quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vá com honra, camarada!





Por Cristiano Alves 

Nos últimos dias de 2011 despediu-se de seu povo Kim Jong Il, filho do famoso revolucionário Kim Il Sung, Presidente da Comissão de Defesa Nacional e Secretário do Partido dos Trabalhadores da Coréia.

Kim Jong Il liderou a Coréia em tempos difíceis, em que o país perdeu o apoio do antes existente "Bloco Socialista" e se viu à mercê de uma invasão pelo USMC1. A fim de impedir a invasão e o genocídio do povo coreano no que seria uma "nova Guerra do Vietnã", a Coréia Democrática decidiu construir armas nucleares e empreender testes de mísseis capazes de atingir os Estados Unidos. Essa medida, que abdicou do conforto do povo coreano, conforme bem colocado pelo porta-voz do governo coreano Alejandro Cao de Benós, foi um "seguro de vida do povo coreano", que impediu que uma nova chacina ocorresse naquele país. O preço pago por isso, entratanto, não foi pequeno. Nos anos 90 a penínsual coreana sofreu uma série de chuvas torrenciais e furacões que atingiram as duas Coréias, especialmente a setentrional, que tem menos de 25% de seu território cultivável, sendo formado em sua maior parte por montanhas, o que provocou enchentes e a fome no país, tornando o país dependente da ajuda humanitária. Ainda, o país sofreu pressão internacional e sanções econômicas dos Estados Unidos, agravando o estado econômico do país, prejudicando a sua economia e contribuindo para crises energéticas no país. O país americano também listou a Coréia do Norte no chamado "Eixo do Mal" e em não mais de uma oportunidade classificou-o como "Estado terrorista".


Apesar da imensa pressão exercida pelo mais poderoso país do globo, o sistema coreano, liderado por Kim Jong, não se dobrou a Washington, recuperando em parte a sua prosperidade na década de 2000 e mesmo voltando a se destacar em áreas enfraquecidas durante os anos 90, chegando a colocar uma seleção de futebol para competir na África do Sul em 2010.

A pressão coreanófoba e anticomunista não partiu apenas de governos nacionais, mas também de conglomerados da grande imprensa. No Brasil, a Rede Globo de Televisão não perdeu a oportunidade para atacar a Coréia Democrática mesmo nos momentos supostamente amistosos e de descontração como durante a Copa do Mundo, quando, conforme denunciado por "A Página Vermelha", a Globo, FSP e Editora Abril tentaram de todas as formas mostrar que os jogos da Coréia do Norte "estavam proibidos na Coréia por lei imposta pelo próprio Kim Jong", tentando passar a idéia de que se tratava na verdade de um "King John". Curiosamente, a tal "lei coreana" jamais foi exibida, aliás, a única coisa exibida foram os jogos da seleção coreana, mesmo com a derrota, o que contraria a versão midiática de que "a Coréia Popular até mostraria os jogos, mas somente os que o país vencesse". Não menos cínica é a forma como os jornais direitistas se referem ao chefe de Estado coreano, referindo-se sempre ao seu governo como o "regime de Kim Jong", atribuindo a ele um caráter pessoal, como se fose uma "bodega". Curiosamente, nunca se fala do "regime de Obama", do "regime de Bush", "regime de Gordon Brown" ou de Tony Blair, ou do "regime de Berlusconi". De fato, há que se reconhecer que realmente existia um "regime de Kim Jong", a julgar pelo fato de que este se preocupava com a saúde durante sua dieta. Há que ser lembrado que no Jornal Nacional, edição desta quarta-feira(28) de dezembro de 2011, os apresentadores do jornal, teleguiados por seu diretor, fizeram questão de contestar a "sinceridade dos prantos durante a despedida de Kim". Curiosamente, nunca se questiona a sinceridade dos prantos pela morte de nomes como Amy Winehouse, que levava uma vida cheia de vícios sem qualquer exemplo positivo para a juventude. Nunca foi questionada a "sinceridade dos prantos" pelo falecimento de nomes como Pinochet, Ronald Reagan, Borís Yeltsin ou outros nomes queridos da imprensa burguesa. E o que é pior, pisoteando qualquer senso de ética, o Jornal da Globo, encabeçado por um agente de Washington já denunciado pelo sítio Wikileaks, William Wack, que atua sem qualquer repreensão da ABIN, anunciou que "o regime coreano tem cheiro de naftalina".

O grande legado de Kim Jong, além de garantido a sobrevivência do modelo adotado por seu país sob a doutrina Juche e, principalmente, a doutrina Songun, criada para situações extraordinárias que põem em risco a segurança nacional do país, foi sem dúvidas ter impedido que seu povo fosse chacinado e fuzilado por projéteis de urânio empobrecido e bombas nefastas de napalm, fósforo branco e agente laranja, destino conferido a milhões de irmãos asiáticos na Guerra do Vietnã. Não há limites para a sanha assassina do imperialismo, ideologia e prática reacionária e genocida, não é nenhum exagero alegar que pudessem criar 50 mil "Vietnãs", eles o fariam sem dó nem piedade em nome do lucro e do luxo dos magnatas do setor armamentista e bancário. Por essas razões, aqueles que não se deixam iludir por mentiras, a despeito de toda calúnia e difamação, como já dizia uma velha canção norte-coreana, "o seguirá sempre".

Vá com honra, camarada!



1- USMC: Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos, principal força de elite dos Estados Unidos da América, utilizada para atacar outros países de modo ultramarino. São transportados em navios da Marinha Americana(US Navy), em porta-aviões com as mais avançadas tecnologias e por enormes helicópteros. Foi responsável pela devastação do Vietnã e do Iraque em duas oportunidades, utiliza alguns dos mais modernos equipamentos militares do planeta, inclusive acessórios robóticos que facilitam o transporte de equipamentos individuais, e tem o seu efetivo numérico superior ao do Exército Brasileiro.

Alguém disse: são lágrimas fingidas?





Por Paulo Vinícius 


Lembro de mim, criança, lá na avenida C do Nova Assunção, em Fortaleza, chorando - e todo mundo nas calçadas - a morte do Tancredo Neves. Lembro do respeito ao choro de ACM pela morte de seu filho. Lembro de Dona Ruth, e nos dois casos, a tentativa malograda de criar uma comoção nacional foi descarada. Aliás, quem se lembra do Bonner chorando no JN a morte do Roberto Marinho? 


Mas coreano, no Norte, não pode chorar. Ainda mais em massa. Afinal, dia após dia, ironizou-se Kim Jong Il por ser denominado de "querido líder". Como poderiam aceitar ser ele de fato querido? E as piadas sobre suas viagens pelo país? Como poderiam aceitar a referência construída pelo líder coreano, que visitava todo canteiro de obra, escolas, conversando com a população que agora lhe pranteia? Como poderiam entender, ridicularizando a roupa e a aparência de Kim Jong Il, que seu "uniforme militar", na verdade era como uma guayabera coreana, um traje exatamente oposto à imponência, sem uma insignia sequer. Um fato meio óbvio, já que os uniformes militares estavam sempre à vista, ao lado dele, mas o nosso jornalismo golpista é de uma pobreza analítica desconcertante, não fosse a má-fé que a move. Como entender que o governante alcunhado de esquisito é um dos fenótipos mais comuns de coreanos? Ou seja, como entender a identificação do povo da RPDC com seu líder, sem ter de negar tudo o que dele se disse, com racismo até?

E esse negócio das mulheres militares? Armadas! Aliás, esse tal exército com mais de 5% da população, um exército político e forjado na luta contra o imperialismo? Será que é absurdo pensar na admiração popular pelas suas forças armadas, pela sua capacidade de defender seu país contra o Japão e os EUA, depois de todas as atrocidades por eles cometidas? Será que os coreanos não sabem o que houve no Afeganistão, no Iraque, na Líbia? E, sabendo, por que é tão absurdo entender o engajamento nacional na construção da capacidade defensiva que impede o que houve naqueles países? E por que negar-lhes o orgulho por poderem se defender?

Não. Aos coreanos no Norte não se admite mérito nenhum, muito menos que chorem, porque o choro humaniza. Uma vez, numa viagem internacional, vi um coreano meio derretido, olhando um brinquedo. Quando inquiri, soube que pensava nos filhos, procurava algo pra eles...

São pessoas. Não podemos calar quando vez após outra se justificam guerras mentirosas para matar as pessoas em suas casas, invadindo países, massacrando crianças, mulheres, idosos... Na verdade é disso que se trata. E é para impedir essa empatia com as pessoas, que a imprensa do imperialismo não nos deixa vê-las como seres humanos, e demoniza para isso.

Por isso os coreanos no norte precisam ser pintados à luz da caricatura do imperialismo, enquanto os que vivem no Sul são incensados todo dia pela Míriam Leitão. Ninguém fala das sucessivas ditaduras militares na Coreia do Sul, dos 30 mil soldados ianques em seu território, das ogivas nucleares, do apoio econômico e da blindagem estadunidense como parte do "milagre coreano"...

Quanto ao Norte, não se os retrata como cercados, mas sim "um dos regimes mais fechados do mundo". Tem de ser vistos como miseráveis, e não com aquelas que eles mesmo fazem, marca da elegância coreana que observamos no 16º Festival Mundial da Juventude, em 2005, em Caracas. Também não se fala da beleza de Pionguiangue, uma cidade monumento, nem da maneira como se tratam as crianças naquele país, ou de sua educação.

Não se os reconhece como ameaçados e bombardeados, são tratados como os agressivos... E o seu desabastecimento, em vez de resultado de bloqueio, sanções, catástrofes naturais, seria culpa deles mesmos... Mas o pior de tudo, o mais repugnante é ver, mesmo na esquerda, concessões ao imperialismo que busca legitimar mais uma guerra, mais um genocídio, desta vez, outra vez, contra a RPDC.

E o Partido Comunista do Brasil denuncia isso, não se cala ante a ânsia bushista, que se fortalece graças à propaganda anticomunista descarada e à covardia de parte da esquerda que, liberal, não pode fugir de seus pressupostos.

Che Guevara alertou no passado, que ao imperialismo não devemos conceder um tantinho assim, nada! Que tencionava dizer El Che? Que não devemos, por exemplo, fingir que não é conosco quando o imperialismo joga todo o peso ao açular uma campanha de linchamento midiático contra um país bloqueado, ainda mais depois do que se fez nos últimos anos. Primeiro vem a mídia, depois as sanções, e enfim os bombardeios e o genocídio. Chega!

É nessa hora que o internacionalismo proletário se deve expressar em alto e bom som, como fez o camarada Renato Rabelo em corajoso artigo que ensina uma característica indispensável num Partido Comunista que não se vendeu nem se rende: pensar com a própria cabeça. Não ser pautado pela imprensa sabuja do imperialismo. Não conceder em princípios, como o internacionalismo proletário, a solidariedade internacionalista e a defesa da autodeterminação dos povos. O assombro não é estar o PIG onde sempre esteve. O assombro é ver quem denuncia a imprensa golpista, aceitar sua orientação quanto a democracia e geopolítica, fingindo desconhecer as consequências de uma postura pusilânime.

Alejandro Cao de Benós no programa de televisão espanhol "Al Rojo Vivo"

Compartilhamos com os leitores do blog, entrevista realizada pelo programa espanhol "Al Rojo Vivo" com Alejandro Cao de Benós, delegado especial do Comitê de Relações Culturais com o Exterior, do governo da República Popular Democrática da Coreia. Alejandro Cao de Benós também é presidente da Associação de Amizade com a Coreia. No começo do ano o blog Solidariedade à Coreia Popular teve oportunidade de entrevistar Alejandro. Cliquem aqui para lerem a entrevista feita pelo blog.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Manuela D`Ávila contraria o próprio partido e faz coro com a imprensa burguesa ao atacar a Coréia socialista


A morte do dirigente socialista coreano, Kim Jong-Il, foi recebida com muitos pesares pelas forças revolucionárias e progressistas em todo o mundo, inclusive no Brasil. O Partido Comunista Marxista-Leninista (PCML-Brasil) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), lançaram notas de solidariedade ao povo coreano pela morte de seu principal dirigente, desencadeando uma onda de ataques da burguesia, que através da mídia, lançam acusações de todo o tipo, buscando desacreditar tanto os socialistas brasileiros quanto os coreanos. Entre os comunistas que sofreram ataques diretos está a Deputada Federal e pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre, Manuela D`Ávila, que, ao invés de assumir o seu compromisso com o socialismo e com o partido no qual milita (PCdoB), tomou uma posição covarde e lançou uma nota que, além de descredibilizar o próprio partido, faz coro com a mídia burguesa pró-imperialista e suas mentiras sobre a suposta "ditadura comunista hereditária norte-coreana". A nota foi divulgada em seu perfil no Twitter e republicada em seu site. Eis a mesma na íntegra:

1) Partidos também são espaços em que militantes divergem. Me parece absolutamente natural.
2) Eu não concordo com a integralidade da nota de meu partido sobre a Coréia.
3) Respeito a auto-determinação dos povos e suas culturas. Mas não tolero hereditariedade no poder e defendo a irrestrita liberdade dos povos
3) Há dois dias (19) me manifestei sobre isso aqui no twitter.
4) Espero, sinceramente, o mesmo tratamento a todos os políticos de Porto Alegre e a seus partidos. Acompanharei atenta.


Dep. Manuela D`Ávila



O conteúdo da nota

"1) Partidos também são espaços em que militantes divergem. Me parece absolutamente natural.
2) Eu não concordo com a integralidade da nota de meu partido sobre a Coréia."

A deputada tem todo o direito de pensar diferente do seu próprio partido, no entanto, o lugar de apresentar essas divergências não é em público. Já diz aquele velho ditado que "roupa suja a gente lava em casa". O próprio estatuto do partido deixa isso bem claro ao falar dos direitos de seus militantes (Artigo 6º, parágrafo 1º):

"a) participar, expressando livremente as suas opiniões, da elaboração da linha política do Partido e das discussões acerca das questões políticas, teóricas e práticas nas instâncias partidárias de que fizer parte; manter suas opiniões, se divergentes, sem deixar de aplicar, defender e difundir as decisões do Partido."

"3) Respeito a auto-determinação dos povos e suas culturas. Mas não tolero hereditariedade no poder e defendo a irrestrita liberdade dos povos"

Ao dizer para os quatro cantos do mundo que é socialista e ter crescido na política (até o ponto de ser deputada) dentro de um partido comunista, não faz mais do que a obrigação ao respeitar a auto-determinação dos povos. O contraditório é conhecer estes povos através das imagens distorcidas criadas pelos seus inimigos imperialistas e reproduzidas pelos lacaios nacionais (Globo, Folha de SP, etc.), compartilhando em público o mesmo discurso liberal dos nossos inimigos de classe.

A lei coreana não prevê nenhum tipo de hereditariedade no poder estatal do país. Kim Jong-Un, assume o posto máximo da nação coreana do mesmo jeito que seu pai (Kim Jong-Il) assumiu depois da morte de Kim Il Sung (pai de Kim Jong-Il), por meio de manobras políticas perfeitamente aceitáveis no jogo democrático.

Além disso, todos os representantes do poder na Coréia socialista são eleitos de forma direta ou indireta. Basicamente o povo elege os parlamentares, membros da Assembléia Popular Suprema, e essa Assembléia elege e supervisiona os principais cargos políticos da nação, entre eles o chefe do Comitê de Defesa Nacional (cargo antes ocupado por Kim Jong-Il), que junto do premier e do próprio presidente da APS, constituem o triunvirato do poder na Coréia socialista.

Dentro até mesmo dos moldes liberais, não há nada que indique qualquer tipo de ausência de liberdade popular por causa da forma de escolha dos dirigentes do país. Boa parte das nações européias, apontadas pela mídia como exemplos de democracia, escolhem seus dirigentes máximos de forma indireta, através de eleições dos orgãos legislativos. Kim Jong-Il e agora Kim Jong-Un, são apenas integrantes (escolhidos pelo povo) da imensa estrutura de poder e ganham toda essa importância por causa da política Songun e do constante estado de guerra imposto pelos países imperialistas à nação socialista. A grande diferença entre as monarquias parlamentares ocidentais (nessas sim, a hereditariedade tem força de acordo com a lei) e o Estado socialista coreano é que no último a democracia é verdadeira, vai além das formalidade e é garantida através das bases populares de trabalhadores e camponeses, alicerces do poder popular.

"3) Há dois dias (19) me manifestei sobre isso aqui no twitter." (na verdade 4)

Como membro do comite central do PCdoB deveria ter se manifestado junto ao partido e não numa rede social. Como comunista, deveria ter estudado a questão antes de reproduzir as mentiras da mídia burguesa. Como representande eleita pelo povo brasileiro, deveria estar preocupada com a solidariedade aos povos vítimas do imperialismo e não com as críticas da imprensa burguesa sobre a sua pessoa.

Perdeu uma boa oportunidade de não digitar nada...

"4) Espero, sinceramente, o mesmo tratamento a todos os políticos de Porto Alegre e a seus partidos. Acompanharei atenta." (na verdade 5)

Bom, essa é a parte mais preocupante, na qual a máscara cai. Nessas poucas linhas não há qualquer tipo de sentimento de solidariedade à liberdade dos povos, mas sim uma justificativa diante dos ataques da imprensa. Uma clara concessão de princípios para garantir um cargo político em 2012. Essa mesma atenção dada aos ataques da imprensa à imagem da deputada poderia ser deslocada para o estudo do marxismo-leninismo e dos países socialistas.

A responsabilidade dos partidos diante dos seus militantes
Sobre essa questão deveriam refletir os membros do PCdoB e os comunistas brasileiros de diversas organizações. Sempre haverá problemas referentes à disciplina revolucionária, por mais forte e ideológica que seja a organização (nem a Revolução de Outubro foi consensual entre os comunistas russos), mas esse não foi um caso isolado, é reflexo de uma situação maior que precisa ser discutida de maneira sincera enquanto há tempo para corrigir os erros. Não é a primeira vez que um membro do PCdoB vai contra a história do partido. O próprio Aldo Rebelo, hoje ministro dos esportes, foi contra a criação da Comissão da Verdade, responsável por investigar os crimes cometidos durante a Ditadura Militar. O PC do Chile também foi vítima de "quinta-colunismo" por parte de uma figura pública (clique aqui para mais informações), o que comprova que nesse momento de crise do sistema capitalista e avanço da esquerda na América Latina, muitos dos que estão ao nosso lado sucumbirão diante da pressão dos inimigos do povo, que será cada vez mais constante diante da "ameaça comunista".

Muitas organizações com passado revolucionário caíram diante do "canto da sereia do capital" justamente por abrir mão de seus princípios em pról de pequenos avanços pragmáticos, geralmente voltados para as eleições. Isso torna imperativa uma revisão interna por parte dos partidos comunistas que estão tendo problemas com suas figuras públicas. Como os quadros são formados? Qual o poder que os mesmos ganham ao se tornarem figuras públicas? Vale apena abrir mão da sua essência para adquirir pequenos avanços táticos? Muitas perguntas que precisam ser respondidas...

Não sou um membro do PCdoB e por mais discordâncias que eu possa ter, sou daqueles que preferem construir o seu ao falar mal dos outros, principalmente quando esse "falar mal" representa o aprofundamento da divisão entre os comunistas e o fortalecimento da mídia, que faz de tudo para satanizar qualquer luta popular, porém, a Deputada Manuela, enquanto figura comunista pública (assim como qualquer outro que chame para si a bandeira vermelha), não deve explicações apenas aos membros do seu partido, mas sim a todos os brasileiros que sempre foram solidários com a sua luta e aos comunistas de todo o mundo.

A declaração da Manuela, assim como da Camila (do PC do Chile) vieram em péssimos momentos, pois ambos os partidos têm sido alvos de constantes ataques em seus países. Esperávamos, sinceramente, outras posturas das "camaradas"...

Que a deputada tenha a honra de fazer uma autocrítica e reflita sobre algumas palavras escritas pelos pais do socialismo científico:

"Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins." (MARX, Karl e. ENGELS, Friederich. Manifesto Comunista. 1848)


Pela união dos comunistas do Brasil e do mundo, principalmente através dos princípios da revolução e da solidariedade entre os povos!

Aos socialistas a união, aos traídores a depuração!
Abaixo o "quinta-colunismo"!
Abaixo a mídia pró-imperialista!
Viva a Revolução Coreana!
Camarada Kim Jong-Il, presente!


Diego Grossi, colaborador do blog.

Resposta do PCdoB ao editorial da Folha de SP

Publicamos nesta postagem a resposta do Presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Renato Rabelo, ao editorial do jornal Folha de SP, que na edição de hoje destilou todo o seu veneno reacionário contra o partido e sua nota de condolências enviadas ao Partido do Trabalho da Coreia e ao povo norte-coreano. A Folha de SP, a exemplo de outros lixos ideológicos da burguesia, voltou a manifestar o seu anti-comunismo primário, com piadas e ironias que só poderiam ser proferidas por asnos, demonstrando mais uma vez o baixo nível intelectual das classes dominantes brasileiras e seus serviçais bem pagos. Gostaríamos de lembrar aos leitores do blog que a Folha de SP, há não muito tempo, escreveu um editorial onde dizia que a ditadura civil-militar brasileira na verdade teria sido uma "ditabranda" o que revela que todo o palavreado do jornal sobre "democracia" não passa de mera falácia. Entre os diversos crimes cometidos contra o povo brasileiro por este panfleto reacionário consta o crime de ter emprestado peruas C-14 para a repressão transportar presos políticos. Um editorial como o publicado pela Folha de SP só poderia ter sido escrito por um jornal decadente.

Aviso: O blog Solidariedade á Coreia Popular não pertence a nenhum partido. É um espaço que busca divulgar informações sobre a realidade norte-coreana, abrindo espaço para todas as organizações políticas e personalidades solidárias à luta do povo norte-coreano pelo seu direito a auto-determinação sem intervenção imperialista. 

Equipe do blog Solidariedade à Coreia Popular


Renato Rabelo: Folha de SP se esmera em ironias contra o PCdoB


A magra edição de hoje (28) do jornal paulista Folha de S.Paulo dedica um de seus principais editoriais a um exercício de provocações e ironias pobres. Talvez por falta do que dizer – nestes dias de comemorações e festas de final de ano -- seus editores resolveram atacar o PCdoB tendo como mote o falecimento, na semana passada, do líder da República Popular Democrática da Coréia, Kim Jong Il.

Por Renato Rabelo, em seu blog


Seus leitores mais atentos deverão, a esta altura do campeonato, se perguntar como pode um país -- cercado desde a década de 50 pelo maior exército do Planeta (as forças armadas dos EUA atualmente acantonados na Coréia do Sul possuem uma base com mais de 30 mil homens, armados com mísseis balísticos nucleares) -- resistir a todo o tipo de provocações e ações de contra-insurgência? Os fatos, entretanto, estão gravados na história dos povos daquela região da Ásia. Antes dos colonialistas japoneses empreenderem a dominação da península coreana, em 1905, mais exatamente em 1866, um navio pirata norte-americano, o “Sherman”, tentou tomar posse de Pyongyang, mas acabou afundado. Dois anos depois, em 1868, o “Shenandoah”, equipado com canhões, também procurou causar dano àquela cidade e foi rechaçado pelas defesas coreanas que o perseguiu pelo rio Taedong.

No início do século XX, entretanto, o Império Japonês invadiu a Coréia e dominou o país. Mais de 6 milhões de jovens e homens de meia-idade foram obrigados a trabalhos forçados, sendo que um milhão acabou morrendo. Cerca de 200 mil mulheres coreanas foram feitas escravas sexuais dos militares japoneses. Somente em 15 de agosto de 1945 termina a guerra de libertação da Pátria coreana. A República Popular e Democrática da Coréia foi proclamada em 1948, um ano antes da República Popular da China. Foi, então, que os setores mais reacionários dos EUA resolveram invadir a península coreana e interferir nos assuntos internos daquele país.

Com a deflagração da Guerra da Coréia, os norte-americanos sob o comando do General MacArthur, arrasaram Pyongyang em três anos de duros combates. A capital sofreu 1.431 ataques aéreos, quando 428 mil e 700 bombas desabaram sobre seus defensores, o que significou mais de uma bomba para cada habitante. O Exército americano acabou derrotado no campo de batalha e teve que recuar além da linha do Paralelo 38 N. Três milhões e meio de pessoas foram mortas nesta guerra. Os norte-coreanos, por sua vez, contaram nestas batalhas com a ajuda decisiva de 600 mil voluntários do Exército chinês e também com o apoio de vários outros países progressistas e socialistas daquela época, inclusive do movimento contra a Guerra da Coréia e pela paz realizado no Brasil. Por sua incúria guerreira, o general MacArhur foi demitido de suas funções, substituido pelo general Ridgway e os EUA foram obrigados a assinar um armistício.

Hoje, Pyongyang é uma cidade única no mundo, majestosa, com grandes avenidas arborizadas, pontuada por museus e coberta por uma rede moderna de metrô e ônibus elétricos. A atividade cultural, artística e esportiva é intensa. E, mais importante, a Coréia do Norte tem um projeto nacional que colocou em prática, com suas características próprias. Construiu uma indústria pesada e desenvolveu sua defesa nacional, chegando a montar mísseis balísticos nucleares de longo alcance. Não fosse este aparato e o poderoso Exército certamente seu destino teria sido outro, parecido com o imposto pelos EUA ao Iraque, ao Afeganistão e -- mais recentemente -- à Líbia.

Ao contrário do que sugere a Folha, na última reunião do Comitê Central do PCdoB, procuramos fazer uma avaliação da nova situação mundial com o desenvolvimento da terceira grande crise sistêmica do capitalismo e consideramos como positivo, em suas linhas gerais, o ciclo político aberto com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e continuado com a eleição de Dilma Rousseff, em 2010. Duas tarefas principais se colocam agora diante do povo brasileiro: avançar na defesa da economia do país para o enfrentamento da crise externa e o fortalecimento do mercado interno brasileiro, e lutar para que nosso povo tenha o direito a exprimir seu pensamento de forma democrática contra o monopólio exclusivo da mídia, capitaneada -- entre outros órgãos -- por esta mesma Folha de S.Paulo que nos ataca impunemente. Esta grande mídia, reacionária e conservadora, vem escolhendo o PCdoB como alvo de ataque, demonstrando com isso que este Partido a incomoda. Porém, como sempre, sem podermos ter o direito de defesa.

Fonte: Blog do Renato Rabelo

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O luto de Pyongyang e a agressividade cínica do imperialismo


Paulo Vinícius
*



Impressionante o linchamento promovido pela imprensa oligopolista contra a isolada, combatida e altiva República Democrática e Popular da Coreia, por ocasião da morte de seu líder, Kim Jong Il. Como disse Bertolt Brecht: "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o oprimem".


A linda Pionguiangue tem, desde a década de 1950 do século passado, mais de 100 ogivas nucleares apontadas contra si. Também desde então, há módicos 30 mil militares estadunidenses instalados na Coréia do Sul, de armas e provocações em riste. Tal arsenal e contingente só estão ausentes na mais agressiva e sistemática campanha de publicidade negativa promovida contra um país. A quem atacaram os cidadãos da Coréia popular? Que ato de agressividade eles cometeram contra qualquer país no mundo? Nenhum.

Seu perigo é o tal do exemplo, que desde a criação do coreano enquanto idioma os notabiliza como campeões da luta por sua autodeterminação. Por isso a agressividade imperialista sequer lhes admite o luto. Seu crime é terem enfrentado e vencido o imperialismo japonês, que impôs até seu idioma para tentar matar o coreano nas cabeças das crianças nas escolas. O fascismo japonês sequestrou milhares de mulheres coreanas e as obrigou a serem prostitutas de suas tropas Segunda Guerra Mundial.

Com a Guerra da Coreia - o Vietnã estadunidense dos anos 50 -, confrontados com a natureza indômita daquele povo, os ianques se viram até tentados a aplicar os conselhos psicóticos do General MacArthur que propunha um cinturão de cobalto, apelando ao lixo nuclear para separar a Coreia para sempre. Tal foi o ódio de que foi merecedor Kim Il Sung, por ter liderado o povo coreano na expulsão das tropas estadunidenses de metade do território pátrio.

Para os coreanos que vivem no Norte, o oxigênio é sua autodeterminação. Pionguiangue foi construída a partir de uma determinação industrial que navegou nas condições favoráveis do campo socialista soviético, mas contra a opinião dos russos. Coreanos e chineses partilham laços seculares, e o sangue chinês e coreano se fundiram nos campos de batalha da Guerra da Coreia. Ainda assim, Pionguiangue jamais aceitou tutelas que delimitassem seu projeto de independência, chegando ao desenvolvimento de uma indústria de base, da siderurgia, da química, e da sua defesa. Confrontados com vizinhos e inimigos tão poderosos, o povo coreano sobrevive, apesar das adversidades de toda natureza.

São de uma cultura muito diferente da nossa, marcada pelo confucionismo e por uma multissecular luta por sua soberania. E em meio aos problemas concretos de sua sobrevivência, com uma história peculiar e sempre marcada pela busca da autonomia, armados por uma filosofia nacional, o Juche, essa Esparta dos dias de hoje persiste a desafiar os olhares ocidentais com a mesma sintonia dos gestos de seu Arirang. Decidem seu próprio destino sob olhares poderosos e descrentes, porque impotentes diante do desejo de independência que nutre aquele povo. E a despeito de tamanhas adversidades, da natureza que castiga sua produção de alimentos, e de tanto bloqueio, foram capazes de construir uma capacidade de dissuasão que se manifestou com seus mísseis balísticos e seu poder nuclear.

A propaganda contra o extinto líder coreano esgrimiu sempre implacável caricatura racista. Mas não foi a esquisitice imputada pela eurocêntria mirada, e sim a ousadia e altivez, os crimes de Kim Jong Il.

Muitos ignoram o esforço feito pela RPDC em retomar as negociações de paz com a Coreia do Sul. Em 15 de junho de 2000, os líderes da Coreia, Kim Jong Il e Kim Dae Jung, assinaram uma Declaração Conjunta, defendendo que os coreanos, como mestres da Nação, decidiriam a reunificação. Aí é que complicou, afinal, para que os EUA manteriam 30 mil soldados e mais de 100 ogivas nucleares na Coreia do Sul? A partir de 2001, com a bem orquestrada "Guerra contra o terrorismo", os EUA proclamam sua agressividade infinita, preventiva, definindo um "eixo do mal" cuja regra era de uma definição simples: a favor dos EUA, beleza. Contra os crimes dos EUA, segure-se. E para que dúvida não restasse, haja bomba, haja massacre, haja genocídio, haja tortura... E os coreanos, outra vez, foram empurrados às difíceis escolhas que tem feito.

Foi num tal cenário que Kim Jong Il defendeu que a capacidade de dissuasão seria a única possibilidade de sobrevivência. É dura essa espécie de decisão. Todavia, nesses tempos de invasão do Iraque, Afeganistão e Líbia, tempos de magnicídio e sevícias, tempos de infiltração, tempos de Goebbels e de novas Gestapo, de Patriotic Act e de Guantânamo, como censurá-los? E o fato é que até aqui eles triunfaram em seu propósito de manter-se unidos e de construir com seus próprios esforços uma capacidade de dissuasão que lhes assegurou a paz. E tamanho desenvolvimento tecnológico e científico, sob bloqueio, não pode brotar do vácuo, da pobreza. Para vir a lume, carece de uma vontade nacional admirável.

Vendo as imagens dos provocadores militaristas e de direita, corajosos e viris graças às armas de uma potência estrangeira, zombando e escarnecendo por um lado, e o luto nacional dos coreanos pela perda de seu líder de outro, observo como a imprensa monopolista inverte as coisas. Os que pranteiam seus líderes mortos são agressivos, e os que chafurdam na provocação covarde são os pacíficos e sensatos. E penso na justa e fria análise que assegurou, até agora, a integridade do território da RPDC.

Observe-se, sempre que há um incidente com aquele país é o território que está em jogo. Às vezes umas jornalistas boazinhas dos EUA, quase coreanas, infiltrando-se pela fronteira - assim sem querer. Outra vez um cioso pregador que unicamente movido por sua fé, avança em território da Coréia Popular. Ou um ataque feito pelos EUA e que se atribui à Coreia Popular. Que tal um exercício militar com tropas estrangeiras? E o agressivo ainda é Kim Jong Il. Observem a Líbia, observem o Iraque, observem a Síria: são meras coincidências?

Como dizia Brecht, "também a luta contra injustiça torna a voz rouca". Há que diferenciar os contratempos e erros de quem resiste em desvantagem absoluta contra um inimigo mais forte, por décadas a fio, e a deformação intrínseca ao imperialismo que oprime, asfixia, aniquila, infiltra e bombardeia. Por que? Ao compactuar com o imperialismo em sua agressividade, manchamos as mãos com seus crimes, como alguns fizeram em relação à Guerra do Iraque, co-responsáveis pelo assassinato de centenas de milhares de iraquianos. Não se me convide a entrar no coro dos que legitimam o genocídio, a democracia dos bombardeios, o terrorismo de estado, os dardos envenenados da imprensa oligopolista como infantaria. Aos coreanos, iraquianos, afegãos, paquistaneses, sírios, libaneses, latino-americanos, só desejo que o tacão estadunidense se afaste de suas decisões, e que se lhes respeite o direito à soberania, porque a melhor garantia de paz é a justiça e o respeito à auto-determinação dos povos.



* Sociólogo e Bancário, Secretário Nacional de Juventude Trabalhadora da CTB.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Sobre o texto "Em Palácio, jovem Kim" de Pepe Escobar


Por André Ortega - editor do blog Solidariedade à Coreia Popular

Pepe Escobar. Extravagante, polêmico, espetacular; o inimigo da mídia corporativa, alternativa que escreve para Hamad bin Khalifa Al-Thami, ou melhor dizendo, para a Al Jazeera. Seus textos, repletos de poesia e ar irreverente, sempre tem um tom artístico, ou melhor dizendo, "enrolação artistica". Imagino que as exigências de um grande rede o levem a preencher textos com esses "recursos poéticos" que muitas vezes chegam ser parnasianos de tão prosaicos, de tão descomprometidos e limitados a estética - temos aqui um bardo no reino do Catar. Imagino também que essa exigência profissional faça leve-o a escrever sobre uma quimera como a Coreia do Norte, tema tão fácil de explorar. Aqui, a semelhança das vozes da imprensa corporativa, o escriba do rei abusa da mistificação e seus "recursos poéticos" passam a assumir conteúdo ideológico. No texto "Em palácio, o jovem Kim", Escobar abusa da logomaquia e se estende em belas ironias que, sem conteúdo, só dizem uma coisa: que o nosso bardo quer se unir ao coro de difamação da RPDC promovido pela grande mídia imperialista, talvez como tenor mais destacado à esquerda do coral, porém cantando a mesma música.

O texto inicia com uma declaração socrática:

"Ninguém sabe o que se passa hoje na República Popular Democrática da Coreia, além da continuada catarata de lágrimas – impostas pelo sistema, ou sinceras. A única certeza é que o terceiro filho do Querido Líder Kim Jong-il – o jovem Kim Jong-un, formado na Suíça – perpetuará a dinastia que governa a Coreia do Norte."

O autor reconhece sua total ignorância mas logo depois já nos presenteia com duas certezas: de que existe uma dinastia e que Kim Jong-un vai perpetua-la. Qualquer um que vá contra isso pelo visto vai contra "a verdade absoluta" - aliás, ele parece sustentar aqui e ao longo do texto um certo desprezo por dinastias, o que é estranho vindo de um empregado de uma. Logo depois já inicia por ironizar o papel da liderança no regime norte-coreano, e não hesita na hora de ridicularizar com factóides dignos de Forbes ao invés de ir direto ao que quer dizer(que analistas ocidentais se questionam etc):

"O penteado esquisito do Querido Líder, os sapatos de plataforma, a exótica coleção de carros, a fascinação por Hollywood são itens do folclore pop(...)"

Depois de um pouco mais de firula, Escobar prevê:

"Em primeiro lugar, que ninguém espere uma ‘primavera norte-coreana’. Assim como as massas sofrem como se vivessem em tempos medievais, e assim como alguns sonham com um comunismo que realmente beneficie os mais pobres, assim não acontecerá ‘primavera norte-coreana’ alguma, porque os militares norte-coreanos não permitirão que aconteça."

Escobar, antes ignorante declarado, nos presenteia com mais uma certeza, esta que faço questão de questionar diretamente já que possue um forte cerne ideológico. Grandes centros de estudo, a educação, a infraestrutura pública - tudo isso é desconsiderado para se dizer que "as massas sofrem como se vivessem em 'tempos medievais'". Nosso analista tem certeza que existem condições para uma "Primavera Norte-Coreana", afinal isso é tão óbvio quanto a Imaculada Conceição - tal Primavera só não ocorre, claro, porque é tão óbvio quanto que "os militares"(uma força aparentemente apartada das condições objetivas) não vão deixar que isso aconteça(Pepe Escobar pelo jeito acredita nos poderes sobrenaturais do regime, que magicamente detém a força da história). O autor aproveita e nos presenteia com mais "verdades" aleatórias, como a de que o "comunismo norte-coreano"(abstração metafisica) não benificia os pobres(tirando os palácios de estudo do povo, os palácios desportivos, as escolas, a extinção do analfabetismo, o racionamento contra a fome, etc etc...).

"O Querido Líder escolheu o jovem Kim, preterindo seus dois irmãos mais velhos. Durante algum tempo, o favorito foi Kim Jong-nam, ex-playboy internacional, hoje residente em Macau. Mas Kim Jong-il nunca engoliu aquela queda pela vida loca."

Mais e mais certezas - Escobar conhece bem a vida pessoal dos Kim(uma pena que não saiba tanto assim da vida de seus empregadores)! O interessante é que a certeza inicial do texto, assim como a fundamental deste parágrafo(a de que Kim Jong-il escolheu Kim Jong-un, de que ele é sucessor certo), vai entrar em contradição com os esforços posteriores de avaliar a conjuntura norte-coreana, os jogos de poder, etc - a frente Escobar praticamente reconhece que a questão é muito mais complicada, não se tratando de uma natural linha de sucessão dinástica.

"Detalhe crucialmente importante, Kim Jong-un é general de quatro estrelas nomeado pelo Querido Líder. Na prática, nada significa: o nomeado não tem qualquer experiência militar, embora se diga que é especialista em artes e artimanhas da tecnologia de informação. Os generais que realmente contam na Coreia do Norte são revolucionários da velha guarda mais hardcore, já chegados aos 80 anos."

Antes de converterem a vontade de potência em ressentimento pela força alheia, levem em conta que a tal nomeação não constitui uma extravagância despótica e sim uma nomeação dentro dos poderes estabelecidos pela Constituição para a Comissão Nacional de Defesa. "Na prática" a posição de Kim Jong-un significa muita coisa: significa ter exércitos sob seu comando, algo bem longe de "nada", algo que realmente conta. Seria interessante que antes ele pensasse na trajetória "política" de seu chefe, que foi indicado a Comandante-em-Chefe das Forças Armas e desempenhou um papel importante na modernização das mesmas - ou ele poderia fazer uma de suas ironias, uma piadinha, um "assim como o manda-chuva do Catar", alguma coisa mais digna dele(porém arriscada demais para um bobo da corte).

"Como em tudo que tenha a ver com a dinastia Kim, os sobretons shakespeareanos são fascinantes. O jovem Kim terá de lidar com a poderosa esposa do Querido Líder, Kim Ok; com a mais complexa de suas tias, Kim Kyung-hui; e
com o marido dela, Jang Song-thaek, também corrupto."

Arenga poética para os inimigos do regime de Pyongyang. Escobar é estiloso e subversivo, não faz como a grande mídia que busca forjar evidências para suas afirmações - ele simplesmente afirma. Jang Song-thaek, "também corrupto", porque eu não sei, mas que ele, é! "Yo no credo en brujas, pero que las hay, las hay!" , parece nos declamar o autor ao longo de seu artigo.

"Jang é um dos apenas quatro vice-presidentes da Comissão de Defesa Nacional, o mais santificado dos santificados corpos da Coreia do Norte. O ex-presidente era – fácil adivinhar – o próprio Querido Líder em pessoa. Especialistas internacionais em Kimologia devem estar agora afiando seus microscópios, tentando adivinhar se o jovem Kim será ou o tubarão ou a sardinha, agora que terá de nadar sozinho por aquelas águas onde nadam, além da família, um bando de generais inconversáveis e o tio Jang, uma espécie de Darth Vader da Coreia do Norte. O que já é certo, sem sombra de qualquer dúvida, é que, para todas as finalidades práticas, haverá uma espécie de junta militar que regerá o show, por trás do jovem Kim. "

Escobar dá um tom de impressionante nisso. Porém não há nada de especial ai. A Constituição, republicana e efetiva(não absolutista e "provisória" de mais de 40 anos) reconhece este órgão, a Comissão Nacional de Defesa(que faz parte de um triunvirato executivo), é o mais importante do país, a mais alta instância. Não há revelação alguma aqui, conluio, camarilha, seja lá o que for. Os analistas ocidentais apresentam os membros da comissão como "manobristas" por trás poder, quando todo norte-coreano sabe que todo membro da comissão é extremamente importante e extremamente poderoso, fundamental peça do governo. Seria mais inteligente, por exempo, pensar no papel de um Kim Ki Nam, chefe do secretariado do Partido, em tal ocasião.

A seguir reconheço que o jornalista a soldo do Sheik é um pouco - um pouco - mais conciso, mais conteúdo menos forma. Até que eles no presenteia com mais uma pérola de sabedoria:

"Mas há também a desagradável questão econômica. A economia no norte muito teria a ganhar com um choque à Deng Xiaoping – um “socialismo com características coreanas”. Mas a dinastia Kim e o aparelho militarizado que a cerca tendem a preocupar-se, sobretudo, com as reverberações políticas e sociais de excesso de liberdade econômica."

Escobar não sabe do que está falando. O trocadilho que nosso bardo faz diz muito: socialismo com caracteristicas nacionais é socialismo feito sob condições nacionais. Reverberações políticas foram muito bem controladas pelos chineses, porque o "totalitarismo norte-coreano", capaz de impedir a tão eminente "Primavera Coreana"(segundo Escobar) seria incapaz? Os coreanos já consideraram as próprias reformas, possuem suas próprias ZEEs, isso para não falar de um amplo mercado que nasce desde os anos '90(que caminha entre os limites da legalidade - fora os mercados camponeses, "eternos" desde a fundação) e não causa problemas puramente políticos(tem a corrupção). Uma maior abertura demanda a condição sine qua non de fim do estado de guerra(e condiciona não só o comportamento político, como o próprio Escobar afirma, como o comportamento econômico) e retirada das tropas americanas. Uma "entente" com os EUA foi importante para as reformas chinesas... Agora, porque os ianques pensariam em apoiar qualquer reformismo ou um projeto de reintegração da península(que existe e pressupõe uma economia mais mista etc) se eles podem endossar uma política de agressividade, de anexação do norte pelo sul e ter duas Coreias a seu dispor(e não uma nova China)? Os norte-americanos não querem um novo "coquetel chinês" e sim um tesouro nacional para poder saquear como fizeram em 1998 na Coreia do Sul.

Sem mais comentários, creio que a pérola de Escobar teve uma utilidade: ótima fonte para rebatermos os clichês e vermos até onde vai "a esquerda que a direita gosta". O resto é só um solo no meio de coro anti-RPDC, onde todos tem que cantar os mesmos dogmas de sempre sem as mesmas provas de sempre - afinal, quem sofreu lavagem cerebral? Não quero terminar com essa pergunta retórica a estilo Pepe Escobar, quero perguntar algo mais concreto: qual é a posição do patrão da Al Jazeera e Sheik do Catar em relação a República Popular Democrática da Coreia mesmo?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Governo sul-coreano proíbe que cidadãos prestem condolências ao líder Kim Jong Il

O governo norte-coreano autorizou que os cidadãos sul-coreanos que desejassem prestar condolências pela morte de Kim Jong Il entrassem no país, comprometendo-se em garantir a segurança de todos. O governo de Seul proibiu as viagens, considerando como mera propaganda o gesto de Pyongyang.

Fonte: Blog Corea Socialista e Eskup.com 

Programa Voz Rebelde entrevista Gabriel Martinez

No dia 22 de dezembro, o programa Voz Rebelde (da Rádio dos Petroleiros) entrevistou o camarada Gabriel Martinez e promoveu uma discussão sobre como a mídia se posiciona diante da Coréia socialista.

A morte de Kim Jong Il e a capitulação de Camila Vallejo



Por Gabriel Martinez - Editor do blog Solidariedade á Coreia Popular

Com a morte do líder norte-coreano Kim Jong Il, diversas organizações políticas comunistas prestaram condolências ao povo norte-coreano e ao Partido do Trabalho da Coréia. No Brasil, partidos como Partido Comunista do Brasil e o Partido Comunista Marxista-Leninista (Brasil) publicaram notas declarando apoio e solidariedade ao governo da RPDC. No Chile, o Partido Comunista do Chile e o Partido Comunista (Ação Proletária) declararam apoio e solidariedade ao povo norte-coreano. Como não poderia deixar de ser, nos dois países, suas classes dominantes reagiram, e de maneira hipócrita e cínica passaram a denunciar os partidos que se mostraram solidários ao povo norte-coreano e ao seu governo.

O caso onde a polêmica atingiu maiores proporções foi no Chile, onde a imprensa burguesa partiu para ofensiva contra o Partido Comunista do Chile, acusando-o de “apoiar ditaduras”. Guillermo Teillier, presidente do Partido Comunista do Chile, rechaçou as críticas dirigidas ao seu partido e afirmou que “aqueles que nos criticam são os que violaram sistematicamente os direitos humanos no Chile”. Teillier tem razão, pois os elementos nazi-fascistas, que acusam cinicamente a Coréia do Norte acusando-a de praticar “sistemáticas violações contra os direitos humanos” são aqueles que apoiaram Pinochet, no Chile, e no caso brasileiro apoiaram a ditadura civil-militar brasileira.

O episódio lembra as acusações que eram feitas no passado pela burguesia mundial aos partidos revolucionários que apoiavam a antiga União Soviética e a “China comunista”. É o velho anti-comunismo primário surgindo com força na América Latina.

Para tentar de alguma forma desmoralizar o Partido Comunista do Chile e as lideranças da juventude ligadas ao partido, que de certa forma dirigem às diversas manifestações que estão ocorrendo no país, a imprensa burguesa se aproveita da correta e necessária nota emitida pelo Partido Comunista do Chile pela morte de Kim Jong Il. Porém, interessante observamos como foi a reação dos jovens ligados ao Partido Comunista do Chile, em especial a sua principal liderança, a estudante Camila Vallejo. Camila se tornou conhecida mundialmente pela sua participação ativa nas manifestações estudantis, sendo até mesmo eleita como “personalidade do ano” pelo panfleto britânico The Guardian. Porém, em clara concessão a pressão exercida pela imprensa burguesa, Camila declarou ao Canal 13 do Chile que a nota de condolências pela morte de Kim Jong Il “foram um erro” sendo necessário fazer uma “autocrítica”. Camila Vallejo vai além e diz que ficou “chocada” ao ler a nota. A declaração de Camila Vallejo representa uma completa concessão ideológica às idéias da burguesia e revela o seu caráter vacilante. Como Camila Vallejo deseja liderar as lutas estudantis chilenas capitulando vergonhosamente frente a pressões e provocações tão primárias feitas pelos setores reacionários da sociedade chilena? Quem precisa fazer uma urgente auto-crítica é a sra. Camila Vallejo e não o partido em que milita, ou ela acredita estar acima de seu partido?

Como diria um ditado anti-imperialista norte-coreano: “Ainda que o cachorro late, o trem da revolução avança”. Esperamos que Camila Vallejo não se junte ao time dos cachorros pró-imperialistas, que ameaçam o povo norte-coreano e sua república socialista há mais de 60 anos. 


Kim Jong Il, questão nuclear e a luta pela paz


"Paz sem voz não é paz, é medo" - O Rappa

Com a morte de Kim Jong Il, dirigente máximo da Coreia livre (localizada ao Norte), a mídia aproveitou para vomitar suas velhas mentiras contra a nação socialista, entre elas a suposta "ameaça nuclear comunista" de Pyongyang, omitindo que por trás do programa nuclear coreano está um dos baluartes para a paz mundial (por mais contraditório que isso possa parecer).

Luta por soberania como parte essencial da história coreana
Historicamente a Coreia é uma nação cuja independência está sob ameaça. Habitada há cerca de 8000 anos, a península foi alvo de várias incursões estrangeiras, tanto antes, quanto depois da unificação definitiva dos diversos reinos locais (por volta do século IX). Durante a Idade Contemporânea essas incursões não pararam e no início do século XX o Japão conquistou a Coreia, levando está nação à décadas de humilhações e saques, que continuaram mesmo após a derrota japonesa na década de 1940, através da intervenção político-militar ianque (que se mantêm no sul da península até os dias de hoje). Felizmente, após anos de guerra, foi possível montar um Estado soberano no norte. Sob o socialismo o povo deste país tem realizado um esforço tremendo para garantir sua independência que é ameaçada cotidianamente pelos EUA e seus lacaios na região.

Um dos aspectos mais importantes para a garantia da soberania de qualquer nação é o aspecto militar e no caso coreano essa questão é ainda mais perceptível, levando o povo desse país a fundamentar teoricamente a relação entre poderio militar e a construção do próprio socialismo, através da chamada "Política Songun".

A questão nuclear
A mídia que ataca a Coreia socialista por causa de seu programa nuclear é a mesma mídia que omite o fato de diversas nações alinhadas aos EUA serem detentoras de um arsenal nuclear capaz de destruir o planeta dezenas de vezes, utilizando todo esse poderio bélico para amedrontar outros povos. Entre os possuidores de tais armas temos França, Inglaterra e os próprios EUA, além de possivelmente Israel.

A primeira vez que uma bomba atômica esteve na península coreana foi através do governo dos EUA (o único país na história a utilizar a bomba atômica contra pessoas, no final da II Guerra Mundial), que na década de 50 instalaram mísseis atômicos nos territórios do sul, apontados para a Coreia livre, numa clara tentativa de intimidação. Diante de tal fato, o governo norte-coreano (com a ajuda da URSS) iniciou suas pesquisas nucleares, levando a construção de reatores atômicos.

Mesmo sendo signatária do TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares), a Coreia manteve o seu direito à tecnologia nuclear pacífica intacto. O imperialismo chantageou durante anos a nação chefiada por Kim Jong Il, tendo o objetivo de desarmar completamente este povo, que sabiamente não deixou se levar pelo canto da sereia, culminando com a retirada do país (por vontade própria) deste acordo. É importante lembrar do caráter injusto do O TNP, pois o mesmo legitima os armamentos já existentes, legalizando o monopólio nuclear bélico por um pequeno grupo de países, tornando os demais reféns em potencial.

Na última década o programa nuclear coreano ganhou caráter militar e público, levando o país a um teste bem sucedido da arma atômica, incomodando ainda mais as nações imperialistas, especialmente os EUA.

O equilíbrio como baluarte da paz
A ameaça de uma nova guerra contra a Coreia socialista é constante. Desde o início desta década os EUA classificam o país como parte do chamado "Eixo do mal". Basta ver o destino de outras duas nações incluídas nessa lista (Iraque e Líbia) para perceber o grau de tensão sob o qual são obrigados a viver os coreanos.

O desenvolvimento nuclear bélico é fruto direto da falta de alternativas da Coreia livre. Só uma arma de tamanha potência pode impedir que os EUA invadam a península e, além disso, que utilizem a própria bomba atômica em qualquer região do mundo (incluindo a Coreia junto a China, como responsáveis pelo equilíbrio militar mundial).

Não é a primeira vez na história que a humanidade se vê ameaçada pelo perigo nuclear. Durante a Guerra Fria chegamos muito próximos da autodestruição e um dos fatores que impediram tal fato foi o desenvolvimento de armas nucleares por parte da URSS, estabelecendo um equilíbrio parcial entre as potências mundiais. A posição de Stálin sobre a bomba atômica deixa bem clara a questão.

“Os políticos dos Estados Unidos não podem deixar de saber que a União Soviética se coloca não somente contra o emprego da arma atômica, como também pela sua proibição e pela cessação de sua fabricação. (...) Os políticos dos EUA estão descontentes pelo fato de que o segredo da arma atômica seja possuído não só pelos Estados Unidos, como também por outros países e, antes de mais nada, pela União Soviética. Eles gostariam que os Estados Unidos fossem os monopolistas da fabricação da bomba atômica para que os Estados Unidos tivessem a ilimitada possibilidade de amedrontar os outros países. (...) Os interesses da manutenção da paz exigem antes de mais nada a liquidação de semelhantes monopólios e, depois, a proibição incondicional da arma atômica. Penso que os partidários da bomba atômica só aceitarão a proibição da arma atômica se virem que já não são mais os monopolistas de tal arma.”

Os comunistas são os mais interessados em estabelecer um mundo pacífico, mas não renunciaremos à liberdade para que se estabeleça uma falsa paz, baseada na opressão.

Por um mundo comunista, único capaz de assegurar a paz e a justiça!

Camarada Kim Jong-Il, presente!

Por Diego Grossi, colaborador do blog. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Reinaldo Azevedo e a desinformação em massa

Por Alexandre Rosendo - Editor do blog Solidariedade à Coreia Popular


No dia 21 de dezembro de 2011, um colunista da Revista Veja, Reinaldo Azevedo, publicou uma coluna com o título “PCdoB supera o melhor site de humor da política brasileira”. Em tal coluna, são feitos ataques de cunho sarcástico ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil) por conta de sua nota de condolência à morte do Dirigente Kim Jong Il. Apesar de já esperarmos ataques de cunho reacionário, por serem veiculados no maior meio de comunicação fascista do Brasil, não esperávamos, entretanto, tamanho baixo nível e tamanha falta de conhecimento por parte do pseudo-intelectual Reinaldo Azevedo. Vejamos:


 “O elogio feito pelo partido brasileiro a Kim Jong-Il, ditador da Coréia do Norte morto no sábado, deixa no chinelo qualquer ironia, qualquer galhofa, qualquer piada. Esquerdistas mundo afora já disseram quase tudo da Coréia do Norte, mas a ninguém ocorreu chamar aquele país de “próspero” ou afirmar que a ditadura comunista tentou a reunificação das duas Coréias, lutando pela paz.”

Ou seja, pela interpretação do colunista (sic!) Reinaldo Azevedo, é “irônico” dizer que a “ditadura comunista” luta pela paz e pela reunificação da Península Coreana. Sob a pena de o mesmo ter ataque cardíaco por conta da história que se desenvolveu independente do que ele ou qualquer outra pessoa pense, ensinemo-la, pois:


A Coreia, após 1905, passou a ficar sob o protetorado japonês. Com a anexação em 1910, o país torna-se oficialmente uma colônia e deixa de existir enquanto Coreia, passando a ser parte do Império Japonês. Após uma luta armada liderada pelo Exército Popular da Coreia, tendo o revolucionário Kim Il Sung à frente, em agosto de 1945 a Coreia conquista sua independência através da expulsão conjunta dos japoneses pelo Exército Popular da Coreia e pelo Exército Vermelho da URSS (que entra na Coreia algumas horas após declarar guerra contra o Japão).  A Coreia, que há décadas viu sua soberania arrematada pelas potências estrangeiras, por fim, após uma sangrenta guerra de libertação, conquista sua independência. Sobre tal acontecimento, Kim Il Sung diz:

“Há cinco anos, os soldados soviéticos, combatentes do exército de libertação, penetraram no território da península coreana derrotando em seu avanço as divisões de elite do exército de Kuantung. Quinze de agosto de 1945 ficou assinalado como o grande dia de libertação da Coréia. Durante a sua multi-secular historia, a Coréia foi, por varias vezes, invadida por forças inimigas. Mas habitualmente invadiam a terra coreana usurpadores que atentavam contra a liberdade e a independência de nosso país. E eis que pela primeira vez na sua historia o povo coreano teve oportunidade de se achar na presença de soldados libertadores, e não escravizadores. Os coreanos foram oprimidos, durante cerca de quarenta anos, pelos imperialistas japoneses, que os privaram de liberdade e dos direitos políticos elementares. Proibia-se ao povo coreano a criação de partidos e organizações democráticas. Sob o ponto de vista econômico a Coréia fora transformada em apêndice fornecedor de matérias primas da indústria japonesa. Os japoneses exploravam avidamente todas as riquezas naturais. O povo vivia na indigência e na ignorância. Quase quatro quintos de toda a população da Coréia eram constituídos de analfabetos.

[...]

Quinze de agosto de 1945 foi o dia da libertação de nossa terra sofredora o dia da mais grandiosa felicidade de nosso povo. Essa data é solenemente comemorada, todos os anos, na Coréia. Surgiram novas fábricas e novas usinas, construíram-se novos clubes e novas escolas. Por toda parte — nas cidades e nas aldeias — o povo conhecia uma vida nova e feliz que se manifestava em sua intensa alegria.”


Apesar disso, tal euforia não iria durar muito. O proletariado coreano, que no decorrer de sua Revolução ia erguendo seu novo governo democrático-popular, tendo os comitês populares como forma de exercer seu poder político, se vê tendo que confrontar uma nova luta de libertação. No início de setembro de 1945, os Estados Unidos ocupam a parte sul da Península Coreana e formam lá um regime fantoche pró-imperialista. Os norte-americanos dissolvem à força os comitês populares e prendem, fuzilam, torturam etc. as lideranças patrióticas, democráticas e revolucionárias, tão importantes na guerra libertadora contra o Japão. Dissolvem partidos políticos, sindicatos e organizações democráticas. Arrastam à força jovens estudantes para morrerem numa nova guerra aventureira e imperialista contra a República Popular Democrática da Coreia. Começa o drama da divisão nacional que dura até nossos dias.


Após o fim da Guerra da Coreia, um dos pontos levantados no Tratado de Armistício assinado em Pan Mun Jon, em 27 de julho de 1953, era de retirar todas as tropas estrangeiras da Península Coreana para que as duas partes (norte e sul) da Coreia pudessem se reunificar pacificamente. Até fins de 1958, a China retira suas tropas do Norte da Coreia, ao passo que os Estados Unidos as mantêm no Sul da península até os dias de hoje. Vemos, pois, que o “agressor” da História não parece ser a Coreia do Norte, mas sim os militaristas norte-americanos.


A política invariável defendida pela República Popular Democrática da Coreia no que tange à reunificação da Pátria pode ser sintetizada na obra de Kim Il Sung no seu texto “Programa de Dez Pontos para a Reunificação da Pátria”:


“1) Fundar um Estado Unificado independente, pacífico e neutro mediante a grande unidade pan-nacional. A estrutura desse Estado seria confederativa com igual participação dos governos regionais do Norte e do Sul, e um Estado neutro, independente, pacífico e não-alinhado que não se incline a nenhuma potência.
 2) Conquistar a unidade baseada no patriotismo e no espírito de independência nacional. Ou seja, independente de abordagens particularistas.

3) Coexistência, coprosperidade e interesses comuns.
4) Fim de todas as batalhas políticas que promovam a divisão e o enfrentamento entre os compatriotas.
5) Confiança mútua, fim do medo da agressão mútua e fim da perspectiva da “vitória sobre o comunismo” ou a “comunistização”.

 6) Democracia.
7) Reconhecer as propriedades estatais, cooperativistas e privadas e proteger o capital e os bens individuais e coletivos, e as concessões comuns ao capital estrangeiro.
8) Compreensão e confiança mútua mediante contatos, viagens e diálogos entre os agentes sociais de ambos os lados.

9) Solidariedade e maior unidade entre a população do Norte, no Sul e exterior para lograr a reunificação.
10) Reconhecimento especial àqueles que contribuíram com a luta pela grande unidade nacional e pela reunificação da Pátria”


Testemunhamos, portanto, que nada há de irônico em dizer que a República Popular Democrática da Coreia luta pela paz e pela reunificação nacional. Ao contrário, é um fato objetivo que se acontece independente do que pense o senhor Reinaldo Azevedo. É muito vergonhoso, entretanto, que o mesmo pense que possa contagiar seus leitores e outras pessoas com sua ignorância sobre a história da Coreia. Da nossa parte, lançamos nossos maiores protestos.