O Comitê Petrópolis em Luta, organização ligada ao Movimento Nacional de Lutas contra o Neoliberalismo (MNLCN) e que luta pelos direitos do povo através de diversas formas, por meio de debates, atividades culturais etc. realizou uma entrevista com a equipe do blog Solidariedade à Coreia Popular por motivo da última viagem feita pelo comitê editorial do sítio à RPD da Coreia, em abril de 2012. Disponibilizamo-la aos leitores da página.
Comitê Petrópolis em Luta: Quantas viagens vocês já fizeram até a Coréia Socialista?
- Solidariedade à Coreia Popular: Estivemos na República
Popular Democrática da Coreia duas vezes, em abril de 2011 e abril de 2012. No
ano de 2011, viajamos para a RPDC para conhecer a situação do país, das
empresas, escolas, fazendas cooperativas ou estatais e locais de interesse
histórico ou político, para participar do Seminário da Ideia Juche e para
conhecer o antigo Palácio Memorial Kumsusan (atual Palácio do Sol Kumsusan),
mausoléu de Kim Il Sung. Nossa visita à Coreia no ano de 2012 teve um caráter
diferente, pois apesar de também termos visitado empresas, participamos de
muitas comemorações por ocasião do aniversário do centenário do Presidente Kim
Il Sung, assistimos a desfiles militares, encontramo-nos com políticos e participamos
do Congresso Mundial da Ideia Juche, que contou com a participação de adeptos
do Juche de quase todos os países.
C.P.L.: Como se iniciou a relação de vocês com esse país e a própria ideia de ir até lá?
- S.C.P.: Há um bom tempo possuíamos enorme interesse em conhecer
a RPD da Coreia pela sua história de mais de 60 anos de resistência contra o
imperialismo, pela democracia e pela construção do socialismo. Nossa vontade se
esbarrava com o fato de os materiais sobre a Coreia do norte aqui no Brasil
serem escassos e por conta de o papel da imprensa, obviamente, apontar sempre
para deixar o estudo de lado e adotar o senso comum burguês contra o país, que
tenta dar um caráter universal a valores particulares (“democracia”,
“liberdade” etc.) e acatar inclusive as mentiras mais absurdas contra a Coreia.
Entretanto, mantivemos como máxima a análise marxista-leninista segundo a qual
a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante e seguimos no estudo da
experiência socialista da Coreia Democrática, sem preconceitos e recuperando
nossa autonomia ideológica. À medida que estudávamos essa experiência,
sentíamos o compromisso de compartilhar com outros comunistas e revolucionários
de nosso país mais informações sobre a RPDC, da feita que até então poucos além
de nós a conheciam detalhadamente e muitos se deixavam levar pela propaganda
ideológica do imperialismo. Como forma de efetivar essa nossa demanda, críamos
o blog Solidariedade à Coreia Popular e, num prazo de cerca de dois anos,
obtivemos muitos sucessos e nosso número de visitas aumentou exponencialmente,
agregando mais pessoas para que elas pudessem também se solidarizar com a luta
do povo coreano.
Em junho de 2010, encontramo-nos pela primeira vez com
camaradas funcionários da embaixada coreana aqui no Brasil, inclusive com o
próprio embaixador da Coreia Popular, o senhor Ri Hwa Gun. Desde então, a
embaixada tem nos dado enorme ajuda em nosso trabalho de solidariedade. Em
setembro do mesmo ano, numa cerimônia na qual comparecemos para comemorar os 62
anos da fundação da República Popular e Democrática no norte da Coreia,
recebemos um convite para visitar o país no próximo ano (no caso, 2011).
Aceitamos e desde então nosso contato com os coreanos tem sido cada vez
próximo.
C.P.L.: No geral, qual a impressão vocês tiveram dessa nação, tanto através dos estudos quanto por essas viagens?
- S.C.P.: Tanto nossos estudos quanto as vezes que visitamos o
país nos convenceram de que a RPD da Coreia, sob a correta diretriz da Ideia
Juche, construiu um dos melhores modelos de socialismo já conhecidos na
humanidade e que os feitos desse país na Revolução e na construção socialista
são patrimônios não só da Nação coreana como também dos povos progressistas de
todo o mundo. A Coreia do norte, que elevou alto a bandeira vermelha da
Revolução enquanto quase todos os países e partidos que outrora se diziam tão
“revolucionários” deixaram-na cair por terra, que manteve alto essa mesma
bandeira quando a construção socialista na RPDC passava por um período de
enormes dificuldades, desconhecidas até então, mostrou o quanto sua causa e
suas concepções são corretas e que, portanto, merecem nosso apoio, nossa
solidariedade e que estudemos mais a fundo essa experiência tendo em vista
extrair lições corretas para travar corretamente a luta revolucionária em nosso
país.
C.P.L.: Qual foi o momento mais marcantes dessas viagens? Poderiam descrevê-lo?
- S.C.P.: Um dos momentos inesquecíveis foi no dia 14 de abril de
2011, quando encontramos pessoalmente o camarada Cho Il Min, grande
revolucionário sul-coreano que combateu o regime militar de Syngman Rhee – e,
depois, de Pak Jong Ri – durante vários anos e veio a se exilar na Coreia do
norte nos anos 70 por conta da perseguição que sofreu na Coreia do sul. Nos
dias de hoje, é um dos principais líderes da Frente Democrática Nacional
Antiimperialista, organização que atua de forma clandestina na Coreia do sul
(ilegalizada por conta da Lei de Segurança Nacional sul-coreana) e luta pela
reunificação pacífica do país. Apesar de ser impossível enumerar todos os
momentos que nos marcaram durante nossas visitas ao país por conta de terem
sido muitos, também impressionamo-nos com a forma descontraída com a qual os
coreanos falam sobre assuntos externos e sobre os próprios assuntos internos:
quando comentávamos com eles sobre as mentiras que a imprensa pró-imperialista
lançava contra a RPDC (como quando foi publicado em vários jornais que a Coreia
teria falsificado o resultado do jogo com o Brasil na Copa do Mundo, ou que as
autoridades do país teriam baixado uma lei que proibia as mulheres de usar
calças, por exemplo), todos riam e ironizavam o que falávamos. E, ao mesmo
tempo em que faziam piadas que satirizavam as mentiras, também ficavam bastante
felizes em verem que há pessoas que se solidarizavam com a luta do povo
coreano.
No dia 14 de abril de 2012, quando assistimos o desfile
militar feito por ocasião da comemoração do centenário do Presidente Kim Il
Sung, vimos passar vários tanques de guerra, mísseis intercontinentais e outras
armas com grande poder de dissuasão em posse da República Popular e Democrática.
A sincronia com a qual marchavam os soldados do Exército Popular da Coreia e da
Guarda Operário-Camponesa impressionava também, diferindo bastante das marchas
militares que víamos no nosso próprio país em dias importantes como a
comemoração da Independência. Nesse mesmo dia, escutamos o primeiro discurso
público do camarada Kim Jong Un, líder máximo da RPDC. Sua voz imponente e suas
belas palavras, que através da consigna “Em frente para a vitória final!” chamavam
o povo coreano para que se levantasse como um vulcão para a construção de uma
próspera potência socialista, para que se materializasse para sempre os feitos
de Kim Il Sung e Kim Jong Il na Revolução e na construção e que apontavam para
a necessidade de se fortalecer a capacidade combativa do Exército Popular da
Coreia levaram a população presente, ao final do discurso, a dar uma salva de
palmas e a entusiasmados salves de longa vida ao camarada Kim Jong Un. Pudemos
vê-lo a uma pequena distância de cerca de cinco metros.
Entre esses momentos, vários outros mereciam ser citados,
mas preferimos citá-los em outras ocasiões.
C.P.L.: A grande mídia passa uma impressão que a Coréia Socialista é uma ditadura extremamente fechada para o mundo, onde o povo passa grandes necessidades e a forma de governo adotada é semelhante à uma monarquia. Nesse caso a mídia fala a verdade ou é apenas mais uma de suas mentiras?
- S.C.P.: Nada mais falso e ideologizado do que isso. Antes de
tudo, não se pode pôr conceitos classistas (“ditadura”, “democracia”,
“liberdade” etc.) como universais. Se, por um lado, o governo da RPD da Coreia
é uma democracia para a classe operária, para os camponeses e para as demais
massas populares, pode ser muito bem uma ditadura para o imperialismo, para a
burguesia (que, em termos econômicos, não existe mais na RPDC) e para os demais
reacionários que violam essa mesma ditadura. A Coreia do norte não é um “país
fechado”, mas um país que optou pelo caminho da construção de uma nova sociedade
soberana, próspera, independente e socialista. E, desde a libertação do norte
do país em 1945, tem sido submetida a um sem-número de ameaças, provocações e
sanções comerciais e financeiras. Tudo isso, claro, contribui para dificultar a
expansão do comércio exterior norte-coreano e a cooperação com outros
países. Apesar disso, a Coreia do norte
mantém relações diplomáticas com mais de 100 países e baseia suas relações
exteriores nos princípios da independência, da não interferência em assuntos
internos e no benefício mútuo. Pela nossa própria experiência, o tratamento que
todos os coreanos deram a nós foi impecável. Todos muito educados,
comunicativos, brincalhões e que estão a par, sim, do que acontece no mundo
afora. O companheiro Kang, tradutor de nossos amigos colombianos, por exemplo,
conhecia vários times de futebol do Brasil e se dizia torcedor do Corinthians.
Falava um espanhol impecável apesar de nunca ter viajado para o exterior. É
comum ver coreanos que estudaram ou moraram em países amigos da RPDC (como
Cuba, Angola, Moçambique, Brasil etc.) e, portanto, nunca ficávamos
constrangidos em comentar com eles sobre questões de relevo de outros países.
As conversas eram sempre ótimas.
Sobre a questão das necessidades, é um assunto que merece uma
análise mais aprofundada: A Revolução Coreana foi feita numa sociedade colonial
e semi-feudal, com uma economia baseada em explorações agrícolas atrasadas
pelos latifundiários japoneses (ou coreanos pró-japoneses) e na indústria
extrativa, utilizada para a exportação de matérias-primas (minério de ferro,
carvão, ouro etc.) para a produção industrial japonesa. Num período histórico
extremamente curto (1945-1949), a Coreia do norte realizou suas reformas
democráticas que consistiram na realização da reforma agrária, no confisco do
capital japonês, na nacionalização das indústrias e de todas as propriedades
japonesas em solo coreano, na formação de um novo poder político
democrático-popular e entre outras medidas democráticas. Em fins da década de
50, após a reconstrução do país depois de uma guerra de três anos (1950-1953)
causada pela invasão dos Estados Unidos, da Coreia do Sul, do Japão e de mais
15 países satélites mobilizados, a governo norte-coreano declarou que a etapa
democrática da Revolução já havia sido encerrada e que a nova etapa seria a da
construção do socialismo. Em menos de 20 anos, a Coreia do norte industrializou
quase a totalidade da sua economia e, em meados dos anos 70, quase 100% da sua
agricultura já se encontrava sob o sistema de mecanização. Em 1990, a Coreia do
norte produzia 12 milhões de toneladas de cereais e importava cerca de 1
milhão. Nessa mesma época, porém, produziu-se na arena internacional um
retrocesso enorme que foi a queda da URSS e dos países soviéticos do Leste
Europeu. A RPD da Coreia perdeu os seus principais parceiros comerciais e o
fornecimento de mais uma série de produtos importantíssimos para o
desenvolvimento econômico. Apesar de ter desenvolvido uma economia
independente, que se baseava nos próprios recursos naturais para o
desenvolvimento e que se industrializou
quase sem a ajuda externa, a Coreia importava todo o seu petróleo da URSS, por
exemplo. Com o corte no fornecimento de petróleo, não havia como produzir
fertilizantes (dado que o petróleo é necessário no processo de fabricação de
fertilizantes) e nem havia mais combustível para abastecer os tratores – algo
que se traduziu na queda do nível técnico da produção agrícola e na consequente
fome por várias regiões do país. A falta de fertilidade do solo num país onde
as montanhas cobrem 80% do território e o clima não é o melhor dos fatores que
ajudam no desenvolvimento da produção agrícola, é necessária uma série de
inovações técnicas para a fertilização de mais áreas e para o aumento da
produtividade do trabalho na agricultura. Sem isso, a produção estagna – na
prática, foi o que aconteceu.
Os anos 90, na Coreia do norte, também foram marcados por
seguidos desastres naturais como tufões, chuvas torrenciais, ventanias,
enchentes etc. que foram responsáveis por fazer despencar a produção agrícola
em mais de 50%. A japonesa Nada Takashi, em seu livro Korea in Kim Jong Il’s
Era, conta que em 1995 uma enchente atingiu o país fazendo-o perder mais de 2,2
mil hectares de plantações.
Frente a essa situação, na qual se tornava quase impossível
a importação dos produtos de outros países por conta das sanções econômicas e
pelo fato de a maior parte das reservas cambiais norte-coreanas estarem
acumuladas, até então, em rublos, pode-se afirmar de fato que meados dos anos 90
foi o tempo, realmente, pela qual a população passou necessidades. Não por
conta de um “governo hermético” que quis “submeter sua população à fome” e
destruir a própria agricultura porque era malvado, mas sim por uma situação
externa (e interna, de certa medida) desfavorável.
A Coreia Popular, sob a liderança de Kim Jong Il, foi capaz
de superar as dificuldades se baseando na indústria nacional independente e
retomar o seu desenvolvimento. Quando visitamos a RPDC em 2011, embora o país
ainda passasse visivelmente por dificuldades (Pyongyang a noite era bastante
escura, o nível técnico da produção agrícola ainda estava baixo e a linha de
transportes públicos estava bastante sucateada), a situação já havia sido
superada em grande parte e uma série de novas metas para a produção estava
sendo estabelecida. Quando visitamos a Coreia em abril de 2012, a impressão era
que o país havia se desenvolvido trinta anos em apenas um. Alguns dias antes de
entrarmos no país, a Usina Hidrelétrica de Huichon havia sido construída e
Pyongyang à noite era uma cidade totalmente iluminada. Novos e luxuosos
apartamentos estavam sendo construídos em cada quarteirão pelo Exército Popular
da Coreia. As ruas estavam cheias de carros (tanto de marcas estrangeiras
quando da indústria automotiva norte-coreana, a Pyeonghwa), com direito até a
pequenos trânsitos em dias de comemoração. Quando íamos a locais de como
parques de diversão e zoológicos, por exemplo, via-se muitas pessoas com
câmeras fotográficas, celulares i-touch produzidos pela Koryolink (empresa de
tipo joint-venture entre a Coreia do norte e a egípcia Orascom) e os
estabelecimentos estavam repletos de novos objetos de consumo. Convencemo-nos
realmente de que só as relações de produção socialistas e o planejamento
central da economia poderiam superar as dificuldades.
Da nossa parte, falamos: A Coreia Socialista está de
parabéns. Mostrou ao mundo, em meio a uma série de provocações e situações
adversas, que será uma próspera potência em não muito tempo.
C.P.L.: Na sua opinião de vocês, qual é o motivo dessas distorções?
- S.C.P.: Os motivos são muito claros. O monopólio privado nos
meios de comunicação prostitui a imprensa aos interesses dos grandes grupos
empresariais, que lucram por meio das guerras, das pilhagens e da exportação de
capital. Tais grupos não estão nem um pouco interessados em ver países seguindo
vias independentes do desenvolvimento. Aos que a seguem, sobram as agressões,
provocações e sanções econômicas. Tudo isso com o aval do braço midiático dos
grandes capitalistas agindo sob a bandeira da “liberdade de imprensa”.
C.P.L.: E sobre a questão militar? A mídia tem responsabilizado essa nação como uma grande ameaça à região e ao mundo. Isso é verdade? Vocês apontariam outras mentiras inventadas pela imprensa nacional e internacional?
- S.C.P.: Sobre essa questão, também é necessário nos determos
mais profundamente. Em 1932, ano em que Kim Il Sung funda o Exército Popular
Revolucionário da Coreia para libertar o país do imperialismo japonês, começa a
ser aplicada nas áreas libertadas pelo EPRC e no próprio ideológico da
organização uma política que é conhecida pelos coreanos como Songun. Essa
política tem como princípio, em resumo, dar prioridade aos assuntos militares
na Revolução e a confiança de que a Revolução avança, se constrói e se mantém
com base no fuzil. Em meados dos anos 60, na época em que a Coreia avançava
plenamente na sua construção socialista e completava sua industrialização, a
Política Songun passa a ser aplicada de forma mais aberta em face das
provocações do regime títere sul-coreano e dos Estados Unidos.
Apesar de uma aplicação mais aberta da Política Songun, a
situação da Península Coreana, até o início dos anos 90, é marcada ainda por um
profundo desequilíbrio em termos de questões militares: Os Estados Unidos
mantêm 40 mil tropas na Coreia do Sul, estacionadas em cerca de 40 bases
militares. O exército fantoche sul-coreano possui um efetivo de mais de 700 mil
pessoas e o país tem posse de mais de mil armas nucleares depositadas em bases
militares norte-americanas. A Coreia do Sul e os Estados Unidos realizam
exercícios militares conjuntos, de simulação de guerra contra a Coreia do
norte, quase todos os meses. A RPDC, que na época não gastava mais que 1% do
orçamento anual com defesa e possuía um exército pouco moderno com um efetivo
de cerca de 200 mil pessoas, que durante cinco mil anos de história esteve em
guerra com apenas um país, permanecia frente a frente no embate com a maior
potência militar do mundo, que esteve em guerra com mais de 25 países nos
últimos 100 anos, que detém mais de 5 mil ogivas nucleares terrestres, que
gasta mais de metade do seu orçamento anual com defesa (800 bilhões de dólares
– metade dos gastos mundiais com defesa são de um país que atende pelo nome de
“Estados Unidos da América”, autodenominado bastião da democracia e dos
direitos humanos) enquanto corta gastos em saúde, educação e desenvolvimento
econômico, que usou mão da bomba atômica duas vezes e utilizou armas
bacteriológicas contra dezenas de povos que nada queriam além de sua autonomia.
Os anos 90, que marcaram a queda da URSS, do bloco soviético
e da exacerbação das agressões contra os povos por conta da crise econômica do
imperialismo, não podiam deixar de incluir um país como a RPDC no meio. Para
que não acabasse como a Iugoslávia do novo século, como o atual Iraque, como o
Afeganistão ou como a Líbia, a Coreia começa a por a Política Songun como o
modo fundamental da política socialista. Passa a desenvolver suas próprias
armas nucleares, mísseis intercontinentais, aumenta seu efetivo militar para mais
de um milhão de pessoas e se mostra pronto para responder a quaisquer
provocações dos Estados Unidos e do seu cão de guarda militarista, a “República
da Coreia” (Coreia do sul). Apesar de os gastos com defesa terem aumentado
muito após os anos 90, atualmente a Coreia do norte gasta 16% do seu orçamento
anual com defesa. Muito inferior aos gastos dos próprios Estados Unidos, que
gastam mais de 50% do orçamento em questões militares.
Não necessitamos sequer dizer quem é a ameaça na história.
Deixamos os fatos falarem por si só.
C.P.L.: Nesse caso, qual é o papel do imperialismo nesses conflitos e qual o interesse deste no que tange à questão da reunificação da Coreia?
- S.C.P.: O papel do imperialismo, como já demonstrado pela
realidade, é de suprimir todas as tendências do povo coreano pela reunificação
pacífica e sem ingerência externa da Península. Após a libertação do norte da
Coreia por meio de operações conjuntas do EPRC de Kim Il Sung e do Exército
Vermelho Soviética, seguida pela a ocupação do sul pelo imperialismo
norte-americano, concordou-se na Conferência de Moscou em se formar um governo
unificado, democrático e independente na Coreia. A Coreia, que até então não
estava tecnicamente dividida em dois países diferentes como hoje em dia
(República Popular Democrática da Coreia, no norte, e República da Coreia, no
sul), existindo tanto na parte sul quanto na parte norte os “Governo Provisório
da Coreia do Sul” e “Governo Provisório da Coreia do Norte”, foi admitido
unanimemente tanto na parte norte quanto na parte sul fazer eleições gerais
para eleger um governo unificado com a participação de todos os compatriotas.
Na Conferência de Moscou, também, foi decidida a retirada de todas as tropas
estrangeiras de território coreano num prazo de cinco anos.
Com efeito, em fins de 1948 a URSS retira todas as suas
tropas do norte da Coreia, cumprindo assim o que foi decidido na Conferência de
Moscou. O mesmo não acontece no sul da Coreia, onde as tropas norte-americanas
seguem estacionadas até hoje. Ou seja: muito provavelmente, trata-se da mais
longa ocupação militar dos nossos dias, que já dura há quase setenta anos.
Duas linhas diametralmente opostas se confrontam para
resolver a questão da reunificação da Coreia: O governo sul-coreano, submisso
ao imperialismo em todos os sentidos, defende que o país seja reunificado pelas
vias da invasão e da anexação – ou seja –, o país inteiro se torna uma enorme
“República da Coreia” e o norte abandona sua forma de governo, sua ideologia e
sua construção econômica socialistas. O governo do norte da Coreia, em
contrapartida, adota como princípio básico a reunificação do país por vias
pacíficas e de conciliação, tendo como documento-guia o “Programa de Dez Pontos
da Grande Unidade Pan Nacional para a Reunificação da Pátria”, escrito pelo
Presidente Kim Il Sung em 1993 e que afirma, em síntese, que a reunificação do
país deve ser lograda por meio dos acordos entre as duas partes, sem ingerência
externa em nenhuma das partes. A Coreia deve ser uma só nação, um só país e um
só território, mas com dois governos autônomos, duas formas de propriedade sob
os meios de produção e duas ideologias. Estabelece-se, dessa maneira, a reunificação
por meio de um governo confederativo que passe por cima de todas as ideologias
para lograr a causa da reunificação de um país que há quase setenta anos sofre
o drama da divisão.
C.P.L.: Qual é o grande exemplo desta nação socialista para os povos de todo o mundo? O que a população petropolitana tem a aprender com este país?
- S.C.P.: O exemplo da RPD da Coreia mostra que um baixo grau de
desenvolvimento das forças produtivas materiais não e nunca poderá ser um
empecilho para a construção do socialismo. Além disso, a experiência coreana
mostra o papel determinante que a questão ideológica tem para a Revolução – de
forma que uma ideologia correta ou incorreta determina o sucesso ou o fracasso
da empresa revolucionária. O povo coreano, armado com a correta ideologia da
Ideia Juche, foi capaz de construir e sustentar seu socialismo mesmo tendo
passado por enormes dificuldades no passado.
C.P.L.: Bom, vocês demonstraram de forma bem clara como essa nação tem sido vitimada há decadas pelo imperialismo (principalmente japonês e estadunidense). No incício do ano realizamos um cineclube em solidariedade ao povo coreano (no qual contou com a exibição de um depoimento do Rosendo e de imagens da primeira viagem de vocês ao país), mas sabemos que ainda é pouco. Como os trabalhadores de Petrópolis podem ajudar essa nação na sua luta por um mundo justo e independente?
- S.C.P.: O povo de Petrópolis pode contribuir muito com o
movimento de solidariedade com a Coreia Popular através da organização de
estudos planificados da Ideia Juche e da história do país, através da
divulgação e da leitura do blog Solidariedade à Coreia Popular e contribuindo
com artigos, novas teses teóricas e análises sobre a situação norte-coreana.