segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Imprensa da RPDC, Uriminzokkiri, faz análise sobre a questão síria


Alguém se pergunta o que os sírios estão pensando dos rebeldes que dizem estar “libertando a Síria” destruindo o país da mesma maneira como os “rebeldes” fizeram na Líbia.

A Líbia, que nos tempos de Khadaffi era um país bem dirigido, onde as receitas do petróleo eram compartilhadas com o povo líbio, ao invés de ser monopolizado por uma classe monárquica como na Arábia Saudita, é hoje um país sem governo e é assolado por disputas de diversas facções querendo o poder.

Como ninguém sabia quem eram os “rebeldes” líbios, com elementos da Al Qaeda entre eles, ninguém quem são os “rebeldes” sírios, nem se de fato são rebeldes. Alguns “rebeldes” parecem ser grupos de bandidos que querem aproveitar a oportunidade para roubar e estuprar, autodenominando-se “governos” em vilas e cidades. Outros parecem ser da Al Qaeda.

O fato de os “rebeldes” estarem armados é uma indicação da interferência externa. Houve denúncias de que Washington ordenou que seus governos fantoches da Arábia Saudita e do Barein abastecem os “rebeldes” com armas militares. Alguns suspeitam que a explosão que matou o Ministro da Defesa sírio e chefe do governo não foi um homem-bomba suicida, mas por conta de um míssil norte-americano remanescente das fracassadas tentativas de Washington de assassinar Saddam Hussein.

Independente dos fatos, Washington considerou o ataque de terrorismo como um sucesso, declarando que isso mostrou que os rebeldes estariam ganhando “popularidade” e que levou o governo sírio a responder através da abdicação.

O documento abaixo, escrito por uma agência de inteligência, descreve previamente a intervenção terrorista do Ocidente na Síria, em caso de um algo leitor ser ingênuo o suficiente a ponto de achar que “nosso governo nunca faria isso”:

“Para facilitar a ação das forças de libertação (sic!), [...] um esforço especial deve ser feito para eliminar certos indivíduos-chave [...] isso deverá ser feito na primeira etapa da insurreição e intervenção, [...] Uma vez que alguma decisão política tenha levado a distúrbios internos, a CIA, junto o MI-6, estará preparada para montar sabotagens menores e golpes de mestre (sic!) na Síria, trabalhando através de contatos com indivíduos. [...] Os incidentes não devem ser concentrados em Damasco. [...]

Continuando: “um necessário grau de medo [...], de incidentes fronteiriços, dariam um pretexto para a intervenção [...] a CIA e o MI-6 devem usar [...] suas capacidades tanto nos campos psicológico e prático para aumentarem as tensões”. (Documento conjunto da Inteligência Britânico-Americana, Londres e Washington, 1957)

Obama não disse porque seu governo está tão desesperado para derrubar o governo sírio. O atual presidente, Bashar Al-Assad, era um oftalmologista em Londres que retornou para a Síria para substituir seu pai – que havia falecido – como presidente do país.

Washington omite seus verdadeiros motivos, mascarando-os como uma retórica pseudo-humanitária, mas os motivos de Washington são bem claros. Um dos motivos é para se livrar da base naval russa na Síria, despojando a Rússia de sua única base naval no mediterrâneo.

O segundo motivo é eliminar a Síria como fonte de armas e apoio ao Hezbollah, para que Israel possa ter sucesso em sua tentativa de ocupar a parte sul do Líbano e saquear seus recursos hídricos. Os combatentes do Hezbollah já derrotaram duas vezes as tentativas militares de Israel de ocupar e invadir o Líbano do sul.

O terceiro motivo é destruir a unidade da Síria com conflitos sectários, como Washington destruiu a Líbia e o Iraque, e deixar a Síria à mercê de facções criminosas para desmembrar o país retirando assim outro obstáculo para a hegemonia de Washington.

A Síria, Estado árabe secular, como foi o Iraque, é governada por um partido político composto de Alawis, mais ou menos como os muçulmanos xiitas. Os Alawis compõem cerca de 12% da população síria e são vistos como hereges pelos muçulmanos sunitas, que compõem cerca de 74% da população síria. Dessa maneira, a tão orquestrada “insurreição” apela para muitos sunitas que vêem a oportunidade de tomarem o poder. (No Iraque, uma minoria sunita governava para uma maioria xiita, na Síria é o oposto.)

As divisões entre os árabes os tornam vulneráveis à interferência e à tirania do Ocidente. A divisão sunita-xiita torna impossível para um país árabe se unir contra um invasor, ou para que um país árabe ajude o outro. Em 1990, o governo sírio xiita se aliou aos EUA contra o governo sunita do Iraque na Primeira Guerra do Iraque. Nem Lawrence das Arábias, Nasser ou Kadhaffi tiveram sucesso em criarem uma consciência árabe.

O pretexto de Washington para derrubar outros governos por meio da violência é sempre encoberto de uma verborragia moralista. Primeiramente, o alvo é demonizado, e depois a aberta agressão de Washington é descrita como “levamos democracia e liberdade”, “derrubamos um brutal ditador”, “protegemos os direitos das mulheres”.

Pelo jeito, qualquer massagem de ego com palavras pomposas parece funcionar. Hillary Clinton esteve especializada em advogar a derrubada do governo sírio. A mulher imbecil direcionou ameaças contra a Rússia e a China por ousarem bloquear a tentativa de Washington de usarem a resolução da ONU como um pretexto para invadir a Síria.

Washington deturpa, dizendo que a derrubada do governo sírio seria a derrubada de um governo que conduzia terror contra seu próprio povo. Porém, Washington não condenou os seus próprios ataques terroristas ou o do homem-bomba suicida, que matou funcionários de alto nível do governo sírio.

As posições vacilantes de Washington levaram o Ministro do Exterior da Rússia, Sergey Lavrov, a acusar Washington de ter “intenções sinistras”. De fato, Washington tem.

O que surpreende a posição sinistra de Washington quanto ao Iraque, Afeganistão, Líbia, Somalia, Yemen ou Paquistão?

Sem dúvidas, depois que a Síria for derrubada, Washington direcionará suas forças ao Irã. A própria Rússia já está sendo cercada por bases militares norte-americanas, e o governo russo possui uma oposição política desleal e traidora financiada com dinheiro norte-americano.

A China está confrontando o rápido aumento das tropas norte-americanas navais, aéreas e terrestres no Pacífico. Quanto tempo demorará para a China ter uma oposição ao governo desleal e financiada por Washington? A hegemonia está em marcha, mas o que os sunitas sírios vêem é uma oportunidade de derrubar os xiitas Alawites. Os sunitas sírios aliar-se-ão a Washington, apesar do fato de Washington ter derrubado os sunitas no Iraque.

Parece que poucos árabes se importam em serem fantoches de um regime estrangeiro que os provêm com bilhões de dólares. Washington sempre se refere ao presidente sírio Assad como um “ditador” ou “brutal ditador”. Mas, sendo Assad um ditador ou não, ele não possui um papel muito significativo. Em geral, ditadores não permitem que a oposição cresça, menos ainda que ela se arme. Seria muito mais correto dizer que o partido governante é autoritário, mas mesmo o partido que governa introduziu elementos de democracia na nova constituição.

Como prova a experiência do Iraque, os governos árabes precisam ser autoritários se as populações sunita e xiita estiverem engajadas numa guerra civil.

Tanto Bush quanto Obama falam que Washington trouxe “liberdade e democracia” ao Iraque.

Porém, a violência no Iraque está tão ou mais intensa do que sob a ocupação americana. Eis aqui notícias dos últimos dias:

23 de julho: “Uma onda ataques a bomba e tiroteios, em Bagdá e no norte da capital, deixaram ao menos 107 pessoas mortas. Pelo menos 216 ficaram feridas.”

24 de julho: “Um segundo dia de ataques intensificados deixou ao menos 145 iraquianos mortos, e pelo menos 379 foram feridos.”

25 de julho: “Ataques continuam pelo Iraque: 17 mortos, 60 feridos”.

Foi isso que Washington fez pelo Iraque. Longe de trazer a “liberdade e democracia”, Washington trouxe sofrimento e morte intermináveis. E é precisamente isso que Washington quer trazer para a Síria.