Traduzimos aqui os comentários da Embaixada da República Democrática Popular da Coréia sobre um informe de um porta-voz do Ministério de Relações Estrangeiras da RDP da Coréia, por ocasião dos cem anos em que foi feito o tal “Tratado de Anexação Japão-Coréia”. Tal “tratado” foi, na verdade, um dos piores atentados do século XX à soberania de uma nação. É certo que a humanidade, em todas as épocas históricas, passou por atentados à soberania, pelo extermínio de populações inteiras. Porém, poucas superaram ou chegaram ao mesmo nível que a opressão japonesa na Coréia.
Recapitulação histórica
A nação coreana, em praticamente todas as épocas, milenarmente, tratou-se de uma nação oprimida. Mesmo com uma bela cultura, com um grande povo, foi negado à nação coreana o direito ao desenvolvimento, à democracia, à soberania e à independência. O fato de estar geograficamente próxima às grandes potências sempre pesou sobre seu destino, e negou-se ao povo coreano o direito de resolver por seu próprio caminho os problemas nacionais. A Coréia aparece na História desde o século II a.C. Até então, a mesma encontrava-se dividida em tribos e no ano 108 a.C., o imperador chinês apodera-se da parte norte do país, cujo controle irá manter até o século IV d.C. Neste século, as tribos unificam-se por meio das guerras de conquista, que irá formar no atual território coreano três reinos principais: Silla (a leste), Paiktché (a sudoeste) e Kokuryo (este último compreendendo o atual território de Pyongyang, e o extremo norte da Coréia atual, a península de Liao-Tung e uma grande parte da Manchúria). No século VII realiza-se a unificação pelos reis de Silla e, em seguida, os chineses são expulsos. Nos princípios do século X, num período de tumultos, a dinastia dos Wang toma o poder, fixa a capital em Songdo (atual Kaesong) e dá ao Estado o nome de "Koryo".
A invasão dos mongóis irá por um fim à independência da Coréia, bem como à da China, de 1231 a 1392. Com a queda da dominação mongol, estabelece-se a dinastia dos Li (1392-1910). Tal dinastia representa o grupo favorável à dominação chinesa. Tanto que, durante este período histórico de 1392 a 1910, quase todas as instituições do país foram copiadas de acordo com modelo chinês, entre as quais os exames mandarins, o pagamento de um pesado tributo das massas camponesas ao rei, e o confucionismo como religião do Estado. Porém, a adoção do confucionismo como religião de Estado não deixou desaparecer o budismo e as crenças tradicionais baseadas no “chamanismo”.
Do século XVII ao século XIX, a história da Coréia seguirá um paralelo com a da China e a do Japão, o que irá resultar basicamente num “fechar a si mesmo” em relação ao resto do mundo. Porém, no final do século XIX, as grandes potências européias irão forçá-la, à base do canhão, uma “abertura” com relação ao resto do mundo. Abre-se as portas para a imigração japonesa. Como conseqüência da vitória destes na guerra russo-japonesa, teremos o estabelecimento do protetorado japonês na Coréia em 1905, até sua anexação em 1910.
Início da agressão japonesa
O que salta aos olhos, portanto, como já havíamos assinalado no início do texto, é que em nenhum momento de sua História, antes da libertação em 1945, o povo coreano teve a possibilidade de se desenvolver de maneira soberana, democrática e de garantir a si mesmo o direito à independência. A Ideia Juche, desenvolvida pelo Grande Líder, patriota sem igual e exemplo de combatente revolucionário marxista-leninista, Kim Il Sung, irá "botar um acento" na questão da independência. Temos aqui, portanto, quais são as raízes históricas dessa Ideia revolucionária. Kim Jong Il, em seu clássico Sobre a Ideia Juche, explica que a História da humanidade é a história da luta das massas populares pelo Zazuzong (que, em coreano, significa Independência), explica que as massas populares, outrora oprimidas e humilhadas, aparecem agora como donas do mundo e possuem autonomia para assinalarem o caminho mais correto para forjarem seu destino.
Com a ocupação japonesa na Coréia, mais de 200 mil mulheres foram transformadas em escravas sexuais do Exército Japonês |
De 1910 a 1945, a Coréia passará pelo período mais sombrio e obscuro de sua História, como colônia japonesa. O Tratado de Anexação Coréia-Japão irá, de uma vez por todas, fazer com que tudo (inclusive os seres humanos) sejam propriedades do Estado fascista Japonês. Numa fase que se estende até o início dos anos 30, a Coréia é para os japoneses uma colônia rural de exploração que se espera transformar numa colônia de povoamento. Os japoneses se apropriaram de grande parte do solo. Em 1912, uma lei ordenou aos proprietários que registrassem suas terras. Só os grandes proprietários rurais, regra geral, puderam cumprir as disposições da lei. Os outros, por ignorância ou falta de meios, omitiram em proceder ao registro suas propriedades. As terras não registradas foram consideradas “bens vacantes” e passadas ao controle do Estado japonês. No ano de 1942, os japoneses possuíam cerca de 80% das florestas e 25% das superfícies cultivadas. Em 1925, contavam-se em cerca de 425 mil o número de japoneses na Coréia. Eles tinham em suas mãos toda a vida econômica do país: proprietários de arrozais, de terrenos de construção, pescadores, comerciantes, etc. A distribuição da população ativa agrícola traduz uma pauperização das massas da população camponesa.
Porém, a par da colonização, novas grandes forças produtivas são instaladas na colônia. As sociedades de colonização japonesa irão introduzir os primeiros ordenamentos modernos de irrigação e drenagem, e irão partir para o emprego de adubos.
A Grande Depressão Econômica mundial e a Segunda Guerra Mundial irão mudar o estilo de colonização japonesa na Coréia. Para atender às demandas do Japão na guerra e para sobreviver à crise econômica, os coreanos serão submetidos a uma exploração desenfreada e sem precedentes. Vejamos aqui, com dados na mão, no que consistia a exploração e a pauperização agravada das massas populares por decorrência desses dois acontecimentos históricos:
O Japão é deficiente em quase todas as matérias-primas industriais. Por causa disso, ele terá de buscar em suas colônias (Coreia e Manchúria) as matérias-primas indispensáveis para sobreviver aos últimos acontecimentos, buscando inclusive estabelecer em tais localidades algumas indústrias de base. Ora, a Coréia (sobretudo a Coréia do Norte) é rica em minerais e em fontes de energia. Dispõe de enormes reservas de minério de ferro, antracite, linhite, cobre, tungstênio, níquel, cobalto, etc. No nordeste, possui uma reserva de mais de 3,6 milhões de toneladas de magnesite. Estes recursos farão com que a Coréia, em 1944, seja primeira produtora de grafite no mundo.
A valorização desses recursos se dará num ritmo altamente acelerado. De 1932 a 1945, o volume da produção industrial tornou-se quinze vezes maior. Porém, esse desenvolvimento não é de forma alguma auto-centrado. Está destinado a cobrir as demandas da indústria japonesa: 100% do consumo de magnesite, grafite, mica e boro são destinados para o Japão, assim como 85% do consumo de molibdeno, 22% do consumo de bauxita, 14% do consumo de coque e 11% do consumo de aço. A indústria fornece, sobretudo, produtos semi-elaborados para serem utilizados como matéria prima: coque, fundição e aço, adubos ou equipamentos militares. As indústrias têxteis, alimentares, mecânicas, praticamente não existiam. Toda esta produção é dominada pelo capital japonês, que se constituía em 89% na economia coreana em 1938, e 97% em 1943.
A Coréia é libertada
O resultado deste crescimento econômico é que se constitui, no país, uma classe operária relativamente pequena (732 mil operários em 1943, dos quais 550 mil empregados da indústria). Olhemos, finalmente, o resultado deste crescimento colonial e dessa exploração desenfreada: de 1912 a 1936, o consumo de arroz por habitante diminui pela metade. Em 1936, ele é inferior a um terço da média japonesa, que em si já é pequena. Os salários são inferiores a metade do salário médio japoneses, que também é igualmente baixo. É sob esse contexto que se dá a libertação da Coreia em 1945, realizada em conjunto pelo Exército Popular da Coreia (liderado pelo Grande Líder, Camarada Kim Il Sung) e pelo Exército Vermelho da URSS.
Esta libertação realizada pelas forças revolucionárias dará às massas populares da Coréia, pela primeira vez em sua História, a possibilidade de decidirem sob seu destino de maneira independente, sem a intervenção de qualquer potência estrangeira, fosse ela os Estados Unidos ou a União Soviética. Porém, a independência da Coreia e a libertação de seu povo ainda não foram completamente realizadas. Até hoje, mesmo após a assinatura do armistício em 1953, as tropas norte-americanas ainda estão ocupando a parte Sul da Coréia e ainda mantêm trinta e oito bases militares na Península. Além disso, o país permanece dividido pelo imperialismo. Milhões de pais, filhos, irmãos e irmãs deixam de se ver pela simples vontade de círculos empresariais, que não se contentam em ver que existe um pequeno país, no extremo leste do continente asiático, no qual estes foram derrotados. Sim, foram derrotados na RDP da Coréia e o serão no mundo inteiro, esta é uma lei objetiva da marcha da História. Da nossa parte, nós, comunistas brasileiros, com um grande sentimento de solidariedade internacionalista e carinho para com nossos irmãos coreanos que constroem o socialismo e batalham constantemente para que o país não continue absurdamente dividido, manifestamos nosso apoio incondicional à luta destes. Estamos aqui postando e traduzindo os comentários da Embaixada da RDP da Coreia no Brasil sobre o informe, por ocasião dos cem anos da agressão japonesa à Coreia.
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Porta-voz do Ministério de Relações Estrangeiras pede ao Japão para se desculpar e fazer a devida indenização
Pyongyang, 20 de agosto (KCNA) – Um porta-voz do Ministério de Relações Estrangeiras da República Democrática Popular da Coreia liberou um informe por acasião do centenário da odiosa fabricação do Japão do “Tratado de Anexação Coreia-Japão” pela força das armas, pela anexação ilegal da Coreia. “Não existem palavras para explicar os danos humanos, psicológicos e materiais causados pelos imperialistas japoneses ao povo coreano durante a tirania colonial”, diz o informe. “Mais de 1 milhão de coreanos foram mortos, ao menos 8,4 milhões de coreanos, entre jovens e adultos, foram arrastados para o trabalho escravo e viveram as chagas da guerra de agressão, e cerca de 200 mil mulheres coreanas foram arrastadas para selvageria da escravidão sexual”, noticiou mais uma vez o informe.
Sem dúvidas, existiu uma era colonial na História humana, mas não se conhece até hoje uma colonização como a japonesa, que impôs, inclusive, a bárbara política de impor sua cultura a outras nações, de privá-las de sua cultura nativa, de suas línguas natais, de suas escritas, proibindo-as de terem nomes nacionais, de seu povo. Tiveram a depravada a atitude roubar até arroz, talheres, utensílios básicos de cada casa. “O centenário que se passa aqui, é o centenário da história na qual o Japão cometeu crimes mas se recusa a se redimir destes, é a história na qual o povo coreano sofreu danos causados pelo Japão”, diz o informe, e prossegue:
O atual regime japonês deve pedir desculpas e indenizar todas as suas vítimas do passado, sem qualquer pré-condição ou preconceito. O Japão jamais poderá se livrar da obrigação de se desculpar e indenizar a RDP da Coreia pelos crimes do passado. O mesmo deve se desculpar imediatamente e indenizar o país pelos obscuros crimes cometidos contra o povo coreano depois de usurparem a soberania nacional através de fabricação de “tratados” inválidos. Se não o fizer, jamais receberá apoio da comunidade internacional.
O Japão deve honestamente se arrepender de todos os atos perpetrados contra da RDP da Coreia e contra a Associação Geral de Coreanos Residentes no Japão depois da derrota desta política hostil para com a RDPC. Fazê-lo será a mínima obrigação a ser feita pelo Japão, que está sob a influência cultural da Coreia e está no caminho para se redimir de seus crimes. Fazê-lo será um avanço na promoção da paz, da estabilidade da região e da segurança no Japão.
A Agência Central Coreana de Notícias (KCNA) bota o “Tratado de Anexação Coreia-Japão” como Terrorismo de Estado declarado
Pyongyang, 20 de Agosto (KCNA) – A Agência Central Coreana de Notícias declarou nesta quinta-feira a acusação segundo a qual “O ‘Tratado de Anexação Coreia-Japão’ é terrorismo de estado perpetrado pelas autoridades japonesas numa parte do século, desde que o Japão privou a Coreia de sua soberania nacional através da ‘anexação’”. A acusação diz:
“A ‘Anexação Coreia-Japão’ foi um terrorismo de estado cometido pelas autoridades japonesas contra um Estado soberano através do uso do governo e do poder militar. O Japão fez sistemáticas preparações para privar a Coreia da soberania nacional por um longo período de tempo. Depois da ‘Restauração Meiji’ em 1868, o Japão advogou a “Teoria da Conquista da Coreia” que dizia que “conquistar a Coreia pela força militar para a prosperidade do Japão e do Estado Imperial”, baixando uma política de fundação da “Anexação Coreia-Japão”.
Neste período subseqüente, o Japão fabricou o “Tratado de Cinco Pontos ‘Ulsa’”, o “Tratado ‘Jongmi’ de Sete Pontos”, etc. para ter em mãos o direito diplomático e o direito de administrar assuntos judiciais e internos do governo feudal da Dinastia Ri, dessa forma transformando a Coreia de fato numa colônia e construindo uma fundação política e diplomática para a anexação.
Em fevereiro de 1906, o Japão criou a “Residência-Geral” na Coreia com o intuito de levar a cabo a tão visada “Anexação Coreia-Japão”. O Japão fez grandes esforços com a força militar para atingir tal propósito. Na base destas preparações as autoridades japonesas fizeram um encontro em 1909 em que tomaram a decisão que dizia: “Este será o método mais definitivo que mostrará nossa habilidade na península coreana para anexá-la e torná-la parte do Estado Imperial”. Em outro encontro feito em julho de 1910, o Japão finalmente montou o cenário para ocupar a Coreia, dizendo que a mesma era uma “casa” da realeza e que era totalmente legítimo anexar seu território.
Dessa forma, o Japão forçou a anexação da Coreia e trabalhou duro para eliminar seu Imperador, o representante supremo da velha Coreia, da arena política. No tal “Tratado”, o Japão clamava por um documento legal que tornaria legitima a anexação da Coreia pelo Japão, tal documento dizia: “Sua Majestade, Imperador da Coreia, transferiu permanentemente todos os direitos para governar todo o território da Coreia e Sua Majestade, Imperador do Japão, aprovou transferi-lo do formal para materializá-lo, e aprovou a completa anexação da Coreia ao Império Japonês.
Os executores das políticas japonesas na Coreia fizeram desesperados esforços para destronar o Imperador da Coreia para reduzi-lo a um mero fantoche do Japão sob a direção e os desmandos das autoridades. “Mensagens da anexação da Coreia enviadas e recebidas”, mensagens confidenciais trocas entre a “Residência-Geral” e o Gabinete Japonês reportavam diariamente sobre a ocupação, continha escritos e estratégias específicos levadas a cabo pelas autoridades japonesas para realizar a anexação. A maioria destas continha detalhes sobre qual seria o nome da Coreia depois da anexação, e como mudá-la para satisfazer aos caprichos reais. Essa é uma clara prova sob o quão persistentemente o Japão tentou eliminar a representatividade da velha Coreia.
Absolutamente imperdoável foi a ação arrogante tomada pelo Japão para destronar o Imperador da Coreia para assim reduzi-lo a um mero fantoche do Estado Japonês.
A supressão da liderança de Estado da Coreia a mais evidente manifestação de terrorismo de Estado. Por causa da supressão e do insulto à liderança de estado, seu povo viveu sob o terror de ser membro de uma nação sem estado, sob o terror de o destino nacional ter sido levado à ruína. Os arqui-criminosos que fabricaram a “Anexação Coreia-Japão” foram o rei do Japão e seus lacaios, que agiram de acordo com suas ordens e diretrizes.
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Introdução ao texto: Blog de Solidariedade à Coréia Popular
Tradução: Blog de Solidariedade à Coréia Popular
Texto: Embaixada RDP da Coréia no Brasil