terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Consenso de Panmunjom: “Reconciliação nacional coreana”


Nas primeiras negociações em dois anos – e as primeiras tendo o oposicionista Moon Jae-In como presidente do sul – delegações das duas partes em que a Coreia foi dividida sob ocupação dos EUA concordaram em promover a “reconciliação nacional e a unidade” e “aliviar a tensão militar”, anunciando que nos Jogos Olímpicos de Inverno de fevereiro em PyeongChang, no sul, uma única delegação intercoreana abrirá o evento, com o norte enviando atletas, artistas, lutadores de Taekwondo, autoridades e torcedores.

Faz mais de uma década que os coreanos marcharam juntos, com uma única bandeira azul sem divisão, nos Jogos de Inverno de 2007 na China. Nas vésperas do enormemente ansiado encontro, realizado na casa da paz, em Panmunjom, na zona desmilitarizada, o líder da Coreia Popular, Kim Jong Un, havia conclamado os coreanos do norte e do sul a promoverem a reconciliação, tendo em conta que “a questão das relações norte-sul é uma questão interna do povo coreano” e que não se deve ficar “dependendo de imposições estrangeiras.

Por sua vez Moon, que sucede a impichada filha do ditador Park, anunciou a suspensão das manobras militares conjuntas com os EUA durante os Jogos Olímpicos, abrindo uma janela para a distensão e a paz. No dia 3, fora restabelecido o canal de comunicação especial na zona desmilitarizada.

As duas delegações, de cinco pessoas cada, foram encabeçadas pelo ministro da Unificação (sul), Cho Myoung-gyon, e pelo presidente do Comitê pela Reunificação Pacífica (norte), Ri Son Gwon. “Venho com a esperança de que as duas Coreias mantenham as conversas com uma atitude sincera e fiel”, afirmou Ri, após o forte aperto de mãos que abriu a reunião. “As pessoas têm um forte desejo de ver o Norte e o Sul trabalhando para a paz e a reconciliação”, retrucou Cho.

No comunicado conjunto à imprensa, as duas Coreias registraram a disposição de encontros entre os militares dos dois lados para reduzir a tensão. A reunião de famílias separadas pela guerra por ocasião do Ano Novo Lunar foi apresentada, mas ainda não há oficialmente uma definição. A reunião também reafirmou declarações intercoreanas anteriores. O atual presidente do sul, Moon, era chefe de gabinete de Roh Moo-hyun quando este se reuniu em Pyongyang com o pai de Kim, Kim Jong Il, em 2007.

Desde sua posse, o presidente ianque Donald Trump não cessa de pressionar e ameaçar a Coreia Popular, que se viu forçada a desenvolver sua força de dissuasão nuclear após W. Bush romper o acordo EUA-RPDC negociado pelo ex-presidente Jimmy Carter no governo Clinton (ou seja, W. Bush fez o que agora Trump quer fazer com o acordo com o Irã).

Desde o final da II Guerra, os EUA se negam a retirar seus 28.000 soldados e se recusam há 64 anos a assinar um tratado de paz definitivo, existindo apenas um armistício provisório. Tentam submeter o povo coreano pela fome e sanções. Foram os EUA que introduziram armas nucleares nas suas bases no sul na década de 1950.

Apesar da histeria sobre os norte-coreanos serem “doidos” e “atrasados”, eles obtiveram em tempo recorde a bomba H e os mísseis de que precisam para se defenderem da loucura e ganância de gente como Trump.

Durante as negociações em Panmunjom, quando a delegação do sul apresentou a questão das armas nucleares, os representantes do norte não aceitaram discutir o tema, mas esclareceram que as armas nucleares são apenas uma defesa contra as ameaças de destruição feitas pelos EUA, e não ameaçam de forma alguma os vizinhos Rússia e China, e, menos ainda, os irmãos coreanos do sul, que são a mesma nação.

Após um porta-voz do Departamento de Estado alertar contra as conversações intercoreanas por “tentarem colocar uma cunha” com Washington, Trump achou que o melhor era alegar que só teve conversação por causa das suas ameaças e sanções. E depois ainda quer passar no teste de sanidade.

Do Hora do Povo