sexta-feira, 12 de abril de 2013

Encenação e hipocrisia da mídia sobre a questão nuclear

Encenação e hipocrisia da mídia sobre a questão nuclear

Por José Reinaldo Carvalho

Camarada José Reinaldo Carvalho

As agências internacionais noticiaram nesta quarta-feira (10) e as redações que
trabalham pelo método “copia e cola” reproduziram com discrição nas suas páginas de internet, que o Paquistão anunciou ter testado "com sucesso" uma versão melhorada do míssil balístico Hatf IV, com alcance de 900 km e capacidade para levar ogivas nucleares.
De acordo com um comunicado oficial, o míssil atingiu as águas do Mar Arábico.
Segundo o comunicado, emitido também na quarta-feira pelas forças armadas paquistanesas, com essa versão que melhora "seu alcance e seus parâmetros técnicos", o Hatf IV "consolida a capacidade de dissuasão do Paquistão".
O teste paquistanês foi realizado apenas três dias depois de as Forças Armadas da Índia terem provado o míssil balístico terra-terra Agni II, com capacidade nuclear e alcance de mais de 2.000 km.
Como se sabe, Paquistão e Índia são países rivais que já travaram três guerras desde sua independência em 1947. Ambos os países possuem armas nucleares e intermitentemente a rivalidade torna-se aguda, levando instabilidade ao conjunto da região asiática, com graves repercussões na segurança internacional.
Nota bene: o argumento usado é o aperfeiçoamento tecnológico para fins de “dissuasão”, ou seja, defensivos. Nenhuma diferença da argumentação exaustivamente usada pela República Popular Democrática da Coreia em sua tentativa de justificar não somente as suas provas nucleares e com mísseis de lançamento, como os preparativos de guerra em curso na Península Coreana.
Observe-se que, independentemente da opinião que se tenha sobre o conflito da Península Coreana, a situação ali se afigura bem mais perigosa para a Coreia Popular do que para - ao menos momentaneamente - o conflito entre a Índia e o Paquistão.
Mais de uma vez por ano, a Coreia do Sul e os Estados Unidos realizam na península manobras militares conjuntas em que se mobilizam dezenas de milhares de soldados e armas sofisticadas, inclusive os bombardeiros B-52 e B-2, com capacidade nuclear. O território da Coreia do Sul é uma base militar dos Estados Unidos e do seu território estão apontadas para o Norte ogivas nucleares.
É preciso então esclarecer por que se admite a legitimidade do argumento dissuasório do Paquistão e da Índia e não o da República Popular Democrática da Coreia. O anúncio dos novos testes de mísseis na Ásia Central não mereceu críticas, nem campanhas alarmistas carregadas de conteúdo ideológico e interesse político, nem muito menos consta que esteja sendo redigido qualquer projeto de resolução na ONU para sancionar os mencionados países.
No Jornal Nacional da quarta-feira, a Rede Globo noticiou os testes do Paquistão e da Índia, com absoluta discrição, sem um ricto facial sequer que demonstrasse a mínima reação do apresentador, por vezes tão teatral quando convém buscar um efeito emocional para a notícia.
O que causou maior espécie, porém, foi o noticiário seguinte – que não alterou o meu humor após a convincente vitória corintiana minutos antes – ter dedicado alentado espaço para fazer uma mal ajambrada agitação política em torno de um manifesto de solidariedade ao povo coreano assinado por representações de partidos políticos e movimentos sociais no Distrito Federal, que teria sido, segundo o telejornal, motivo de crises e desmentidos entre partidos da esquerda brasileira.
No caso em tela, a Globo deu luzes, microfones e câmeras a parlamentares que, sem saber onde o galo cantava, e no afã de se distanciarem do aludido manifesto, deitaram falação sobre a paz mundial e a autodeterminação dos povos, sem mencionar que os fautores de guerra da época atual são as potências imperialistas, nomeadamente o imperialismo estadunidense e os seus aliados.
Por trás do dedo acusador da mídia às forças solidárias da luta anti-imperialista está um roteiro enganador e hipócrita, uma encenação que nos casos da ex-Iugoslávia, do Afeganistão, Iraque, Líbano, Palestina, Líbia, Mali e tantos outros não raro encobriu crimes de lesa-humanidade.
Combater esses crimes ou posar de inocentes úteis é uma escolha de trincheira em que lutar.