No dia 12
de abril de 2017 o Centro de Estudos da Ideia Juche do Brasil enviou uma
delegação composta de dois representantes à Pyongyang, capital da República
Popular Democrática da Coreia. A delegação estava formada por Gabriel Gonçalves
Martinez, Presidente do Centro de Estudos da Ideia Juche e Guilherme Carvalho,
membro do respectivo do Centro. Os dois membros da delegação também são
militantes da União Reconstrução Comunista.
O trem
número K27, que cumpre o trajeto de Beijing até Pyongyang, saiu da Estação
Central de Beijing às 17:20 em ponto. A composição do trem era divida entre
vagões chineses e norte-coreanos. A maioria dos passageiros chineses, desciam
nas estações anteriores a cidade de Dangong, que faz fronteira com a RPDC. Em
nosso vagão, havia norte-coreanos e algumas delegações estrangeiras que estavam
indo para a RPDC participar das comemorações do 105º aniversário do Presidente
Kim Il Sung. A duração total da viagem é de aproximadamente vinte e seis horas,
com diversas paradas curtas na China e já dentro do território da RPDC. A
parada mais demorada se dá em Dangong, pois todos os passageiros precisam sair
do trem para passar pelo processo de imigração. Depois, já em Sinuiju, também é
necessário fazer outra parada, onde os oficiais norte-coreanos fazem uma
inspeção do trem e checam nossas documentações, como visto e passaporte. A
viagem, apesar de longa, é bastante tranquila, com cabines confortáveis,
serviço de bordo, restaurante, banheiro, etc. A passagem do território chinês
para o território norte-coreano se dá por meio da Ponte de Amizade
China-Coreia, que atravessa o Rio Yalu (Amrok). Esta ponte é considerada um
símbolo histórico da amizade entre o povo chinês e o povo coreano, que lutaram
juntos na Guerra da Libertação da Pátria (Guerra da Coreia).
Ao
chegarmos em território norte-coreano é possível observar as diferenças
gritantes que existem entre China e RPDC. Dandong é uma cidade relativamente
grande, com diversas construções modernas, arranha-céus, parecida com outras
grandes cidades chinesas. Já Sinuiju, é uma cidade bem menor, com um forte
aspecto de cidade industrial. É possível observar em Sinuiju a tentativa por
parte do governo em reformar os estabelecimentos públicos, ao mesmo tempo que é
possível também observar o aspecto obsoleto de algumas instalações industriais.
No entanto,
ao avançar dentro da cidade, se vê diversos tipos de conjuntos habitacionais,
centros culturais, museus, escolas e depósitos industriais. Como qualquer outra
cidade da RPDC, para onde quer que se olhe é possível ver cartazes de
propaganda revolucionária exaltando o Partido do Trabalho da Coreia, a Comissão
Nacional de Defesa, as liderenças revolucionárias e a ideologia do que os
coreanos chamam de Kimilsunismo-Kimjongilismo. Ainda dentro da cidade, vê-se
plantações e instalações agrícolas. O que salta aos olhos é a maneira como os
coreanos aproveitam cada palmo de terra para plantação. O espaço do campo é
aproveitado entre as estruturas de plantação, a irrigação e a própria linha ferroviária
encarregada de escoar a produção agrícola. Observamos que os camponeses ainda
estavam preparando a terra para a plantação. Utilizavam formas rudimentares de
arado, como o arado a boi, mesclado com a utilização de alguns tratores. Algo
que chamou bastante foi de que praticamente todo o trajeto pelo interior da
RPDC era destinado à produção agrícola. Se via extensões gigantescas de terra,
sem cercas, onde os camponeses trabalham de forma coletivizada, preparando a
terra para o período de plantio. Ao redor do campo vimos alguns vilarejos,
compostos de pequenas casas, algumas em estado deteriorado e outras sendo
reformadas. De qualquer forma, apesar de ser visível a dificuldade que os
coreanos enfrentam para superar os problemas na agricultura, não vimos miséria
extrema e muito menos pessoas morrendo de fome nas beiras do trilho do trem.
Ao
terminarmos o trajeto no interior do país, chegamos em uma região mais
urbanizada, mas que ainda assim possuía um certo aspecto rural, já próximo da cidade
de Pyongyang. Chegando em Pyongyang é possível observar a diferença que existe
entre a cidade e o campo na RPDC. Pyongyang é uma cidade belíssima, com infraestrutura
em crescente processo de modernização. Se vê um número grande de prédios com
apartamentos populares, ruas asfaltadas, maior tráfego de automóveis, parques,
aeroporto, instalações militares, hospitais e grandes avenidas. É uma cidade
relativamente grande, que não deve nada a muitas cidades de países
capitalistas, com a diferença de que ela é mais bonita, planejada e organizada.
Ao
chegarmos na estação de trem de Pyongyang, fomos recebidos pelo nosso guia,
Paek Tae Bong. Paek aprendeu a falar espanhol em Cuba, país onde viveu por 4
anos, mas nos contou que estava praticamente há 15 anos sem praticar o idioma.
Isso não nos impediu que nos comunicássemos perfeitamente, pois o seu nível de
espanhol era realmente bom. Ele também nos contou que aquela era a sua primeira
vez que estava trabalhando como guia para uma delegação estrangeira, confessando-nos
que estava um pouco nervoso. Da estação de trem nos dirigimos para o Hotel
Koryo, lugar que iríamos ficar durante os próximos sete dias e onde a maioria
das delegações estrangeiras de grupos de estudo da ideia Juche estavam
hospedadas. No caminho até o Hotel, vimos uma van com uma equipe da brigada de
agitação do Partido do Trabalho da Coreia, onde uma companheira coreana lia
mensagens no sistema de som da van, exortando para que o povo seguisse as
orientações do Partido contra as manobras do imperialismo norte-americano e se
preparasse para as comemorações do aniversário de Kim Il Sung.
Chegando no
Hotel Koryo, encontramos companheiros de outras delegações e depois nos
dirigimos para o nosso quarto. Ficamos hospedados em um quarto no 33º andar, um
dos últimos andares do hotel. Neste dia não tivemos nenhuma atividade especial
e aproveitamos o resto da noite para descansar da longa viagem que fizemos e
nos preparamos para o dia seguinte.
No outro
dia, logo pela manhã, nos dirigimos ao Palácio de Cultura do Povo, onde
participamos do Seminário Internacional da Ideia Juche e camaradas de diversos
centros de estudos da Ideia Juche do mundo, bem como membros da Academia
Coreana de Cientistas Sociais, fizeram os seus discursos falando sobre a
importância da ideia Juche e os desdobramentos da luta anti-imperialista no
mundo. Foi uma importante ocasião para debatermos as experiências de cada grupo
de estudos e traçarmos linhas de atuação comum para o próximo período. Ainda no
dia 14, pela tarde, fomos ao Centro de Exposições de Pyongyang para
participarmos da tradicional exposição das flores Kimilsungia. A Kimilsungia é
um tipo de orquídea que recebeu este nome por iniciativa de Sukarno,
ex-presidente da Indonésia, que presenteou Kim Il Sung com esta flor quando o
Presidente da RPDC visitou o país. No pavilhão da exposição era possível ver
diversos arranjos florais enviados por fábricas, empresas, instituições
culturais, escolas e universidades de toda a RPDC. Depois, ao voltarmos para o
Hotel, participamos de um banquete em homenagem ao aniversário do Presidente
Kim Il Sung, que contou com a presença de Kim Ki Nam, Vice-Presidente do Comitê
Central do Partido do Trabalho da Coreia e da Associação de Cientistas Sociais
da Coreia. Kim Ki Nam é um dos dirigentes mais importantes do Partido e do
governo da RPDC. Ainda durante o banquete, foi confirmado pelos diretores da
Associação Coreana de Cientistas Sociais, que no próximo dia, pela manhã,
participaríamos do aguardado desfile militar na Praça Kim Il Sung.
No dia
seguinte, todas as delegações estrangeiras se dirigiram para a Praça Kim Il
Sung para assistir ao desfile. É importante ressaltar que o desfile foi
realizado em meio ao agravamento da tensão militar entre a RPDC e os Estados
Unidos. A imprensa ocidental, em seu alarde típico, previa um ataque preventivo
iminente à RPDC, por parte dos Estados Unidos, da mesma maneira que este tinha
feito na Síria alguns dias antes. Durante o desfile, pudemos presenciar com
nossos próprios olhos o poderio do Exército Popular Coreano e a unidade do povo
entornam da direção do Partido e de Kim Jong Un. Durante aproximadamente duas
horas, diversas unidades do Exército desfilaram pela praça. Depois do desfile
militar, houve um gigantesco desfile de massas, que contou com a presença de
inúmeros destacamentos de trabalhadores das mais diversas áreas, como
operários, camponeses, estudantes, cientistas, esportistas, que carregavam
estandartes que correspondiam as palavras de ordem emanadas pelo 7º Congresso
do Partido do Trabalho da Coreia, realizado em 2016. Um dos momentos altos do
desfile foi o aparecimento de Kim Jong Un na tribuna, saudando as delegações
estrangeiras que assistiam ao desfile. Na parte da tarde, visitamos o Palácio
do Sol, lugar onde repousam os corpos de Kim Il Sung e Kim Jong Il. No palácio,
há diversas galerias que exibem medalhas, prêmios e presentes dados para os
dois dirigentes, por organizações políticas, governos, empresas e
personalidades de diversos países. Também pudemos um painel que mostra os
lugares que ambos dirigentes visitaram durante suas vidas.
Pela noite, retornamos a Praça Kim Il Sung
para participarmos do espetáculo cultural artístico de massas. Neste espetáculo
houve apresentações de música e dança, executadas por grupos de estudantes das
várias universidades da RPDC.
No dia 16
pela manhã, visitamos a região de Mangyongdae e a casa onde nasceu Kim Il Sung.
Mangyongdae é um lugar muito visitado pelos norte-coreanos, pois é considerado
o berço da revolução coreana. Nesta casa, Kim Il Sung viveu junto com seus pais, avós e primos. A casa ficava dentro de uma
fazenda de propriedade de um latifundiário. A família de Kim Il Sung era uma
família de camponeses pobres que arrendavam a terra para poder viver e
trabalhar. Aos 13 anos, Kim Il Sung sai de Mangyongdae e se dirige à China, para
estudar e militar pela independência de seu país contra o domínio colonial
japonês. Na antiga casa de Kim Il Sung podemos ver os instrumentos de trabalho
utilizado por sua família, bem como outros tipos de utensílios domésticos.
Depois de
visitarmos Mangyongdae, as delegações estrangeiras se dirigiram novamente ao Palácio
de Cultura do Povo, onde foi realizado o segundo dia de atividades do Seminário
Internacional da Ideia Juche. Neste dia outros delegados estrangeiros fizeram
suas exposições, descrevendo suas experiências no trabalho de divulgação da
ideia Juche em seus respectivos países. Entre os delegados, havia
representações da Rússia, Espanha, Inglaterra, Índia, Nepal, Paquistão, Japão,
México, etc. Após o seminário, ao final do dia, fomos às estátuas de Kim Il
Sung e Kim Jong Il, localizadas ao pé da colina Moran, para fazermos uma
oferenda de flores em memória dos dois dirigentes máximos da Revolução Coreana.
O dia 17 de
abril teve um caráter mais recreativo. Foi um dia de confraternização entre as
delegações e os diretores e acadêmicos da Academia Coreana de Cientistas
Sociais. Participamos de atividades esportivas e desfrutamos de um almoço com
churrasco ao estilo coreano. A atividade foi realizada nos arredores do Estádio
Primeiro de Maio, o maior estádio do mundo. Durante a confraternização,
realizada dentro de um campo de futebol, cada delegação teve que preparar uma
canção do seu país e uma canção coreana. De nossa parte, cantamos a canção
coreana Vamos defender o Socialismo!,
que apareceu pela primeira vez na RPDC durante a chamada Árdua Marcha, período
onde a Coreia enfrentou uma grave crise, decorrente do desaparecimento da União
Soviética e dos países do Leste Europeu, ao mesmo tempo em que enfrentava
severos desastres naturais que prejudicaram enormemente a economia do país.
O dia 18
amanheceu chuvoso e com fortes ventos. Mesmo assim, não podíamos cancelar
nossas atividades diárias. Para este dia, estava programada uma visita ao
gigantesco Museu da Guerra de Libertação da Pátria, que mostra a história de
luta do povo coreano contra a agressão japonesa e principalmente
norte-americana. O museu conta com diversas galerias que apresentam as várias
etapas da luta do povo coreano contra o imperialismo. É possível ver diversos
aviões, helicópteros, tanques, mísseis submarinos capturados pelo Exército
Popular Coreano durante a guerra. Chama à atenção o barco norte-americano USS
Pueblo, capturado em 23 de janeiro de 1969, durante uma tentativa de incursão
do exército imperialista norte-americano em águas territoriais da RPDC. Este
navio é exibido como um troféu de guerra. Dentro dele pudemos ver diversos
equipamentos de espionagem utilizados pelo exército imperialista. Foram
capturados pelo Exército Popular Coreano 83 membros da tripulação, entre eles
seis oficiais, sendo um deles morto no conflito da captura. O USS Pueblo era um
navio de espionagem, dedicado a obter informações de inteligência para o
exército estadunidense. Ao entrarmos no museu nos apresentaram um pequeno
documentário sobre os antecedentes históricos da Guerra da Coreia. Também
pudemos ver uma galeria dedicada aos lutadores internacionais que participaram
na luta de libertação da Coreia, entre eles soldados e oficiais soviéticos e
chineses.
Após a visita
ao Museu de Guerra de Libertação da Pátria, nos dirigimos ao Grande Palácio de
Estudos do Povo. Esta enorme construção foi inaugurada em abril de 1982, para
comemorar o 70º aniversário de Kim Il Sung. Esta biblioteca é considerada como
o centro nacional para o estudo da ideia Juche e foi construída pelo governo da
RPDC como uma forma de incentivar a intelectualização de toda a sociedade. A
biblioteca conta com salas de computação, aprendizagem de línguas estrangeiras,
literatura revolucionária, literatura estrangeira, música e conta com um acervo
de mais de 30 milhões de livros. Também assistimos dois documentários sobre a
atuação do Partido do Trabalho da Coreia, produzido pela Academia Coreana de
Cientistas Sociais e participamos de um ato de lançamento do livro de um
camarada nepalês, membro da Associação Nepalesa de Jornalistas Amigos da RPDC e
do Partido Comunista do Nepal – Maoísta.
A última
atividade do dia foi a visita do Movimento da Juventude. Neste museu recém-reformado,
pudemos ver toda a trajetória dos movimentos revolucionários da juventude
coreana, desde o período da fundação de organizações como a União para Derrotar
o Imperialismo, a União da Juventude Anti-Imperialista e a União da Juventude
Comunista. O museu também apresenta a atividade de Kim Il Sung, Kim Jong Il e
Kim Jong Un, no processo de liderança do movimento revolucionário da juventude
já no período de construção da sociedade socialista.
Na manhã do
dia 19, visitamos o Complexo de Ciência e Tecnologia, uma gigantesca construção
que visa ser um centro de difusão de conhecimento científico básico. O complexo
conta com uma imensa livraria eletrônica, onde os visitantes e usuários dos
computadores podem acessar o banco de dados dos principais centros educacionais
de nível superior do país, assim como submeter artigos e trabalhos online por
meio da rede intranet. Algumas salas são dedicadas para usuários portadores de
necessidades especiais. Tivemos oportunidade de ver uma sala equipada com
computadores com teclado especial e impressoras em Braille. Os usuários do
complexo também podem ter aulas com importantes professores universitários. Há
um espaço dedicado às crianças chamado Salão dos Sonhos das Crianças, onde elas
podem interagir com diversos experimentos científicos, como o funcionamento da
órbita dos planetas, a composição geográfica da Coreia, força cinética, etc.
Após a
visita ao Complexo de Ciência e Tecnologia nos dirigimos ao novo Hospital
Infantil Okryu. O hospital está localizado na região de Munsu e conta com uma
moderna estrutura hospitalar, onde as crianças realizam todos os tipos de
exames e medicina preventiva. Como em todos os hospitais da Coreia, também no
Hospital Infantil de Okryu, as crianças e as famílias que usam o hospital não
arcam com nenhum custo financeiro para utilizá-lo. Dentro do hospital, fomos
convidados por repórteres da Rádio Voz da Coreia para concedermos uma
entrevista relatando nossas impressões da visita à RPDC. Na ocasião, tivemos
oportunidade de denunciarmos as manobras do imperialismo estadunidense, bem
como demonstrar nosso completo apoio a causa de construção do socialismo na
Coreia.
Por fim,
nossa última visita oficial na RPDC foi à ida ao recém-reformado Zoológico
Central de Pyongyang. Para chegarmos nele, passamos pela Avenida Mirae,
inaugurada em Novembro de 2015. Esta rua possui seis faixas e conta com
diversos prédios modernos e apartamentos para os cientistas e funcionários da
Universidade Kim Chaek. Também tivemos a oportunidade de ver a recém-inaugurado
bairro de Ryomyong. A nova região conta com mais de 40 novos condomínios, sendo
33 deles reformados. Além disso, ainda conta com 36 áreas públicas, como
parques, lojas, restaurantes, bares; 6 escolas, 3 jardins de infância e 3
creches.
Considerações
finais
Visitar a
República Popular Democrática da Coreia consiste em uma experiência única para
qualquer pessoa. Em nossa opinião, o que podemos observar é que o povo coreano
segue em seu caminho de construção da sociedade socialista. Evidente que, como
todo processo, também este não está isento de suas contradições, o que não
inválida a experiência de construção socialista em sua totalidade, como querem
os liberais e revisionistas, que clamam para que os norte-coreanos sigam o
chamado caminho das “reformas”, a exemplo de alguns países que se dizem
socialistas. A economia da RPDC segue sendo formada por dois setores básicos,
que são o setor estatal de todo o povo e o setor cooperativo. O governo da RPDC
busca promover o desenvolvimento da economia, sem sacrificar os fundamentos
básicos de que devem reger qualquer economia socialista. Ao invés de apontarem
para uma suposta necessidade de se “abrir para o mundo exterior” e para o
mercado (leia-se, restaurar o capitalismo), a linha atual dá ênfase a
necessidade do país caminha sobre suas próprias pernas, aplicando o que eles
sempre defenderam como ideia Juche, uma ideia que se apoia no conceito de
soberania, independência e autossuficiência. Dada as circunstâncias onde a RPDC
não pode contar com ajuda externa e devido a um criminoso bloqueio econômico
contra o país (agora aplicado até por supostos aliados).
No aspecto
das relações sociais e humanas, também vemos que na RPDC a materialização dos
valores básicos do coletivismo e do humanismo são postos em prática. Ainda que
existam fortes resquícios da velha sociedade, o que é normal em um país com
pesada herança e tradição feudal e cercado pelo mundo imperialista, é visível a
construção de uma sociedade que se baseia em valores qualitativamente
superiores aos valores vigentes nas sociedades burguesas. O individualismo, por
exemplo, longe de ser apresentado como uma condição natural e inexorável do
comportamento e da natureza humana, é apresentado pelo povo coreano como algo a
ser superado, e no lugar, construir uma sociedade coletivista onde as relações
humanas não se guiam apenas pelos aspectos financeiros, mas por valores como o
do companheirismo, solidariedade, que é resumido no princípio de “um por todos
e todos por um”. Ou seja, o que sabe mais, ajuda o que sabe menos, e o mais
experiente, ajuda o menos experiente. Ao contrário do capitalismo, onde os
homens se digladiam em busca de conquistas mesquinhas e vazias e onde não há
lugar para todos.
A
construção da sociedade socialista é uma tarefa complexa. O povo que se engaja
neste caminho, enfrentará inevitavelmente todos os tipos de provocações,
ataques e manobras de desestabilização política e ideológica por parte do
imperialismo. Sem uma correta direção revolucionária, que aponte para as massas
o correto caminho a ser seguido, é impossível que uma revolução se defenda e
triunfe. A República Popular Democrática da Coreia, apesar de ser um pequeno
país asiático, mostra ao mundo que o socialismo libera aquilo que existe de
mais avançado no interior de cada povo e cada cultura. Mesmo um pequeno país
tem muito ao que ensinar aos povos do mundo. Nesse sentido, é fundamental que
ao analisarmos a experiência de construção do socialismo na Coreia, nos
distanciemos de certos preconceitos inculcados na mente de muitas pessoas,
mesmo algumas que se consideram de esquerda. A situação de isolamento, bloqueio
e provocações vividas pelo povo coreano, nos faz sermos mais tolerantes com os
seus eventuais erros ou medidas que podem ser consideradas “polêmicas”.
Construir o
socialismo nas condições em que os coreanos se encontram, não é algo simples.
Que a RPDC ainda exista como país socialista e independente, que defende a
bandeira vermelha revolucionária, já é um fato que por si só é extremamente
positivo, e que deveria atrair a simpatia e a solidariedade de todos aqueles
que se dizem ao menos anti-imperialistas. Por isso, não colocamos “poréns” na
defesa que fazemos do país. Na luta real contra o imperialismo, não existe
espaço para vacilações, principalmente quando essas vacilações são frutos das
pressões ideológicas do imperialismo, que a todo o momento tenta pautar o que
nós, os comunistas e revolucionários, devemos considerar como correto ou não.
Esperamos
que o nosso relato de viagem sirva como um estímulo para que mais companheiros
se interessem em conhecer a realidade e a história da RPDC, rompendo com a rede
de difamações e mentiras levantadas pelo imperialismo e os meios de comunicação
que atuam ao seu serviço.
Pequim, 02
de Maio de 2017.