da Coreia Democrática, sem preconceitos e recuperando nossa autonomia ideológica. À medida que estudávamos essa experiência, sentíamos o compromisso de compartilhar com outros comunistas e revolucionários de nosso país mais informações sobre a RPDC, da feita que até então poucos além de nós a conheciam detalhadamente e muitos se deixavam levar pela propaganda ideológica do imperialismo. Como forma de efetivar essa nossa demanda, críamos o blog Solidariedade à Coreia Popular e, num prazo de cerca de dois anos, obtivemos muitos sucessos e nosso número de visitas aumentou exponencialmente, agregando mais pessoas para que elas pudessem também se solidarizar com a luta do povo coreano.

Em junho de 2010, encontramo-nos pela primeira vez com camaradas funcionários da embaixada coreana aqui no Brasil, inclusive com o próprio embaixador da Coreia Popular, o senhor Ri Hwa Gun. Desde então, a embaixada tem nos dado enorme ajuda em nosso trabalho de solidariedade. Em setembro do mesmo ano, numa cerimônia na qual comparecemos para comemorar os 62 anos da fundação da República Popular e Democrática no norte da Coreia, recebemos um convite para visitar o país no próximo ano (no caso, 2011). Aceitamos e desde então nosso contato com os coreanos tem sido cada vez próximo.

C.P.L.: No geral, qual a impressão vocês tiveram dessa nação, tanto através dos estudos quanto por essas viagens? 

- S.C.P.: Tanto nossos estudos quanto as vezes que visitamos o país nos convenceram de que a RPD da Coreia, sob a correta diretriz da Ideia Juche, construiu um dos melhores modelos de socialismo já conhecidos na humanidade e que os feitos desse país na Revolução e na construção socialista são patrimônios não só da Nação coreana como também dos povos progressistas de todo o mundo. A Coreia do norte, que elevou alto a bandeira vermelha da Revolução enquanto quase todos os países e partidos que outrora se diziam tão “revolucionários” deixaram-na cair por terra, que manteve alto essa mesma bandeira quando a construção socialista na RPDC passava por um período de enormes dificuldades, desconhecidas até então, mostrou o quanto sua causa e suas concepções são corretas e que, portanto, merecem nosso apoio, nossa solidariedade e que estudemos mais a fundo essa experiência tendo em vista extrair lições corretas para travar corretamente a luta revolucionária em nosso país.

C.P.L.: Qual foi o momento mais marcantes dessas viagens? Poderiam descrevê-lo?

- S.C.P.: Um dos momentos inesquecíveis foi no dia 14 de abril de 2011, quando encontramos pessoalmente o camarada Cho Il Min, grande revolucionário sul-coreano que combateu o regime militar de Syngman Rhee – e, depois, de Pak Jong Ri – durante vários anos e veio a se exilar na Coreia do norte nos anos 70 por conta da perseguição que sofreu na Coreia do sul. Nos dias de hoje, é um dos principais líderes da Frente Democrática Nacional Antiimperialista, organização que atua de forma clandestina na Coreia do sul (ilegalizada por conta da Lei de Segurança Nacional sul-coreana) e luta pela reunificação pacífica do país. Apesar de ser impossível enumerar todos os momentos que nos marcaram durante nossas visitas ao país por conta de terem sido muitos, também impressionamo-nos com a forma descontraída com a qual os coreanos falam sobre assuntos externos e sobre os próprios assuntos internos: quando comentávamos com eles sobre as mentiras que a imprensa pró-imperialista lançava contra a RPDC (como quando foi publicado em vários jornais que a Coreia teria falsificado o resultado do jogo com o Brasil na Copa do Mundo, ou que as autoridades do país teriam baixado uma lei que proibia as mulheres de usar calças, por exemplo), todos riam e ironizavam o que falávamos. E, ao mesmo tempo em que faziam piadas que satirizavam as mentiras, também ficavam bastante felizes em verem que há pessoas que se solidarizavam com a luta do povo coreano. 

No dia 14 de abril de 2012, quando assistimos o desfile militar feito por ocasião da comemoração do centenário do Presidente Kim Il Sung, vimos passar vários tanques de guerra, mísseis intercontinentais e outras armas com grande poder de dissuasão em posse da República Popular e Democrática. A sincronia com a qual marchavam os soldados do Exército Popular da Coreia e da Guarda Operário-Camponesa impressionava também, diferindo bastante das marchas militares que víamos no nosso próprio país em dias importantes como a comemoração da Independência. Nesse mesmo dia, escutamos o primeiro discurso público do camarada Kim Jong Un, líder máximo da RPDC. Sua voz imponente e suas belas palavras, que através da consigna “Em frente para a vitória final!” chamavam o povo coreano para que se levantasse como um vulcão para a construção de uma próspera potência socialista, para que se materializasse para sempre os feitos de Kim Il Sung e Kim Jong Il na Revolução e na construção e que apontavam para a necessidade de se fortalecer a capacidade combativa do Exército Popular da Coreia levaram a população presente, ao final do discurso, a dar uma salva de palmas e a entusiasmados salves de longa vida ao camarada Kim Jong Un. Pudemos vê-lo a uma pequena distância de cerca de cinco metros.

Entre esses momentos, vários outros mereciam ser citados, mas preferimos citá-los em outras ocasiões.

C.P.L.: A grande mídia passa uma impressão que a Coréia Socialista é uma ditadura extremamente fechada para o mundo, onde o povo passa grandes necessidades e a forma de governo adotada é semelhante à uma monarquia. Nesse caso a mídia fala a verdade ou é apenas mais uma de suas mentiras?

- S.C.P.: Nada mais falso e ideologizado do que isso. Antes de tudo, não se pode pôr conceitos classistas (“ditadura”, “democracia”, “liberdade” etc.) como universais. Se, por um lado, o governo da RPD da Coreia é uma democracia para a classe operária, para os camponeses e para as demais massas populares, pode ser muito bem uma ditadura para o imperialismo, para a burguesia (que, em termos econômicos, não existe mais na RPDC) e para os demais reacionários que violam essa mesma ditadura. A Coreia do norte não é um “país fechado”, mas um país que optou pelo caminho da construção de uma nova sociedade soberana, próspera, independente e socialista. E, desde a libertação do norte do país em 1945, tem sido submetida a um sem-número de ameaças, provocações e sanções comerciais e financeiras. Tudo isso, claro, contribui para dificultar a expansão do comércio exterior norte-coreano e a cooperação com outros países.  Apesar disso, a Coreia do norte mantém relações diplomáticas com mais de 100 países e baseia suas relações exteriores nos princípios da independência, da não interferência em assuntos internos e no benefício mútuo. Pela nossa própria experiência, o tratamento que todos os coreanos deram a nós foi impecável. Todos muito educados, comunicativos, brincalhões e que estão a par, sim, do que acontece no mundo afora. O companheiro Kang, tradutor de nossos amigos colombianos, por exemplo, conhecia vários times de futebol do Brasil e se dizia torcedor do Corinthians. Falava um espanhol impecável apesar de nunca ter viajado para o exterior. É comum ver coreanos que estudaram ou moraram em países amigos da RPDC (como Cuba, Angola, Moçambique, Brasil etc.) e, portanto, nunca ficávamos constrangidos em comentar com eles sobre questões de relevo de outros países. As conversas eram sempre ótimas.

Sobre a questão das necessidades, é um assunto que merece uma análise mais aprofundada: A Revolução Coreana foi feita numa sociedade colonial e semi-feudal, com uma economia baseada em explorações agrícolas atrasadas pelos latifundiários japoneses (ou coreanos pró-japoneses) e na indústria extrativa, utilizada para a exportação de matérias-primas (minério de ferro, carvão, ouro etc.) para a produção industrial japonesa. Num período histórico extremamente curto (1945-1949), a Coreia do norte realizou suas reformas democráticas que consistiram na realização da reforma agrária, no confisco do capital japonês, na nacionalização das indústrias e de todas as propriedades japonesas em solo coreano, na formação de um novo poder político democrático-popular e entre outras medidas democráticas. Em fins da década de 50, após a reconstrução do país depois de uma guerra de três anos (1950-1953) causada pela invasão dos Estados Unidos, da Coreia do Sul, do Japão e de mais 15 países satélites mobilizados, a governo norte-coreano declarou que a etapa democrática da Revolução já havia sido encerrada e que a nova etapa seria a da construção do socialismo. Em menos de 20 anos, a Coreia do norte industrializou quase a totalidade da sua economia e, em meados dos anos 70, quase 100% da sua agricultura já se encontrava sob o sistema de mecanização. Em 1990, a Coreia do norte produzia 12 milhões de toneladas de cereais e importava cerca de 1 milhão. Nessa mesma época, porém, produziu-se na arena internacional um retrocesso enorme que foi a queda da URSS e dos países soviéticos do Leste Europeu. A RPD da Coreia perdeu os seus principais parceiros comerciais e o fornecimento de mais uma série de produtos importantíssimos para o desenvolvimento econômico. Apesar de ter desenvolvido uma economia independente, que se baseava nos próprios recursos naturais para o desenvolvimento  e que se industrializou quase sem a ajuda externa, a Coreia importava todo o seu petróleo da URSS, por exemplo. Com o corte no fornecimento de petróleo, não havia como produzir fertilizantes (dado que o petróleo é necessário no processo de fabricação de fertilizantes) e nem havia mais combustível para abastecer os tratores – algo que se traduziu na queda do nível técnico da produção agrícola e na consequente fome por várias regiões do país. A falta de fertilidade do solo num país onde as montanhas cobrem 80% do território e o clima não é o melhor dos fatores que ajudam no desenvolvimento da produção agrícola, é necessária uma série de inovações técnicas para a fertilização de mais áreas e para o aumento da produtividade do trabalho na agricultura. Sem isso, a produção estagna – na prática, foi o que aconteceu.

Os anos 90, na Coreia do norte, também foram marcados por seguidos desastres naturais como tufões, chuvas torrenciais, ventanias, enchentes etc. que foram responsáveis por fazer despencar a produção agrícola em mais de 50%. A japonesa Nada Takashi, em seu livro Korea in Kim Jong Il’s Era, conta que em 1995 uma enchente atingiu o país fazendo-o perder mais de 2,2 mil hectares de plantações.

Frente a essa situação, na qual se tornava quase impossível a importação dos produtos de outros países por conta das sanções econômicas e pelo fato de a maior parte das reservas cambiais norte-coreanas estarem acumuladas, até então, em rublos, pode-se afirmar de fato que meados dos anos 90 foi o tempo, realmente, pela qual a população passou necessidades. Não por conta de um “governo hermético” que quis “submeter sua população à fome” e destruir a própria agricultura porque era malvado, mas sim por uma situação externa (e interna, de certa medida) desfavorável. 
A Coreia Popular, sob a liderança de Kim Jong Il, foi capaz de superar as dificuldades se baseando na indústria nacional independente e retomar o seu desenvolvimento. Quando visitamos a RPDC em 2011, embora o país ainda passasse visivelmente por dificuldades (Pyongyang a noite era bastante escura, o nível técnico da produção agrícola ainda estava baixo e a linha de transportes públicos estava bastante sucateada), a situação já havia sido superada em grande parte e uma série de novas metas para a produção estava sendo estabelecida. Quando visitamos a Coreia em abril de 2012, a impressão era que o país havia se desenvolvido trinta anos em apenas um. Alguns dias antes de entrarmos no país, a Usina Hidrelétrica de Huichon havia sido construída e Pyongyang à noite era uma cidade totalmente iluminada. Novos e luxuosos apartamentos estavam sendo construídos em cada quarteirão pelo Exército Popular da Coreia. As ruas estavam cheias de carros (tanto de marcas estrangeiras quando da indústria automotiva norte-coreana, a Pyeonghwa), com direito até a pequenos trânsitos em dias de comemoração. Quando íamos a locais de como parques de diversão e zoológicos, por exemplo, via-se muitas pessoas com câmeras fotográficas, celulares i-touch produzidos pela Koryolink (empresa de tipo joint-venture entre a Coreia do norte e a egípcia Orascom) e os estabelecimentos estavam repletos de novos objetos de consumo. Convencemo-nos realmente de que só as relações de produção socialistas e o planejamento central da economia poderiam superar as dificuldades. 

Da nossa parte, falamos: A Coreia Socialista está de parabéns. Mostrou ao mundo, em meio a uma série de provocações e situações adversas, que será uma próspera potência em não muito tempo.

C.P.L.: Na sua opinião de vocês, qual é o motivo dessas distorções?

- S.C.P.: Os motivos são muito claros. O monopólio privado nos meios de comunicação prostitui a imprensa aos interesses dos grandes grupos empresariais, que lucram por meio das guerras, das pilhagens e da exportação de capital. Tais grupos não estão nem um pouco interessados em ver países seguindo vias independentes do desenvolvimento. Aos que a seguem, sobram as agressões, provocações e sanções econômicas. Tudo isso com o aval do braço midiático dos grandes capitalistas agindo sob a bandeira da “liberdade de imprensa”. 

C.P.L.: E sobre a questão militar? A mídia tem responsabilizado essa nação como uma grande ameaça à região e ao mundo. Isso é verdade? Vocês apontariam outras mentiras inventadas pela imprensa nacional e internacional?

- S.C.P.: Sobre essa questão, também é necessário nos determos mais profundamente. Em 1932, ano em que Kim Il Sung funda o Exército Popular Revolucionário da Coreia para libertar o país do imperialismo japonês, começa a ser aplicada nas áreas libertadas pelo EPRC e no próprio ideológico da organização uma política que é conhecida pelos coreanos como Songun. Essa política tem como princípio, em resumo, dar prioridade aos assuntos militares na Revolução e a confiança de que a Revolução avança, se constrói e se mantém com base no fuzil. Em meados dos anos 60, na época em que a Coreia avançava plenamente na sua construção socialista e completava sua industrialização, a Política Songun passa a ser aplicada de forma mais aberta em face das provocações do regime títere sul-coreano e dos Estados Unidos. 

Apesar de uma aplicação mais aberta da Política Songun, a situação da Península Coreana, até o início dos anos 90, é marcada ainda por um profundo desequilíbrio em termos de questões militares: Os Estados Unidos mantêm 40 mil tropas na Coreia do Sul, estacionadas em cerca de 40 bases militares. O exército fantoche sul-coreano possui um efetivo de mais de 700 mil pessoas e o país tem posse de mais de mil armas nucleares depositadas em bases militares norte-americanas. A Coreia do Sul e os Estados Unidos realizam exercícios militares conjuntos, de simulação de guerra contra a Coreia do norte, quase todos os meses. A RPDC, que na época não gastava mais que 1% do orçamento anual com defesa e possuía um exército pouco moderno com um efetivo de cerca de 200 mil pessoas, que durante cinco mil anos de história esteve em guerra com apenas um país, permanecia frente a frente no embate com a maior potência militar do mundo, que esteve em guerra com mais de 25 países nos últimos 100 anos, que detém mais de 5 mil ogivas nucleares terrestres, que gasta mais de metade do seu orçamento anual com defesa (800 bilhões de dólares – metade dos gastos mundiais com defesa são de um país que atende pelo nome de “Estados Unidos da América”, autodenominado bastião da democracia e dos direitos humanos) enquanto corta gastos em saúde, educação e desenvolvimento econômico, que usou mão da bomba atômica duas vezes e utilizou armas bacteriológicas contra dezenas de povos que nada queriam além de sua autonomia.

Os anos 90, que marcaram a queda da URSS, do bloco soviético e da exacerbação das agressões contra os povos por conta da crise econômica do imperialismo, não podiam deixar de incluir um país como a RPDC no meio. Para que não acabasse como a Iugoslávia do novo século, como o atual Iraque, como o Afeganistão ou como a Líbia, a Coreia começa a por a Política Songun como o modo fundamental da política socialista. Passa a desenvolver suas próprias armas nucleares, mísseis intercontinentais, aumenta seu efetivo militar para mais de um milhão de pessoas e se mostra pronto para responder a quaisquer provocações dos Estados Unidos e do seu cão de guarda militarista, a “República da Coreia” (Coreia do sul). Apesar de os gastos com defesa terem aumentado muito após os anos 90, atualmente a Coreia do norte gasta 16% do seu orçamento anual com defesa. Muito inferior aos gastos dos próprios Estados Unidos, que gastam mais de 50% do orçamento em questões militares.

Não necessitamos sequer dizer quem é a ameaça na história. Deixamos os fatos falarem por si só.

C.P.L.: Nesse caso, qual é o papel do imperialismo nesses conflitos e qual o interesse deste no que tange à questão da reunificação da Coreia?

- S.C.P.: O papel do imperialismo, como já demonstrado pela realidade, é de suprimir todas as tendências do povo coreano pela reunificação pacífica e sem ingerência externa da Península. Após a libertação do norte da Coreia por meio de operações conjuntas do EPRC de Kim Il Sung e do Exército Vermelho Soviética, seguida pela a ocupação do sul pelo imperialismo norte-americano, concordou-se na Conferência de Moscou em se formar um governo unificado, democrático e independente na Coreia. A Coreia, que até então não estava tecnicamente dividida em dois países diferentes como hoje em dia (República Popular Democrática da Coreia, no norte, e República da Coreia, no sul), existindo tanto na parte sul quanto na parte norte os “Governo Provisório da Coreia do Sul” e “Governo Provisório da Coreia do Norte”, foi admitido unanimemente tanto na parte norte quanto na parte sul fazer eleições gerais para eleger um governo unificado com a participação de todos os compatriotas. Na Conferência de Moscou, também, foi decidida a retirada de todas as tropas estrangeiras de território coreano num prazo de cinco anos.

Com efeito, em fins de 1948 a URSS retira todas as suas tropas do norte da Coreia, cumprindo assim o que foi decidido na Conferência de Moscou. O mesmo não acontece no sul da Coreia, onde as tropas norte-americanas seguem estacionadas até hoje. Ou seja: muito provavelmente, trata-se da mais longa ocupação militar dos nossos dias, que já dura há quase setenta anos.

Duas linhas diametralmente opostas se confrontam para resolver a questão da reunificação da Coreia: O governo sul-coreano, submisso ao imperialismo em todos os sentidos, defende que o país seja reunificado pelas vias da invasão e da anexação – ou seja –, o país inteiro se torna uma enorme “República da Coreia” e o norte abandona sua forma de governo, sua ideologia e sua construção econômica socialistas. O governo do norte da Coreia, em contrapartida, adota como princípio básico a reunificação do país por vias pacíficas e de conciliação, tendo como documento-guia o “Programa de Dez Pontos da Grande Unidade Pan Nacional para a Reunificação da Pátria”, escrito pelo Presidente Kim Il Sung em 1993 e que afirma, em síntese, que a reunificação do país deve ser lograda por meio dos acordos entre as duas partes, sem ingerência externa em nenhuma das partes. A Coreia deve ser uma só nação, um só país e um só território, mas com dois governos autônomos, duas formas de propriedade sob os meios de produção e duas ideologias. Estabelece-se, dessa maneira, a reunificação por meio de um governo confederativo que passe por cima de todas as ideologias para lograr a causa da reunificação de um país que há quase setenta anos sofre o drama da divisão.

C.P.L.: Qual é o grande exemplo desta nação socialista para os povos de todo o mundo? O que a população petropolitana tem a aprender com este país?

- S.C.P.: O exemplo da RPD da Coreia mostra que um baixo grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais não e nunca poderá ser um empecilho para a construção do socialismo. Além disso, a experiência coreana mostra o papel determinante que a questão ideológica tem para a Revolução – de forma que uma ideologia correta ou incorreta determina o sucesso ou o fracasso da empresa revolucionária. O povo coreano, armado com a correta ideologia da Ideia Juche, foi capaz de construir e sustentar seu socialismo mesmo tendo passado por enormes dificuldades no passado.

C.P.L.: Bom, vocês demonstraram de forma bem clara como essa nação tem sido vitimada há decadas pelo imperialismo (principalmente japonês e estadunidense). No incício do ano realizamos um cineclube em solidariedade ao povo coreano (no qual contou com a exibição de um depoimento do Rosendo e de imagens da primeira viagem de vocês ao país), mas sabemos que ainda é pouco. Como os trabalhadores de Petrópolis podem ajudar essa nação na sua luta por um mundo justo e independente?
 
- S.C.P.: O povo de Petrópolis pode contribuir muito com o movimento de solidariedade com a Coreia Popular através da organização de estudos planificados da Ideia Juche e da história do país, através da divulgação e da leitura do blog Solidariedade à Coreia Popular e contribuindo com artigos, novas teses teóricas e análises sobre a situação norte-coreana.