sábado, 10 de fevereiro de 2018

Joe Dresnok - a história do soldado norte-americano na Coreia Popular


Todos os dias, todas as semanas, todos os meses, somos bombardeados por informações que nos mostram supostas “fugas em massa” de países socialistas. Há 30 anos, ainda no auge da Guerra Fria, a propaganda anticomunista não poupava esforços: Fazia de tudo para mostrar o bloco socialista como um “inferno na Terra” do qual todos queriam fugir. Pois bem, mesmo depois de acabada a Guerra Fria e mesmo depois da queda URSS e do socialismo no Leste Europeu, a propaganda anticomunista promovida pelos meios de comunicação burgueses ainda persistem. Até hoje, faz parte do senso comum pequeno-burguês clichês como “Se Cuba é tão bom, por que todos fogem de lá?”, “Se o Socialismo é tão bom, por que não deu certo?”.

Tais clichês não resistem sequer à análise mais superficial, são fundamentos não em fatos concretos, mas sim em conteúdos completamente doutrinários e ideológicos, transmitidos também pelos meios de comunicação. Quem não se lembra da ridícula “reportagem” da Rede Globo ridicularizando a seleção norte-coreana com comentários preconceituosos e homofóbicos? Quem não se lembra da “fuga” dos quatro jogadores norte-coreanos, que em menos de setenta e duas horas depois foi desmentida pela própria Fifa? E o vídeo que vazou da Internet falando sobre a suposta “falsificação” do resultado do jogo de futebol entre o Brasil e a Coreia? Mesmo que estas mentiras tenham sido desmascaradas por nós mesmos aqui no Blog, o infeliz fato que devemos enfrentar é de que não existem forças contra-hegemônicas por parte da sociedade para fazerem frente a tais descompassos. Mesmo que nosso Blog tenha recebido mais de oitocentos visitantes, infinitamente maior é o número de pessoas que acessam o Youtube e assistem à Rede Globo.

O texto que será apresentado aqui por nós é daqueles do tipo que não aparecem nos meios de comunicação de massa como a Rede Globo ou a Veja. Esperamos que seja lido e que o leitor seja levado a refletir sobre certas “verdades absolutas” que aparecem constantemente nessas mesmas emissoras.


PEQUENA BIOGRAFIA DE JOE DRESNOK
James Joseph Dresnok (comumente conhecido como Joe Dresnok) nasceu em 1941 no estado da Virginia, nos Estados Unidos. É filho de Joseph Dresnok I (1917-1978) e teve um irmão chamado Joseph Dresnok II (1946-). Quando Joe Dresnok tinha apenas cinco anos de idade, a família se separou e o mesmo optou por viver com seu pai. Após a separação, mudou-se para a Pensilvania e perdeu contato com sua mãe e com seu irmão. Devido à má convivência com o pai, foi expulso de casa e depois se instalou num orfanato. Aos dezessete anos de idade, entra para o Exército. Logo após casar-se jovem com uma mulher norte-americana, é mandado para uma missão na Alemanha Ocidental durante dois anos.

Segundo seus comentários no documentário Crossing the Line, ele orgulha-se de ter amado-a e ter permanecido fiel a ela durante todo esse tempo. Porém, ao voltar para casa, descobre que sua esposa já estava em outro relacionamento. Frustrado, alista-se novamente no Exército e é mandado para a Coreia do Sul.

A FUGA
O que salta aos olhos, portanto, é a vida miserável vivida por Joe Dresnok nos Estados Unidos. Num país capitalista, órfão, sem os pais, sem uma família, sem amigos. Sua mulher o trai com outro homem após uma missão de dois anos na Alemanha Ocidental. Não havia nada que o pudesse motivar-lo a continuar vivendo nos Estados Unidos – “eu não tinha parentes, minha esposa me deixou, não havia nada que me trouxesse de volta para os EUA”, diz ele.

No dia em que o jovem soldado norte-americano desertou de sua base, ele iria sofrer sanções por parte do Tribunal Militar Norte-Americano por haver forjado a assinatura de um oficial com o intuito de se encontrar com uma mulher coreana com quem estava namorando. Seu superior disse que ele deveria vê-lo às três horas da tarde, e Dresnok “concordou”. Dentro desse contexto, sem qualquer outra decisão para tomar, com uma vida arrasada e sem quaisquer perspectivas, Joe Dresnok irá fugir para o único local que irá lhe oferecer uma perspectiva e um propósito de vida: A República Democrática Popular da Coreia. Dresnok toma em mãos uma escopeta e marcha para Zona Desmilitarizada da fronteira. Mesmo tendo que atravessar um campo minado, com o risco de perder uma perna ou um pé, Dresnok foge para a Coreia Socialista. “Tomei a decisão de cruzar a fronteira, estou caminhando para uma nova vida.”, diz ele.

Ao ver que Dresnok estava desertando, um soldado grita “Ei, Dresnok, alto!”. Então, Joe atira para cima para amedrontá-los. “Não me arrependo de tê-lo feito”, diz Dresnok.

Ao cruzar a fronteira, ele é capturado por um soldado do Exército Popular da Coreia, que a princípio quis matá-lo. Logo após o ocorrido, ele é levado para Pyongyang para ser interrogado, onde por sua vez será apresentado a Larry Abshier, um soldado norte-americano que havia desertado para a Coreia do Norte meses antes. Dentro de dezoito meses, dois membros do Exército dos Estados Unidos, o Sargento Robert Jenkins e o especialista Jerry Parrish, irão juntar-se a eles como os militares norte-americanos que desertaram da Coreia do Sul. O socialismo norte-coreano é posto ao teste e sua superioridade é provada.

 A VIDA NA COREIA SOCIALISTA
Durante sua curta estada em Pyongyang, o fato de ter sido apresentado a outros desertores norte-americanos na Coreia deixou Joe Dresnok bastante impressionado. “Eu não acreditei em mesmo, eu devia estar sonhando”, diz ele – De fato, os primeiros meses de Dresnok na Coreia do Norte não foram fáceis. “Roupas diferentes, uma ideologia diferente, uma forma ruim de as pessoas olharem para mim quando eu andava pela rua – ‘Ah, olhe lá aquele canalha norte-americano!’. Eu não queria ficar, eu não achava que poderia me adaptar”.

Depois de quatro anos no país, os soldados não conseguiam se adaptar. Tentaram ir à embaixada soviética para saírem da Coreia como exilados políticos. Porém, como haviam pertencido ao exército norte-americano, que já houvera cometido atrocidades históricas na península coreana, foi-lhes negada a saída do país.

Houve um consenso entre o governo de tentar de forma firme reeducá-los para que se adaptassem à vida socialista. Joe Dresnok, por sua vez, conformou-se com a situação e decidiu dedicar-se para se tornar um genuíno cidadão norte-coreano. “Pode ser uma ideologia diferente, pode haver costumes diferentes. Mas, cacete, irei trabalhar duro e irei aprender o modo de vida deles” – ele prossegue – “eu fiz tudo o que pude, aprender o idioma, conhecer as roupas que usavam, conhecer suas saudações, suas vidas... Eu tenho que pensar assim, agir assim... Estudei a sua história revolucionária, suas grandes virtudes, li sobre o Grande Líder. Pouco a pouco, comecei a compreender o grande povo que eram”, comenta Dresnok. De fato, mesmo que a passos lentos, os coreanos começaram a aceitar os norte-americanos, principalmente quando esses mesmos norte-americanos começaram a estrear em filmes revolucionários que fizeram grande sucesso no Norte. Em sua primeira atuação, em 1978, Dresnok interpretou o vilão brutal comandante norte-americano na Guerra da Coreia. “Não o considerei um filme de cunho propagandístico. Ao contrário, tive grande honra em atuar nele”, diz Joe. “Esta foi a forma de ele encontrar a ‘salvação’ na Coreia do Norte. Ele interpretou o papel do norte-americano malvado”, comenta um dos diretores do documentário Crossing the Line.

Dresnok gostou de ter se tornado uma celebridade. Além de ter estreado em dezenas de filmes produzido na Coreia, traduziu várias obras de Kim Il Sung para o inglês e, da mesma forma, ensina inglês em escolas do país. “Ensinei numa escola de línguas estrangeiras em 1986, usei todo meu conhecimento e meu esforço para ajudá-los, para ensiná-los. Vários campos educacionais, atualmente, chamam-me constantemente para dar palestra ou coisas do tipo”, diz Dresnok.

Na Coreia Socialista, Dresnok finalmente conseguiu aquilo que ele nunca teve nos Estados Unidos: Uma família de verdade. Ele casou-se com uma mulher da Europa Oriental e teve dois filhos, mas sua esposa morreu jovem. Depois se casou com uma mulher filha de uma coreana com um diplomata africano, mulher esta com quem também teve um filho. Os diretores do documentário Crossing the Line entrevistaram o filho mais velho de Dresnok, James, que atualmente estuda no Centro de Línguas Estrangeiras de Pyongyang. “Meu pai é norte-americano e eu tenho sangue norte-americano. Porém, como eu nasci aqui, eu me considero coreano” – e James continua – “eu comecei a aprender inglês para me tornar um diplomata [...] eu gostaria que existisse um mundo em que não houvesse guerras”.

VALEU A PENA?
Após 48 anos vivendo na Coreia Popular, num país socialista, Joe Dresnok faz o balanço de sua vida desde que entrou – não inicialmente com boas vindas – na Pátria de Kim Il Sung. Ele descreve-se como um cidadão de Pyongyang. “Eu não me considero um traidor dos Estados Unidos. Amo meu país, amo minha cidade. Em seus ensinamentos, Kim Il Sung escreveu que aqueles que amam seu país e sua terra podem se tornar comunistas. Ainda não sou um comunista, mas gostaria de me tornar um. [...] Eu digo que a Coreia é meu país porque estou aqui há 46 anos (no caso, Dresnok fazia tal comentário em 2008). Minha vida é aqui. Será que isso não basta?”. Ao ser questionado se gostaria de voltar aos EUA, diz: “Eu digo a você que sim, serei honesto com você. Eu gostaria de ver como anda o lugar. Mas como posso ir lá e fazer palhaçadas em frente ao governo norte-americano, que está armando a Coreia do Sul até os dentes?” – e, mais frente, continua – “eu quero que meus filhos tornem-se algo além de um homem alfabetizado [...] para ser honesto, minhas pernas estão tremendo. Nunca imaginei que algum dia na minha vida eu seria ator. [...] O Querido Líder Kim Jong Il cuida de mim, é um grande homem. Você sabia que a saúde é de graça na RDPC?”

No mais, os dias de Joe Dresnok ocorrem num estilo “carpe diem”: Pescando, fumando e bebendo. O governo dispõe a ele um pequeno apartamento no centro de Pyongyang. Referindo-se à crise alimentar pela qual passou ao país em meados dos anos 90 em razão da queda do bloco socialista em grande parte do mundo, ele diz: “Quando como meu prato de arroz, penso nas pessoas que morreram, que passaram fome até morrerem. Mas, ainda assim, me deram comida. Por que, enquanto milhares de pessoas morreram de fome, eles alimentam um norte-americano?”. Quarenta e oito anos depois da deserção, Dresnok não se arrepende de ter cruzado o campo minado e de ter ido para o desconhecido. “Sinto-me em casa, realmente sinto-me em casa”.

“Não tenho a intenção de sair do país por quaisquer motivos, nem se me oferecessem um bilhão de dólares eu sairia”, finaliza ele.

Blog Solidariedade à Coreia Popular