quarta-feira, 18 de abril de 2018

"O Dia do Sol na Terra da Luz"


Apresentação "RPD da Coreia: da divisão à luta pela paz e a reunificação pacífica", do Por Prof. José Alves de Sousa foi realizada por ocasião do 106º natalício de Kim Il Sung, realizada na última semana na Universidade Federal do Ceará (UFC).

A nação coreana tem sofrido durante toda sua história contínuas invasões dos impérios do entorno: império japonês, império chinês, inclusive os  mongóis estiveram ocupando essas terras. A península coreana tem uma posição estratégica muito importante, sendo a porta de entrada da Ásia. Por isso tem sido cobiçada pelos grandes exércitos.

O povo coreano sempre foi relativamente pequeno, com uns cinco mil anos de história e seu primeiro rei foi o Rei Tangun. Sempre foi um povo pacífico que tentava levar uma vida normal, mas  o fato de ter sido constantemente invadido, ocupado e massacrado por outras nações, a única possibilidade que teve e que tem o país é de se fechar para o exterior. Por isso é conhecida como o “Reino Ermitão”.

Durante a época feudal o país, para se proteger de invasões, se fechou para a entrada e a influência estrangeira e isso explica também a homogeneidade da nação coreana em que praticamente não há miscigenação: 99º da população é de raça coreana.

A última fase dessa ocupação está a do Japão, provavelmente a mais dura. Embora tenham ocorrido enfrentamentos por territórios entre os três reinos existentes na península: Kogurio, Pechei e Sida, o que resultava na mudança da capital, quando a Coreia está unificada por volta de 1905 com o Tratado de Ulsa, a monarquia coreana, que era servil, pede apoio ao Japão para se proteger e o Império Japonês se utiliza desse pretexto para colonizar o país. Esta colonização abrange o período de 1905 até 1945.

Durante 40 anos toda a península coreana era colônia do Japão e nesse período o povo estava proibido de usar sua língua materna, vestir suas roupas, etc. O povo coreano era tratado como cidadãos inferiores de segunda ou terceira categoria.

Por outro lado, os Estados Unidos, ao ocupar o Japão, também ocupam o sul da Península Coreana com o pretexto de desarmar as tropas japonesas que ocupavam desde 1905 o país. Enquanto os norte-americanos avançam rumo ao norte, as guerrilhas comunistas, junto com nacionalistas, camponeses, budistas, cristãos avançam do norte rumo ao sul e chega um momento em que essas forças se encontram: as tropas do sul apoiadas pelos EUA e as tropas comunistas com apoio logístico da então URSS se encontram na metade do território, em torno do paralelo 38’. É ai que se dá a divisão artificial do país pelas potências estrangeiras.

A Coreia, com o fim da Segunda Guerra Mundial fica, então, dividida em duas zonas: o norte, socialista, governado pelos comunistas e o sul, ocupado de forma neocolonial sob o controle militar  até os dias de hoje pelos EUA, que controlam as forças armadas do sul.

Essa divisão artificial do país tem como resultado a criação de dois Estados: a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), em coreano Joseon Minjujuŭi Inmin Gonghwaguk no norte e a República da Coreia no sul. E em pouco tempo, precisamente no dia 25 de junho de 1950, as tropas norte-americanas lançam uma manobra agressiva para tentar tomar a parte norte cujas tropas estavam dizimadas, a URSS havia se retirado, deixando praticamente o norte sem armamento, muito menos para lutar contra uma superpotência. Os EUA lançam, então, uma ofensiva e ocupam uns dois quilômetros do território coreano do norte.

Imediatamente, o Presidente Kim Il Sung convoca à defesa do país e são mobilizadas todas as tropas. Os norte-americanos não esperavam que, mesmo contando com tão pouco armamento e provisões, os coreanos do norte podiam defender seu território, suas famílias, mas estes contavam com a força ideológica para combatê-los, mais ou menos o que ocorreu no Vietnã onde os norte-americanos pensavam que ocupariam de forma muito rápida, mas foram derrotados e expulsos e o país foi reunificado em bases socialistas.

O que ocorre é uma contraofensiva do norte e em apenas uma semana Seul, capital da Coreia do Sul, é ocupada e, com essa ocupação, são confiscados milhares de documentos que confirmam a preparação da invasão do norte pelos EUA e pelo ditador militar Syngman Rhee, que foi trazido do    Havaí para atacar o norte.

Essa é a guerra da Coreia, também conhecida como “A Guerra Esquecida” (the forgotten war) porque os EUA não querem falar dela, mas que durou de 25 de junho de 1950 até 27 de julho de 1953. Durante essa agressão os norte-americanos lançaram mais de uma bomba por habitante (o equivalente a seiscentas mil toneladas de explosivos) , além de bombas bacteriológicas e químicas que ainda estão conservadas na Coreia.

Foi uma guerra tão terrível e devastadora que o povo teve que sobreviver no subsolo (embaixo da terra): as pessoas aprenderam a viver em túneis subterrâneos porque não ficou nenhum prédio ou edifício em pé em toda a Coreia do Norte. E essa experiência de viver soterrado durante os três anos que durou a guerra serviu para a luta de outros povos, como o vietnamita, quando os norte-coreanos os ajudaram também com pilotos de guerra e com os chamados especialistas “tuneladores” (construtores de túneis) contra os invasores norte-americanos.

Graças a esses túneis a população coreana pode sobreviver enterrada e, finalmente, como os invasores não puderam ocupar todo o país com suas tropas terrestres porque realmente não estão capacitadas para ocupar e permanecer no território, os EUA se viram obrigados a assinar o Tratado de Armistício de 27 de julho de 1953.

O Tratado de Armistício não é mais do que uma trégua, de modo que, até hoje, os EUA estão em guerra contra a República Popular Democrática da Coreia, o que pode levá-los, a qualquer momento  e quando quiserem, a atacar o país sem necessidade de se justificarem perante a ONU ou outros organismos internacionais porque a guerra continua aberta e os EUA não quiseram assinar a paz. E se não querem assinar um tratado de paz é porque esperam que podem a qualquer momento atacar.

Com o fim da guerra e com a divisão definitiva em 27 de julho de 1953, tem início a reconstrução do país. Em termos políticos a República Popular Democrática da Coreia é um país socialista que quer construir uma sociedade baseada na igualdade em que o povo seja o dono de tudo: da terra, dos meios de produção, da moradia, enfim, dono do país. Não é como no Brasil onde umas oligarquias poderosas de origem colonial e escravocrata tudo controlam, incluindo o estado das mentes e da conduta da população, mas sim o próprio povo.

Não existem os impostos na RPD da Coreia, a educação e a saúde são totalmente públicas e gratuitas, além da moradia também gratuita. A base do sistema socialista coreano é a de que, em primeiro lugar, todos os vinte e quatro milhões de habitantes tenham todo o necessário. E conforme o país vai se desenvolvendo economicamente, essa riqueza vai sendo distribuída de forma equitativa e não fica em mãos de umas poucas famílias oligárquicas. Essa é a principal diferença com um  país capitalista como o Brasil em que se alguém tem sorte porque nasceu em uma família abastada que  lhe deixa uma herança, ou de classe média acomodada, ou ganha na loteria e se torna milionário, enquanto as grandes maiorias exploradas e oprimidas, hoje mais do que nunca, quando estamos submetidos a uma ditadura da oligarquia financeira respaldada por um parlamento e um judiciário corrompidos que perpetram uma verdadeira vingança contra a classe trabalhadora, ao abolir seus direitos coletivos e individuais a partir de um golpe de Estado. Essa é a principal diferença para quem não sabe distinguir entre o sistema socialista e o capitalista.

A RPD da Coreia, desde sua criação, procurou criar uma linha política independente e sua experiência não pode ser extrapolada para outros nações. O Presidente Kim Il Sung sempre dizia, ao receber delegações de países africanos lusófonos que haviam sido libertados do colonialismo de Portugal com ajuda coreana, como Angola e Moçambique, que queriam copiar e colar a experiencia revolucionária coreana: cada país deve procurar construir seu próprio sistema socialista de acordo com sua cultura e sua realidade. Pode-se, naturalmente, estudar a experiência coreana, mas nunca aplicar o sistema de uma sociedade como o da Coreia a um pais como o Brasil, por exemplo, onde a cultura, a religião e a idiossincrasia são totalmente diferentes.

Baseado nesse princípio de que cada país deve procurar construir sua própria via política, o Partido do Trabalho da Coreia (PTC), no poder desde a libertação do colonialismo japonês, criou seu próprio emblema, que se diferencia de outros partidos. O emblema do PTC possui a foice (que representa os camponeses), o martelo (que representa a classe operária) e inclui um terceiro símbolo semiótico que não existe nas bandeiras de outros partidos, que é o o pincel (que representa os intelectuais e artistas) como força revolucionária. Esse fato criou vários problemas com outros partidos do chamado “campo socialista” naquele momento.

A RPD da Coreia não assinou o Pacto de Varsóvia porque não queria estar sob a proteção da URSS naquele momento, muito menos se integrou aos pactos comerciais globais dos países do chamado socialismo real (COMECON), mas não deixou de comercializar com esses países socialistas de igual para igual, e está integrada ao Movimento de Países Não Alinhados até os dias de hoje, reafirmando sua posição de continuar seu caminho sem estar sob controle ou patronato de qualquer potência, seja capitalista ou socialista.

Atualmente o ensino é obrigatório até os doze anos de idade ou mais, não há analfabetos e todos devem passar por esta etapa escolar. Existe na RPD da Coreia um sistema de distribuição duplo: o sistema de distribuição público, que garante que todo mundo tenha assegurado um teto gratuitamente e não tenha que pagar aluguel ou hipoteca; que todo mundo tenha acesso à saúde em igualdade de condições; que todos tenham acesso à alimentação gratuitamente, bastando ir à regional do seu distrito ou à granja cooperativa camponesa a cada duas semanas para receber sua cota de alimentação básica correspondente à quantidade de membros de seu núcleo familiar. Para isso não precisa gastar do seu salário que pode ser usado para comprar em lojas, supermercados e shoppings o que queira e precise. É assim que funciona o duplo sistema de distribuição da riqueza socialmente produzida. (video Alejandro Cao em RT).

A Revolução Coreana também conseguiu resolver vários outros problemas sociais herdados do capitalismo e do colonialismo japonês, como a drogadição ao ópio trazido da China e outras drogas como a cocaína e heroína tornadas mercadorias e fomentadas pelas potências estrangeiras capitalistas, não existem na Coreia. No país não há ameaça de grupos terroristas porque eles simplesmente não existem, muito menos crime organizado ou facções criminosas como PCC ou Comando Vermelho porque os valores inculcados pela educação socialista desde a infância desestimulam saídas como as procuradas por um jovem carente de uma periferia de uma cidade brasileira, onde predomina o mal-estar social e a inveja que sente quem não pode consumir ou possuir bens em relação a quem pode. Em não havendo consumo de drogas pesadas também não há prostituição e a AIDS é desconhecida no país, havendo permanentes campanhas para que continue sendo assim.

Há a ideia geral de que a comunidade e a sociedade está acima do indivíduo e esta é uma das principais característica difícil de entender a partir da ótica de um pais ocidental capitalista. Cada pessoa é um mundo, tem sua forma de pensar mas, em última instância, o que caracteriza a maneira de ser coreana é que quando se reúne um grupo de dez, vinte ou mais pessoas, acabam chegando a um acordo e não se tenta sabotar porque alguém tem uma posição individualista e quer impô-la ao resto do grupo.

A grande  diferença entre o nível cultural e a forma de pensar de uma sociedade como a coreana e uma sociedade individualista como a brasileira é a capacidade de construir união que tem um coreano ao renunciar à sua forma de pensar e à sua posição pessoal para avançar conjuntamente. Essa é a grande vantagem que possui a Coreia porque existe a facilidade de união  e porque a estrutura social não é o indivíduo, mas sim a família e a comunidade, daí a busca do consenso.

No que se refere à língua coreana propriamente dita, o alfabeto coreano ou hangul (literalmente: "caracteres Han") com romanização revisada: hangeul /han'gŭl/  é o alfabeto nativo coreano (em contraste com os hanja, ou caracteres chineses). Nele cada bloco silábico consiste em algum dos 24 fonemas (jamo), 14 consoantes e 10 vogais. Historicamente possui 3 consoantes e uma vogal a mais. Estes blocos silábicos podem ser escritos tanto horizontalmente da esquerda para a direita como verticalmente de cima para baixo, com as calunas da direita para a esquerda.

O socialismo na RPD da Coreia é definido como Ideia Juche (Chuch'e sassã) e se pronuncia foneticamente como  /tɕutɕʰe/ e na língua coreana define basicamente que o homem é dono do seu destino e tem a capacidade para transformá-lo. Ou seja, o povo tem a capacidade e de fato  doma e transforma a natureza para criar um mundo melhor e mais cômodo. É a ideia de que se o povo o deseja pode conseguir tudo e tem em suas mãos essa capacidade para construir seu futuro.

A Ideia Juche não é apenas socialista e possui elementos muito importantes derivados do budismo, do confusionismo e de princípios morais que já estão inculcados e imbuídos pela sociedade e  imersos na cultura coreana.

A ideia Juche é ideologia oficial do partido governante da RPDC, o Partido do Trabalho da Coreia (PTC). Desenvolvida por Kim Il Sung, líder da Revolução Coreana e fundador do Partido do Trabalho da Coreia. Em suas memórias Kim Il Sung destaca que durante a luta revolucionária “sua doutrina”, “seu credo” foi o chamado iminwichon, que significa considerar o povo como o centro de tudo.

A palavra Juche não possui uma tradução literal para a língua portuguesa: “Ju” ou “zu” quer dizer dono e “che”, corpo; juntando as duas palavras teríamos o conceito de “dono de seu corpo”. A palavra foi originalmente empregada como forma de referir-se à aplicação dos princípios básicos do marxismo-leninismo à realidade coreana. Posteriormente, os coreanos passaram a definir o Juche como uma “nova” e “original” filosofia do socialismo científico.

Os comunistas coreanos defendem que a superioridade da ideia Juche reside no fato de que, indicando a posição e o papel do homem no mundo, revela-se de modo científico a maneira com a qual o homem forja o seu destino, a partir da independência, do espirito criador e da consciência, atributos essenciais do homem enquanto ser social. Para Kim Il Sung, a ideia Juche é “em uma palavra, a ideia de que o dono da revolução e da construção são as massas populares e a força que impulsiona a revolução e a construção vêm também das massas populares”.

Um dos aspectos mais importantes abordados sobre a RPD da Coreia é o que se refere à autogestão (tchadju)  e à autossuficiência. Por que a Coreia coloca tanta ênfase na autogestão ou autossuficiência? Um país que não é capaz de produzir seu próprio armamento, seu próprio sistema educacional, sua alimentação, vestimenta, etc e depende do estrangeiro é um país submetido a outras nações e perde sua soberania e, no momento em que um Estado estrangeiro queira pressioná-lo, basta fechar a torneira das importações e dos créditos, provocando um problema social muito grave. De modo que, se uma nação quer ser soberana deve produzir o máximo do que precisa por si mesma e procurar o autoabastecimento, procurando importar somente aquilo que não é capaz de produzir por não dispor de suficientes terras cultiváveis, matérias-primas e especialistas para produzir tudo.

Com base nesse conceito de que tudo o que se produz por si mesmo custa muito menos  e se oferece muito mais trabalho para o povo, proporcionando soberania nacional, constitui o princípio do (tchã jaú) e se aplica a todas as esferas da vida do país.

Um dos grandes problemas definidos pelo Presidente Kim Il Sung é o de que, embora se esteja construindo uma sociedade socialista que ruma para o comunismo, constata-se que os seres humanos continuam “contaminados” de defeitos e o que aconteceu com a debacle na URSS e outros países ditos socialista se deveu a diversos fatores e um dos mais importantes é o que se chegou a chamar de “nomenclatura” (burocracia), a separação entre os altos cargos no PCUS e no Estado e o povo, que resultou no aburguesamento e respectivos privilégios dos dirigentes de empresas em relação aos trabalhadores. Não pode existir privilégio entre uma pessoa que possui uma responsabilidade  politica ou empresarial maior perante o povo porque não se estaria cumprindo com os princípios do socialismo e porque se cria desigualdades e mal-estar social que mais adiante levará à desmoralização e queda desse sistema, ao ponto que, eu mesmo, ouvi de um  russo soviético o lugar comum de que “fingem que nos pagam e nós fingimos que trabalhamos”, ou seja, gera-se o parasitismo e o  individualismo com suas nefastas consequências.

Uma das grandes razões do porque muitos países socialistas se aburguesaram e caíram e a RPD da Coreia se manteve como Estado socialista se deveu a essa fórmula que o Presidente Kim Il Sung definiu como Tchun San Dê, ou seja, quanto mais responsabilidade politica tem um dirigente mais exemplo de serviço deve dar ao povo. Assim, as pessoas que não cumprem corretamente com seus deveres, como o caso do general Chang Sŏng-t'aek, considerado contrarrevolucionário, sofrem as consequências, inclusive com pena de morte.

A política ou doutrina Songun (songun chongch'i) é a prioridade dada à questão militar (dissuasão militar), criada pelo Presidente Kim Il Sung durante a ocupação japonesa nos anos 20 do século XX. Concretamente, no ano de 1926 se incluía no programa da União para Derrotar o Imperialismo a ideia de derrotar com armas o imperialismo japonês, conseguir a independência nacional e construir o socialismo na Coreia. Baseia-se no princípio de que de nada adianta os avanços científicos e tecnológicos, construir hospitais e descobrir medicamentos contra a hepatite C, por exemplo, se o país pode ser atacado e bombardeado  de novo. Como evitar que isso ocorra outra vez? Só há uma fórmula e uma linguagem entendida pelos EUA e esta é a dissuasão militar e as armas.  E os norte-americanos não vão atacar e ocupar um país, como fizeram com o Iraque, a Líbia, o Iêmen e estão fazendo com  a Síria, onde estão sendo derrotados com o apoio da Rússia,  se sabem que podem sofrer um contra-ataque a seu próprio território e esse é motivo pelo qual a RPDC desenvolve armas nucleares.

Não se trata de que a Coreia queira porque queira ou goste das armas nucleares, mas sim porque com uma só arma nuclear, com tão somente um míssil balístico nuclear intercontinental, como Hwasong-15 (marte-15) testado na noite de 28 para 29 de novembro de 2017 e que alcança até treze mil quilômetros de distância podendo, portanto, atingir qualquer ponto do território continental dos EUA. Dessa forma, a República respondeu às incessantes provocações e hostilidades representadas pelas manobras aéreas e navais conjuntas dos EUA e Coreia do Sul nas fronteiras do país e, finalmente, completou seu programa nuclear autodefensivo.

Os planos de ataque contra a RPD da Coreia vêm desde antes de George Bush Jr. e o ex-Presidente Clinton já havia anunciado publicamente esses planos de um ataque nuclear preventivo contra o país. E a resposta do governo coreano foi, ao contrário de se deixar amedrontar, acelerar o programa de defesa nuclear, obrigando Clinton a assinar de próprio punho e letra o Tratado de Genebra de 1994. Com esse acordo a RPDC se comprometia a suspender seu programa nuclear; em troca os EUA se comprometiam a fornecer à Coreia dois reatores nucleares de água leve para que o país conseguisse produzir energia elétrica para atender às necessidades, já que a Coreia sofre um bloqueio econômico como consequência das criminosas resoluções de sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU ou unilateralmente pelos     EUA, desde 2001 até 2008, as últimas delas aprovadas por um comitê do CSU em 30 de março e que incluem em sua lista 21 companhias de navios mercantes, 27 navios e uma pessoa por ajudar a Coreia do Norte a evadir o nefasto regime de bloqueio ilegítimo contra o país.

Em seguida veio Bush Jr. com a invenção de sua famosa frase do “eixo do mal” no qual incluía a RPD da Coreia como país a ser eliminado, mas no final de seu mandato os próprios republicanos passaram a tratar com boas maneiras o general e líder Kim Jong Il, também porque fracassaram em seus intentos de submeter a nação e porque queriam eleger seu sucessor. É daí que surge a necessidade da Coreia de ter seu próprio programa nuclear dissuasivo e autodefensivo porque a Coreia nunca atacou nem ameaçou outros países, mas são os EUA os que ocupam e controlam militarmente o sul da Península Coreana e não é a Coreia que está no Alaska. A Coreia defende seu modo de vida e seu território e o fará até as últimas consequências.

A RPD da Coreia não quer armas nucleares e pugna por um mundo sem armas nucleares e, se as possui, é porque os EUA a forçaram a desenvolvê-las. Enquanto isso os EUA possuem mais de seis mil e quinhentas ogivas nucleares espalhadas em todo o globo e usam armas com urânio empobrecido contra outras nações quando bem entendem. Como os EUA não têm nenhum interesse em cessar seu expansionismo, a Coreia também não tem nenhum interesse em se desarmar e acabar como acabaram o Iraque, o Afeganistão e a Líbia.

As armas nucleares para a RPD da Coreia têm caráter tático e estratégico para a defesa da paz, pois sabemos que, na época da chamada Guerra Fria, entre URSS e os EUA, os dois maiores possuidores dessas armas termonucleares, elas não só não foram usadas, mas também serviram para evitar a guerra ou uma invasão militar convencional da OTAN contra a União Soviética. Havia, então, um equilíbrio nuclear estratégico porque se sabia que não haveria vencedores caso elas fossem usadas. No entanto, o ocidente tendo à frente os EUA conseguiu,  durante o regime de Mikhail Gorbachov e de Boris Ieltsin, quando governava George Bush, não apenas desintegrar o país, mas restaurar o capitalismo com pouca ou nenhuma reação interna. Como isso se tornou possível?

E que vemos hoje não é outra coisa senão a continuidade daquela Guerra Fria, agora contra Federação da Rússia.

A RPD da Coreia é hoje o país mais bloqueado e sancionado do mundo pelos EUA através do Conselho de Segurança da ONU. O país não recebe nem remete um único dólar, o que dificulta em muito seu comércio com terceiros países, obrigando-o a inventar múltiplas formas de burlar essas sanções para adquirir o que necessita.

O período entre 1995 e 2002 é definido como o de “longa marcha” quando o país, sendo muito rico em minerais, não é autossuficiente em produção alimentar por ser um país montanhoso e possuir apenas 15% de terras cultiváveis, enquanto as baixas temperaturas são intensas no inverno que vai de novembro até abril, o que obriga o país a importar a cada ano milhões de euros em grãos e alimentos. Por outro lado possui enormes reservas de ouro, terras raras, magnesita, cimento, carvão mineral e cobre das mais importantes de toda Ásia. Antes das recentes sanções impostas, esses produtos eram exportados e com as divisas adquiridas se comprava arroz da Tailândia

Nesse período a RPD da Coreia se encontra praticamente sozinha no mundo porque os países como a URSS, China e Vietnã restauraram o capitalismo e o comércio com esses países obedece agora à lógica do lucro e não do intercâmbio mutualmente vantajoso de produtos. A partir de 2001 o país começa a se recuperar, modernizar suas empresas e comercializar com essas empresas capitalistas estrangeiras  interessadas em comprar o carvão coreano, antes adquirido pelos governos.  Mas nessa etapa houve muita fome e muita gente morreu por doenças derivadas da inanição.

A isso é preciso acrescentar o falecimento do líder Kim Jong Il em 17 de dezembro de 2011 quando  a Assembleia Suprema da República formada por 687 deputados, um por cada distrito do país, eleito a cada cinco anos por votação popular, decide, como última vontade e a seu pedido,  que o Marechal Kim Jong Un continuasse como representante da união entre o PTC e o povo. Então, ele é eleito como Primeiro Secretário do partido e em seguida como Chefe de Estado e comandante supremo do Exército Popular da Coreia na atualidade. Mas o Presidente da Repúblicas não é ele e sim o Presidente do Presidium da Assembleia Popular Suprema, Kim Yong Nam, que assina convênios e representa o país no exterior.

No entanto, qual é realmente o interesse dos EUA em provocar uma guerra com a RPD da Coreia se o comunismo já não está em expansão?

Há três fatores em ordem de importância: o primeiro e de maior importância é a posição geoestratégica. Quem controla a Coreia controla a região Ásia-Pacífico porque a península coreana é via de passagem e saída para o Oceano Pacífico dos gigantes China e Rússia. Os gasodutos que vêm da Rússia têm que passar pelo território coreano; os navios mercantes russos utilizam portos norte-coreanos no inverno quando seus portos estão congelados, além de ferrovias que são utilizadas para transportar mercadorias chinesas e russas para a Europa e Ásia. Sabemos que atualmente há uma disputa entre as grandes potências, principalmente entre China e EUA pelo controle dessa região. Essa é, então, a primeira razão pela qual os EUA querem controlar a Coreia do Norte.

A segunda razão seria pelo controle dos recursos naturais do país, já descritos acima, sobretudo das reservas de terras raras com metais estratégicos para a indústria de defesa e aero-espacial, já que seu valor em onças supera, inclusive, o do ouro e o da platina e, logicamente, são de interesse estratégico para os EUA, como é também o petróleo do pré-sal brasileiro e as maiores reservas de petróleo do mundo na vizinha República Bolivariana da Venezuela, hoje submetida também a um bloqueio financeiro e a uma guerra econômica, além de ameaças explícitas de intervenção militar do imperialismo ianque.

E o terceiro, embora aparentemente não seja de tanta importância, mas de fato é parte da agenda agressiva do imperialismo, é o de que se trata de um país socialista, governado por comunistas, um dos poucos que sobreviveram no mundo e membro do Movimento de Países Não-Alinhados. E, naturalmente, os EUA querem impedir que seu “mal exemplo” seja seguido por países em desenvolvimento do terceiro mundo, sobretudo da América Latina, considerada pela “Doutrina Monroe” (“América para os Americanos”) seu quintal.

Qual é a postura da RPD da Coreia sobre a reunificação do país?

Há contínuas conversações com a Coreia do Sul para se tentar chegar a um acordo e encontrar uma fórmula. Desde três de maio de 1972, o Presidente Kim Il Sung propõe um sistema confederativo cujas características são: reunificação sem interferência estrangeira, ou seja, a Coreia deve-se reunificar sem que outras potências se metam no meio; grande unidade nacional acima das diferenças ideológicas. Isso não significa que, apesar de ambos os estados possuírem sistemas políticos, sociais e econômicos antagônicos, não possam trabalhar juntos em muitos aspectos. Por exemplo, eu posso ter um amigo que não é comunista, mas isso não impede que possamos desenvolver um projeto conjunto; a reunificação pacífica sem a necessidade do uso das armas ou da pressão militar para a reunificação. Esse projeto de reunificação de 1972 finalmente é assinado pelo presidente sul-coreano Kim Dae Jung, Prêmio Nobel da Paz, já falecido. Em 15 de junho do ano 2000 é assinada a declaração conjunta por Kim Dae Jung e o líder Kim Jong Il. Essa postura pela reunificação é ratificada pelo presidente sul-coreano Roh Moo-hyun em 4 de outubro de 2007.

Os presidentes sucessores abandonaram e ignoraram os tratados assinados pelos dois antecessores até que se chegou à grave situação atual de tensões entre as duas coreias devido às manobras militares provocativas conjuntas dos EUA com a Coreia do Sul, a última das quais, denominada  de  Foal Eagle (água do potro), está sendo realizada neste momento, conta com 11.500 soldados estadunidenses e cerca de 300.000 soldados sul-coreanos e dura quatro semana, depois de adiadas durante mais de um mês devido à realização dos Jogos Olímpicos de Inverno e em um momento em que Pyongyang y Seúl rebaixaram suas tensões.

Diante desse quadro torna-se inevitável a pergunta: quem realmente deseja a paz e a reconciliação na Península Coreana?

Esta comunicação se baseia na minha própria experiência e na conferência de Alejandro Cao de Benòs, representante da RPDC para o Ocidente, dada na Universidade de Castellón (UJI) em  19/02/2015