A República Popular Democrática da Coreia dede sua fundação sofre constantemente com as inúmeras provocações e ameaças de agressão do imperialismo. Logo depois de fundada sofreu com uma gigantesca guerra promovida pelos Estados Unidos, os governantes títeres sul-coreanos e mais uma série de países imperialistas. A guerra foi iniciada em 25 de Junho de 1950, após soldados do “Exército de Defesa Nacional” da Coréia do Sul, dirigidos e orientados por oficiais norte-americanos, promoverem ataques surpresas na região do Paralelo 38, avançando na região norte da Coréia (RPDC). A guerra, além de ter custado a vida de milhões de coreanos, causou também a destruição completa da infra-estrutura de suas principais cidades. Naquela época, a vitória do socialismo em diversos países europeus e também em uma das maiores nações do planeta – a República Popular da China – havia impulsionado a luta de libertação dos povos de terceiro mundo.
Com a ajuda da República Popular da China e da União Soviética, os comunistas coreanos conseguiram impor ao imperialismo norte-americano a primeira derrota de sua história. Durante o período pós-guerra da Coreia, os norte-coreanos optaram por começar a construir as bases econômicas do socialismo. Para reconstruir a economia destruída pela guerra, o governo coreano lança o Plano Trienal (1954-1956). Em 1957 iniciam a etapa de cumprimento do Plano Quinquenal da Economia Nacional, inicio da industrialização socialista. Após Kim Il Sung ter lançado a consigna “Avancemos com a velocidade de Chollima!” a sociedade norte-coreana viu surgir um movimento de mobilização popular para a construção socialista chamado “Movimento Chollima”. Chollima é um cavalo alado legendário do folclore coreano, que percorre 400 km em um só dia.
Os feitos econômicos norte-coreanos possibilitaram que o país se industrializasse criando uma economia socialista relativamente desenvolvida. Em poucos anos o país construiu milhares de fábricas, mecanizou sua agricultura, edificou bonitos prédios residenciais, universidades e construiu modernas cidades. Após a crise que culminou com a queda do socialismo no Leste Europeu a Coreia do Norte sofreu duras provas, enfrentando uma situação crítica que assolou os anos 90, que ficou conhecido como “Árdua Marcha”, parecido com o chamado “Período Especial” cubano. Durante esse período o nível de desenvolvimento das forças produtivas regrediu, principalmente na agricultura. O país que era dotado de uma agricultura intensiva e altamente mecanizada, e que exportava grãos para os países socialistas – era o segundo maior exportador de arroz para a União Soviética – passou a sofrer grandes dificuldades neste setor de sua economia. A queda dos países socialistas provocou uma escassez de fertilizantes no país, assim como a dificuldade de obtenção de divisas e petróleo, essenciais para agricultura intensiva e mecanizada da Coréia do Norte
Aproveitando-se da queda do socialismo nos países do Leste-Europeu, os Estados Unidos endureceu e reforçou sua política de provocação, através de movimentações e exercícios militares conjuntos com o exército sul-coreano, e o aprofundamento do bloqueio econômico ao país, que passou a ter um efeito muito devastador, pois a Coreia do Norte havia perdido os seus principais parceiros econômicos representados pelo campo socialista. Estavam criadas as condições objetivas que culminaram na formulação e aplicação da chamada Política Songun, desenvolvida pelo Dirigente Kim Jong Il. A Ideia Songun é uma concepção que defende a centralidade dos assuntos militares na construção do socialismo coreano. Sua formulação e aplicação é o reflexo das condições históricas criadas por uma realidade onde o imperialismo intensifica suas agressões aos povos, principalmente aqueles que escolheram um caminho de desenvolvimento contrário aos seus interesses.
Na República Popular Democrática da Coreia, o Exército Popular é força decisiva na construção do socialismo |
Origem e contexto sócio-histórico do surgimento da “Política Songun”
Oficialmente os comunistas norte-coreanos consideram Kim Il Sung o criador da Ideia Songun. O surgimento de tal concepção teria se dado na época da Luta Revolucionária Antijaponesa, onde o Exército Revolucionário Popular da Coreia era a principal organização revolucionária do país. A Política Songun é aplicada desde a década de 60, mas se tornou central e mais importante na década de 90.
Com o fim da União Soviética os Estados Unidos intensifica sua política militarista contra a Coreia do Norte aumentando o efetivo militar presente no Sul da península, bem como a deslocação de armamento nuclear para a região. Observando tais movimentações Kim Jong Il analisou a situação nacional e internacional e percebeu a urgência de fazer frente ao imperialismo dando maior importância a assuntos militares e defesa durante a construção do socialismo em um contexto onde o movimento comunista internacional encontrava-se em plena crise.
Fundamentos da Política Songun
Os princípios teóricos da ideia Songun são os mesmos da Ideia Juche, assim como seus objetivos finais: “O homem é dono do mundo e decide tudo”, “Conquistar a independência das massas populares”. Sendo uma ideia política que prioriza os assuntos militares, segundo a ideia Songun a revolução se forja, avança e se concretiza mediante o fuzil. O fuzil (exército, força militar) é o fator decisivo na construção do socialismo coreano, pois durante toda sua história ele foi construído em confrontação com o imperialismo. Poderíamos lembrar a máxima do Presidente Mao Tsé-tung para quem “Todo o poder político nasce da ponta do fuzil”. Obviamente, não se trata de uma concepção que advoga que apenas a aplicação dos métodos militares contra o inimigo de classe bastaria para manter as massas populares coreanas como classe dirigente do país. Na Coreia do Norte, o consenso da sociedade em torno da direção do Partido do Trabalho da Coreia e o seu Secretário Geral, Kim Jong Il, materializa-se principalmente através do anti-imperialismo e se dá uma elevada importância a formação ideológica do cidadão, a fim de garantir uma hegemonia ideológica anti-imperialista e comunista.
A Política Songun confere ao Exército Revolucionário o papel de força mais importante durante a construção socialista. Segundo os comunistas norte-coreanos o Exército Revolucionário, dirigido pelo Partido, a serviço da classe trabalhadora, é a força mais dotada de consciência ideológica revolucionária. A importância atribuída ao Exército Revolucionário na construção socialista também engloba a participação decisiva e principal desta força na construção econômica do país. Praticamente todas as construções relacionadas à infra-estrutura, por exemplo, são levadas a cabo pelo Exército Popular Revolucionário, principalmente em atividades mais perigosas, como no caso da construção da hidrelétrica de Huichon.
Importante ressaltar que a idéia Songun foi elaborada para responder aos problemas impostos a prática da revolução coreana. Não se trata de uma política que todos os países que constroem o socialismo devem passar, apesar de muitos de seus elementos constituintes serem passíveis de uma universalização, como, por exemplo, a importância de uma força armada revolucionária forte, que garanta a ordem socialista e defenda os países da ameaça imperialista.
A guerra de agressão contra a Líbia e a Política Songun
A atual guerra de agressão promovida pela OTAN contra a Líbia é uma clara demonstração de que os comunistas norte-coreanos estão certos em não confiarem no imperialismo. Uma vez mais as principais potências capitalistas demonstram o seu caráter agressor. São nesses episódios que os fatos dão razão aos comunistas coreanos que optaram pelo fortalecimento da defesa nacional e pela política de prioridade aos assuntos militares.
Após a queda da União Soviética o coronel líbio Muamar Kadafi operou mudanças em seu governo que apontavam para uma tentativa de reconciliação com países que outrora eram seus inimigos mortais. Tal mudança de atitude, longe de ter sido feita em uma situação de igualdade entre as partes, apenas refletiam a tentativa de um dirigente em tentar se reposicionar em um mundo onde já não existia mais a guerra fria. As ilusões de Kadaffi levaram o líder líbio ao encerramento do Projeto Nuclear Líbio.
Por suas mudanças Kadaffi chegou ser amplamente elogiado por alguns dirigentes políticos burgueses, como, por exemplo, o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, de quem se declarava amigo. Os Estados Unidos também elogiavam o modo como a Líbia renunciou o seu projeto nuclear dizendo que países como Coréia do Norte e Irã deveriam seguir o mesmo caminho. Como bem lembrou o Ministério de Relações Exteriores da Coréia do Norte, tais atitudes por parte dos Estados Unidos significavam uma tentativa de desarmar o rival utilizando palavras agradáveis, para depois o atacarem com armas.
Se aproveitando das rebeliões populares que tomaram conta de países como o Egito e Tunísia e derrubaram os líderes pró-imperialistas que comandavam estas nações, o imperialismo aproveita para fomentar e financiar um movimento de oposição ao líder líbio. O imperialismo não mede esforços em dar apoio armado aos chamados “rebeldes”, mostra na prática a sua disposição interventora, atitude que não tomaram em relação aos manifestantes do Bahrein, que protestavam contra a ditadura pró-imperialista do rei Hamad Bin Isa Al-Khalil, pois se tratava de uma ditadura que sempre fora servil aos seus interesses.
Óbvio que a situação da Coreia do Norte e Líbia são diferentes, mas os atuais episódios no país africano servem de alerta a todas as nações que estão situadas no campo do anti-imperialismo. No caso norte-coreano, frente as ameaças reais contra o país, dar prioridade aos assuntos militares, elevando o papel de seu Exército, é fundamental para preservar o seu sistema socialista.
Por Gabriel Martinez – Editor do Blog de Solidariedade á Coréia Popular